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Mulher desabafa após receber bilhete de desconhecida com a mensagem: ‘você é uma péssima mãe!’

Reprodução / Facebook

Vivemos atualmente num grande tribunal. Quem já não passou por essa situação: uma pessoa que você nunca viu te observa por alguns minutos e já acha que tem o direito (ou, para ela, o dever) de julgar suas atitudes. Agora, imagine o quanto isso é rotineiro na vida das mães.

Na quarta, 15, uma amiga compartilhou no Facebook um texto de desabafo de uma mãe, que vinha acompanhado da foto de um bilhete escrito à mão e que lhe foi entregue por uma completa estranha enquanto ela estava jantando em um restaurante. O bilhete trazia a seguinte mensagem: “Você é uma péssima mãe!” – sim, com direito à exclamação, afinal, ela precisava enfatizar seu desagravo aos atos daquela mulher.

Aquele bilhete, por si só, já me deixou consternada. Pois bem, fui ler o texto. Fernanda Monteiro, a mãe em questão, conta que saiu para jantar com o marido e o filho caçula perto da casa deles. Era 8h da noite, horário em que o filho costuma estar se preparando para dormir, mas o casal se deu ao direito de, uma vez na vida, quebrar o protocolo e sair para jantar levando o garoto. Eles acharam que o tablet poderia distraí-lo, mas o sono falou mais alto e o filho dormiu em cima de três cadeiras.

Então, uma senhora, que jantava sozinha, passou pela mesa deles e, antes de ir embora, deixou o bilhete para a mãe com a tal mensagem inquisitora. “Graças aos céus a vítima dela fui eu, porque ela mal me conhece, então não sabe de todo o sacrifício que fiz durante minha vida para ser a tal ‘boa mãe’, quantos sonhos não abdiquei pra ser a ‘boa mãe'”, escreveu Fernanda, em seu Facebook.

O julgamento, por si só, já é condenável quando parte de quem te conhece, imagina quando vem de quem não tem a mais remota ideia do que você passa na vida.

Fiquei pensando na vez que um senhor, que andava atrás de mim e da minha filha na rua, me observava, calado, enquanto eu chamava duramente a atenção dela (por algo que ela falou ou fez, hoje não me lembro) e, quando olhei para trás, ele mexia a cabeça de um lado para o outro, em desaprovação. Pensei: bom, além de pagar minhas contas, esse senhor quer educar minha filha? Fiquei sem saber como agir na hora, e hoje me arrependo de não ter falado para ele o que eu pensei.

Mas veja bem: o caso dessa mãe julgada por uma desconhecida tem outras camadas. “Culpa não é meu problema. Sabe o que pegou? Ela escreveu que eu sou uma péssima mãe….e meu marido? Ele não tem nada a ver com isso? Não estou aqui pra defender posturas feministas. Mas não é estranho que não esteja escrito: ‘Vocês são péssimos pais’? Por que cargas d’água só eu sou a responsável por deixar uma pobre criança indefesa, feita de porcelana, dormir na cadeira do restaurante? Que ‘mãe’ é essa que a sociedade espera das mulheres?”, questionou ela no texto.

Esse é um ponto importante, e nos conduz a algumas analogias. Quando se trata do pai, é comum se ouvir reações admiradas: “nossa, ele cuida direitinho do filho, é um pai presente, que lindo!”. Quando é a mãe que é presente e zela pelos filhos: “ah, é mãe, né, essa é a obrigação dela”. O que isenta os homens de cumprirem com seus papéis também de cuidadores? Onde está escrito que homem tem que se dedicar integralmente à carreira e a mulher que quer seguir na sua carreira precisa se virar para trabalhar sem se descuidar dos filhos?

E o pior de tudo: o bilhete partiu de uma mulher. Uma mulher com pensamento machista, que achou que tudo aquilo que ela considerou errado – talvez o tablet na mão da criança para distraí-la ou o fato de o menino estar dormindo sobre as cadeiras – deveria ser evitado pela mãe. Afinal, para essa senhora, deve ser obrigação unicamente da mãe de se preocupar com o bem-estar da família e, do pai, de ser o provedor e trazer dinheiro para casa.

Leia abaixo o texto na íntegra:

“Hoje saí pra jantar com meu marido e meu filho caçula. Restaurante do lado de casa, fomos a pé. Eram 20:00 quando meu marido chegou do trabalho, momento em que meu filho estaria se preparando pra dormir, pois já tinha brincado, jantado, tomado banho…enfim, só que eu tive a “ousadia” de sair pra jantar com meu marido e uma criança com sono. Levamos um tablet, que não surtiu muito efeito pois meu filho logo dormiu em 3 cadeiras que ajeitei ao meu lado pra ele. Uma senhora loira, que jantava sozinha, ao sair, me deixou esse recadinho agressivo que vocês leem na imagem: “Você é uma péssima mãe”. Graças aos céus a vítima dela fui eu, porque ela mal me conhece, então não sabe de todo o sacrifício que fiz durante minha vida para ser a tal “boa mãe”, quantos sonhos não abdiquei pra ser a “boa mãe”. Culpa não é meu problema. Sabe o que pegou? Ela escreveu que eu sou uma péssima mãe….e meu marido? Ele não tem nada a ver com isso? Não estou aqui pra defender posturas feministas. Mas não é estranho que não esteja escrito: “Vocês são péssimos pais”? Por que cargas d’água só eu sou a responsável por deixar uma pobre criança indefesa, feita de porcelana, dormir na cadeira do restaurante? Que “mãe” é essa que a sociedade espera das mulheres? Talvez seja a mesma mãe que faz duplas e triplas jornadas e ainda assim nunca está bom…a mãe que abdica da carreira profissional, a mãe que não tem tempo hábil pra incrementar sua renda, a mãe que apanha calada dentro de casa…a mãe, a virgem, a pura, a santa. Pessoal, são por esses atos que mantemos um modo de ser que tá enlouquecendo homens e mulheres. Estamos esgotados, cansados, deprimidos. É muita maldade julgar a vida alheia. É muita maldade menosprezar os homens enquanto pais – acredito que meu marido e tantos outros são tão responsáveis quanto eu na criação dos nossos filhos – e se orgulham disso. É muita maldade idealizar a maternidade baseada em matérias de facebook, matérias baseadas em ideais de vida incompatíveis com a de seres humanos comuns como eu e vocês que estão lendo este post. Desabafei…não costumo fazer isso, aliás mal visito o facebook, mas senti que precisava compartilhar essa ignorância, essa violência que sofri, porque não estou sozinha – somos inúmeras as mulheres vítimas de outras mulheres que nos puxam de volta a um passado de submissão.”

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