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Folias de Goiás voltam a ser realizadas após hiato de dois anos

Diomício Gomes / O Popular
Resolvi montar as aulas de folia porque percebo que é uma tradição que está acabando por Goiás” Miguel Prudêncio Vilela

Fé e devoção são os dois sentimentos que a foliã Divina Delfina Brito, 59, carrega ao longo do período das festividades da Folia de Reis. Tradição que herdou do pai, desde criança a goiana se veste com as cores da folia, embutida de bandeira, violão e do gogó para atuar em giros, cortejos e paradas por Goiânia e cidades do interior. As folias de Goiás, tradição secular que pulsa de norte a sul do Estado, voltam a ser realizadas após hiato de dois anos por conta da pandemia.

A Folia de Reis é marco da cultura popular e representa a religiosidade e fervor que aquece o período entre o Natal e o dia 6 de janeiro, intitulado como o Dia dos Santos Reis. Os cortejos religiosos e populares reproduzem a viagem de Baltazar, Belchior e Gaspar para adorar o menino Jesus na manjedoura. “É uma forma de agradecer e manter um legado que faz parte da história de muitos”, argumenta Divina.

As lembranças do avô nas rodas de catira e do pai, violeiro, ainda pairam na memória de Divina, que só nas últimas duas semanas já visitou mais de 30 grupos de folia. Neste sábado (7), a goiana participa da folia na Catedral Metropolitana de Goiânia, no Centro. “É o momento de retomada depois da pandemia, que deixou muita folia sem seus músicos e foliões. A Covid-19 levou muitas pessoas que participavam dos giros. Visitei muitos grupos que estão desfalcados”, revela.

O retorno às tradições das folias é motivo de comemoração para os mais de 20 grupos de Goiânia que têm feito as famosas giras, termo usado para designar as andanças de casa em casa. Canções e danças populares, bandeiras, máscaras, vestimentas e adornos especiais e rezas específicas colorem os dias de festejos.

Divina já se prepara para colaborar com o tradicional Encontro de Foliões da capital, que anualmente acontece na Praça da Matriz, em Campinas. O evento, realizado pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia), reúne cerca de 40 grupos de foliões e mais de 5 mil pessoas. Nos últimos dois anos, o projeto não ocorreu por conta das medidas sanitárias.

“A folia é uma história perpetuada de geração em geração, na qual se preserva a tradição do homem do campo, a culinária típica, os cânticos e músicas de folia”, adianta o secretário de Cultura, Zander Fábio. O Encontro de Foliões chega à 20ª edição no dia 29 de janeiro, com programação especial na Igreja Matriz de Campinas com grupos de folia de todo o Estado. Neste ano, o evento chega com o tema O Rosário - A Mãe Acolhe Seus Filhos.

Quem agradece o retorno do encontro é o folião Miguel Prudêncio Vilela, 69, que participa e promove folias há mais de 50 anos. Desde o Natal que ele está em giro por diversos bairros de Goiânia. Morador do Recanto das Minas Gerais, bairro do extremo leste da capital, o violeiro dá aulas de folia todos os sábados, às 15 horas, para crianças e adultos. Tem de tudo por lá: desde ensinamentos de canto, violão, sanfona, caixa, pandeiro e viola, até aulas de modas de viola, catira e outras danças típicas.

“Resolvi montar as aulas de folia porque percebo que é uma tradição que está acabando por Goiás. É nosso papel fazer com que essa tradição seja passada para frente”, alerta Miguel, que montou na própria casa um galpão para os ensinamentos. “Pouco a pouco aparece alguém que deseja aprender. O que queremos é que as folias sejam mais valorizadas, principalmente, pelas crianças”, exprime.

Interior

Pelo interior goiano, em regiões em que as folias são ainda mais tradicionais e antigas, muitos dos giros retornam após hiato de dois anos. As mais famosas das cidades de Goiás e Pirenópolis, por exemplo, já estão nas festividades desde o final de 2022. Em Itapuranga, cidade a 165 quilômetros da capital, o famoso grupo de Folia Beija-Flor começou a girar no dia 25 de dezembro e se estendeu até 4 de janeiro, data da chamada “recolhida”, que é quando os foliões se despedem do festejo.

“É uma herança que merece ser preservada”, conta o folião Edson Pessoa, que organiza muitas folias da região. A Folia Beija-Flor é realizada há mais de 70 anos, em um roteiro que sai sempre da zona rural e gira pela região durante os dias de festejo. Os músicos e participantes entoam poemas e cânticos especiais e tradicionais que se adaptam de região para região. “O desejo é manter a fé”, reitera Edson.

Salvaguardar e preservar 

Com intuito de pesquisar e salvaguardar as tradições das Folias de Reis de Goiás, os pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) Sebastião Rios e Talita Viana criaram o livro Toadas de Santos Reis em Inhumas, com fotografias de Rogério Neves. A publicação, disponível para download gratuito, refaz os costumes e tradições das folias na cidade de Inhumas, município a 47 km de Goiânia.

“Com a ação, esperamos ter indicado um caminho para que, num futuro breve, foliões e outros mestres da cultura popular possam fazer parte do nosso quadro de professores”, explica Talita. Além de imagens das folias da cidade, os pesquisadores também apresentam o cantorio e as funções centrais da folia. “Buscamos dar uma mostra da diversidade das toadas de Reis na região”, destaca. 

Wildes Barbosa / O Popular
Resolvi montar as aulas de folia porque percebo que é uma tradição que está acabando por Goiás” Miguel Prudêncio Vilela
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