Esporte

CBF não foi proativa e escândalo pode ser o maior do futebol, diz relator da CPI

MP-GO/Divulgação
Diligência do Gaeco em Goiânia no âmbito da Operação Penalidade Máxima

Colaborou: João Gabriel, Danielle Brant e Ranier Bragon

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não foi proativa para coibir manipulações de resultados de jogos de futebol e o escândalo pode ser o maior da história do esporte no País, afirmou à reportagem o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE).

A comissão foi instalada na última quarta-feira (17) e, inicialmente, vai investigar a possível manipulação de resultados de partidas de futebol. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) deflagrou duas fases da Operação Penalidade Máxima, que já tem 25 réus, sendo 15 jogadores, após dois processos.

Líder do maior bloco parlamentar da Câmara, Felipe Carreras foi indicado pelo presidente da comissão, deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), para relatar a CPI.

"Se você tem uma ferramenta tecnológica que consegue observar indícios de manipulação de resultado, se essa empresa que tem expertise internacional fornece essa informação e você não tem uma atitude proativa de tentar dar um remédio, a gente precisa entender por que não foi feito", afirmou.

"Porque os movimentos que eu acompanhei na imprensa da entidade máxima do futebol brasileiro foram depois do Ministério Público de Goiás", complementou. "Mas essa informação a gente precisa entender desde quando eles tinham."

Como a Folha de S. Paulo mostrou, em fevereiro de 2022 a CBF ampliou o contrato com a Sportradar, empresa internacional de tecnologia esportiva, para monitorar as apostas feitas em partidas nacionais.

A reportagem entrou em contato com a companhia e com a confederação para entender por que não foram reportadas apostas de altos valores em cartões amarelos, vermelhos e pênaltis. Questionou também se a confederação foi informada a respeito da detecção de qualquer problema.

A Sportradar respondeu que, "por conta do contrato de confidencialidade com as entidades e empresas parceiras, dados específicos de jogos, ligas e atletas não são divulgados, até porque, se uma investigação é aberta, as informações ficam sob segredo de Justiça".

A CBF disse que não comenta "sobre a metodologia utilizada pela Sportradar". A confederação sugeriu que a empresa fosse procurada para questionamentos.

A operação Penalidade Máxima, que investiga grupo que fraudava apostas esportivas em jogos do Campeonato Brasileiro nas séries A e B de 2022 e em estaduais de 2023, já teve duas fases, em fevereiro e em abril.

Nas mensagens trocadas entre operadores do esquema obtidas pelo Ministério Público, foram identificadas citações a mais de 50 jogadores. Atualmente, 15 já foram formalmente denunciados e viraram réus.

As investigações agora tentam identificar se há mais integrantes na suposta quadrilha e também se houve crime de lavagem de dinheiro com o que valor obtido nas apostas manipuladas.

Para o relator, a CBF é um dos atores que devem ser ouvidos durante os trabalhos da comissão, que terá 34 titulares e o mesmo número de suplentes. Ele também defende ouvir dirigentes de clubes, federações estaduais e associações que reúnem as empresas de apostas esportivas, além dos próprios operadores do esquema.

"A gente tem ouvido já de vários estados com uma série de informações a prestar que isso vai muito mais longe, isso vai a muito mais competições e está enraizado", disse. Segundo ele, há relatos de jogos também da Série C em que teria havido manipulação de resultado.

"Imagine um atleta que ganha um salário mínimo [R$ 1.320], R$ 2.000, R$ 3.000, R$ 5.000, e recebe a proposta para [provocar] uma expulsão ou um pênalti e receber R$ 10.000 numa partida. Imagine o poder de sedução para entrar na criminalidade que existe para esse tipo de jogador em competições que não têm visibilidade nenhuma, não têm transmissão na televisão, não têm nada", observou.

O relator avalia que as investigações comprometem a credibilidade do esporte no país. "Acho que a crise já existe. Acho que é o maior escândalo da história do futebol brasileiro", afirmou. "Dizer que a gente possa ter algo similar ao que teve na Itália são interrogações que só a CPI e as investigações vão apontar no final. Mas o futebol brasileiro está doente."

Em 2006, na Itália, gravações do então presidente da Juventus, Luciano Moggi, foram divulgadas, comprovando a tentativa de escolher árbitros para manipular resultados. Outros clubes também estavam envolvidos.

Como resultado, a Juventus teve os títulos italianos de 2005 e 2006 cassados e foi rebaixada para a segunda divisão. Outros quatro times perderam pontos no ano seguinte. O presidente da Juventus foi suspenso por cinco anos do futebol.

Na CPI, Carreras quer que o Ministério Público de Goiás seja convidado para falar sobre o caso. Além disso, propõe visitar o Ministério da Justiça para pedir suporte de um delegado ou delegada da Polícia Federal.

"Ao ministro [da Fazenda, Fernando] Haddad, a gente vai pedir celeridade na questão da regulamentação da atividade. O ideal é que já exista essa regulamentação e o envio da medida provisória ou do projeto de lei para o Congresso para que, no rito da própria CPI, seja possível aperfeiçoar a lei na Câmara e no Senado", acrescentou.

O governo prepara uma proposta de regulamentação do setor. Uma primeira versão já saiu do Ministério da Fazenda e agora está em debate em outras pastas.

Entre as regras planejadas pelo governo está vetar a participação direta ou indireta nas apostas de atletas, dirigentes e quaisquer outras pessoas que possam interferir no resultado.

Carreras, por fim, afirmou que pode haver esquema de manipulação de jogos em outros esportes. "Eu acho que, na orientação, quando concluir nossos trabalhos na CPI, a gente vai querer produzir um relatório que aponte para uma nova lei para o esporte geral, porque você tem basquete, vôlei... Pode estar tendo manipulação de resultados nessas competições, nessas modalidades."

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