Prefeito defende ampliação dos serviços da Maternidade Célia Câmara
Sandro Mabel (UB) discute ampliar o perfil de atendimento do Hospital da Mulher e Maternidade Célia Câmara, que está com uma parte considerável da infraestrutura inutilizada, mas descarta conversão para hospital geral
Mariana Carneiro
11 de fevereiro de 2025 às 07:47
Modificado em 11/02/2025, 16:07

Hospital da Mulher e Maternidade Célia Câmara poderá ter perfil de atendimento ampliado (Wesley Costa / O Popular)
O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), discute ampliar o perfil de atendimento do Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC). Segundo ele, ainda está em avaliação quais outros tipos de atendimentos podem ser feitos no local, que está com mais da metade da infraestrutura sem utilização. Mabel descarta a transformação da unidade em um hospital geral. "Não estamos precisando de hospital geral aqui em Goiânia", disse a reportagem com exclusividade.
Reportagem publicada na edição desta segunda-feira (10) mostrou que a Prefeitura de Goiânia estuda fechar ou mudar o perfil de uma das três maternidades da capital. O intuito é otimizar a rede de atendimento. A avaliação de técnicos da pasta ouvidos pela reportagem é de que duas unidades seriam suficientes para atender a demanda da capital. Mabel vai além: "Hoje, se fossemos ver, no duro, no duro, uma maternidade faz todo o serviço. Com a Dona Iris você faz todo o serviço que Goiânia precisa (...) Para se ter ideia, o centro cirúrgico da Dona Iris tem 83% de ociosidade (...) Precisamos utilizar mais essas estruturas", pondera o prefeito.
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Mesmo assim, Mabel aponta que o caminho a ser seguido deve ser o de promover mudanças. "Temos conversado com a Fundahc. O Célia Câmara é um hospital muito grande, que está hoje só como hospital da mulher e está superdimensionado para o que ele faz. Não precisa ser exclusivo para isso. Estamos conversando sobre a possibilidade de conversar a fazer a internação de pessoas do sexo masculino também", afirma.
Isso não significa que a unidade irá se transformar em um hospital geral. "Já viu o tanto de hospital que tem em Goiânia? Goiânia tem hospital de sobra. O que precisamos fazer é isso que estamos fazendo. Utilizar melhor as unidades que nós temos", esclarece. Segundo ele, os outros tipos de atendimento que podem ser oferecidos na Célia Câmara ainda estão em avaliação.
Na última semana, ficou acordado que o contrato entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) irá diminuir de R$ 20,5 milhões para R$ 12,3 milhões por mês, uma redução de 40%. A Célia Câmara é a maior das três unidades e também a que mais custa para os cofres públicos. Atualmente, o repasse é de R$ 10 milhões para o funcionamento do local, mas o valor cairá para R$ 4,1 milhões por mês com o novo contrato.
Mabel destacou que, após a readequação do valor do contrato, a relação da Prefeitura com a Fundahc "melhorou muito". Para conseguir reduzir o valor em 40%, a principal supressão ocorreu nas atividades das maternidades Dona Iris e Célia Câmara. Nas duas unidades, a urgência seguirá em funcionamento, mas os atendimentos eletivos, inclusive as cirurgias, serão suspensos. O cenário não é muito diferente do que já é encontrado atualmente nos dois locais, já que desde o final de agosto de 2024 as maternidades passaram a oferecer apenas atendimentos de urgência e emergência por conta da dívida acumulada por parte da SMS. Atualmente, o débito gira em torno de R$ 200 milhões.
Outras unidades
Questionado sobre as outras unidades, Mabel descarta mudanças drásticas no Hospital e Maternidade Dona Iris (HDMI), que junto com a Célia Câmara é responsável por cuidar de partos de alto risco e acompanhar casos mais complexos. "É a principal (maternidade). Nós estamos é reforçando (a unidade). Inclusive, está vindo um monte de equipamento novo para a Dona Iris", conta. Segundo ele, também não é possível fechar a Célia Câmara e ficar só com a Dona Iris por conta dos leitos intensivos neonatais que estão localizados no hospital da mulher e são estratégicos para a administração municipal.
Mabel também afasta a possibilidade de fechar a Maternidade Nascer Cidadão (MNC), unidade que fica responsável por realizar partos de complexidade mais baixa. "A localização dela é importante para nós", afirma. A reportagem já havia mostrado que a mudança de perfil da unidade tem o potencial de gerar desgaste para a administração municipal, já que a maternidade possui um valor simbólico para os moradores da região Noroeste.
O prefeito explica que a ideia geral é otimizar a infraestrutura dos aparelhos de saúde que já existem em Goiânia, promovendo a ampliação do atendimento ambulatorial, por exemplo. "Estamos avaliando isso na cidade toda. Temos 13 unidades de saúde (de urgência) e bastariam sete. A quantidade de atendimento que temos em cada unidade: 4 mil, 5 mil. É completamente antieconômica (...) Precisamos fortalecer algumas unidades para que elas possam fazer esse serviço complementar (exames e consultas). Muitas vezes, o cara vai ao médico e demora 10 dias para fazer o exame (...) É para dar uma celeridade, uma resolutividade melhor no problema da Saúde", discorre.
Paralisação impactou na Nascer Cidadão
Duas das três maternidades municipais apresentaram dificuldades em promover atendimentos nos últimos dias. Durante a tarde deste domingo (9), os pediatras que atendem na Célia Câmara paralisaram as atividades. Apesar de ter sido temporária, a paralisação impactou na maternidade mais próxima, a Nascer Cidadão, que amanheceu lotada nesta segunda-feira (10). Fotos enviadas a reportagem por pacientes da unidade mostram gestantes em macas no corredor da maternidade. O motivo da paralisação foram os pagamentos atrasados por parte da Fundahc para com a empresa Instituto dos Médicos Intensivistas do Estado de Goiás (Intensipeg), responsável por fornecer médicos especializados em pediatria. Os atendimentos na Célia Câmara foram retomados às 19 horas do domingo, enquanto a situação na Nascer Cidadão se normalizou no período da tarde de segunda.
A Fundahc informou que a Nascer Cidadão está com 100% de ocupação e se esforça para atender a demanda de urgência e emergência. De acordo com a fundação, devido à alta demanda registrada na tarde do último domingo, foi necessário otimizar os espaços de atendimento, "incluindo a utilização provisória de macas e biombos nos corredores". Entretanto, de acordo com a Fundahc, "todas as pacientes que estavam nesses locais já foram realocadas para os apartamentos e centros de parto normal (CPNs)."
Mesmo com a previsão de altas hospitalares para esta segunda, a Fundahc ponderou que "a demanda por novos atendimentos continua elevada, o que mantém a maternidade em sua capacidade máxima" e reforçou que "todos os esforços estão sendo feitos para assegurar um atendimento humanizado e ágil às gestantes e puérperas."
Nos últimos dias, os leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) da Célia Câmara foram esvaziados. De acordo com o painel de monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nesta segunda, apenas um dos dez leitos de UTI neonatal estava ocupado. Em relação aos 20 leitos adultos, apenas 2 estavam com pacientes.
Em nota, a Fundahc comunicou que a redução da ocupação dos leitos neonatais ocorreu devido a um plano de contingência adotado desde a última sexta-feira (7), que incluiu a transferência de pacientes para outras unidades pela restrição de neonatologistas na unidade, o que foi restabelecido após negociações neste domingo. "Durante esse período, todas as ações foram conduzidas com foco na segurança dos recém-nascidos, garantindo que não houvesse prejuízo na assistência neonatal", reforçou a fundação em um trecho da nota.
Já a redução nos leitos de UTI adulto se justifica por falta de materiais e insumos "que estão sendo contingenciados para atendimento de casos de urgências internas da unidade, não recebendo pacientes externos".