Em dois meses de trabalho, é possível dizer que o atual time do Goiás possui a cara do técnico Márcio Zanardi. Desde a chegada do treinador, o esmeraldino passou por alterações no elenco, no esquema tático e nas formas de jogar, passando de um time com lacunas e fragilidades para uma equipe sólida na defesa e no ataque.Em 2024, o Goiás iniciou a temporada sob o comando do treinador Zé Ricardo, demitido do cargo após a eliminação para o Vila Nova na Copa Verde. Em 31 de março, Márcio Zanardi foi confirmado como o novo técnico alviverde.A estreia de Zanardi no Goiás ocorreu em 20 de abril, no empate por 1 a 1 contra o Ceará, fora de casa, pela 1ª rodada da Série B. Até aqui, o clube esmeraldino fez de dez jogos, com seis vitórias, dois empates e duas derrotas, sob o comando do ex-técnico do São Bernardo. O aproveitamento é de 66,6%.O Goiás de Márcio Zanardi está nas cabeças da Série B, com melhor ataque (16 gols marcados) e melhor defesa (quatro gols sofridos), e classificado para as oitavas de final da Copa do Brasil. A evolução esmeraldina é fruto puramente do trabalho do treinador?O trabalho de ZanardiPara o jornalista José Roberto Silva, da CBN Goiânia, a mudança de patamar do time goiano na temporada passa sobretudo pela montagem do plantel por parte do diretor Lucas Andrino, contratado dois dias antes de Zanardi.O comentarista lembra que, da atual escalação inicial do Goiás, apenas Tadeu, Dieguinho, Sander e Paulo Baya são remanescentes do começo do ano. “Penso que o principal motivo desta melhora do Goiás não seja nenhuma característica do técnico Zanardi. São as contratações”, avalia.No entanto, isso não significa que a evolução esmeraldina não tenha o dedo de Márcio Zanardi. José Roberto elogia aspectos como a objetividade, o sistema tático e a manutenção do esquema, mesmo quando se perde jogadores titulares, como foi o caso do zagueiro Messias, que se lesionou logo aos 15 minutos do primeiro tempo na estreia contra o Ceará.Outra característica de Zanardi evidente nos dois meses de trabalho no Goiás é a transição e movimentação com dois homens no meio-campo e três atacantes, muitas vezes construindo uma linha de cinco defensores e “esvaziando” a zona intermediária. Essa convicção vem dando frutos, segundo José Roberto.O jornalista e comentarista do SporTV, Sérgio Xavier Filho, compartilha dessa opinião. De acordo com ele, a principal característica do trabalho de Zanardi é a dedicação em fazer funcionar a linha de três zagueiros.Sérgio aponta que fazer o sincronismo de posicionamento dos três zagueiros com os laterais, por exemplo, é algo difícil e precisa ser treinado, trabalhado e conscientizado junto aos atletas. Ele acredita que Zanardi consegue fazer isso com bastante competência.“Quando você olha os últimos trabalhos dele, acho que a principal característica é esse empenho pela linha de três (defensores). Fazer linha de três funcionar no Brasil não é muito simples, porque a formação tática do futebol brasileiro é muito voltada para a linha de quatro”, analisa.Para Sérgio Xavier, a posse de bola não parece ser algo tão importante para Zanardi, que gosta das transições rápidas. “Não é um técnico que quer ganhar jogo com a bola, ele quer ganhar o jogo. Ter a bola não é fundamental”, diz.Defeitos do treinadorQuanto aos elementos negativos dos dois meses de trabalho de Zanardi, os dois analistas de futebol divergem. “Tem que melhorar justamente a transição defensiva. Quando o Goiás perde a bola, como fazer para recuperar rápido, o perde-pressiona funcionar de verdade. Acho que não funciona ainda a contento isso. Ou se reposicionar rapidamente”, aponta Sérgio Xavier.José Roberto, por sua vez, acredita que Zanardi pode melhorar nas substituições, pois entende que o Goiás ganha muito os seus jogos com base na formação titular. Para o jornalista da CBN Goiânia, o treinador esmeraldino toma decisões equivocadas quando precisa recorrer ao banco de reservas. Mesmo assim, ele crê que o futuro é promissor.“As perspectivas são ótimas. Tem janela (de transferências) daqui a um mês, o Goiás pode ter novos jogadores. A promessa é de mais investimento, acho que é importante o Goiás buscar o título de campeão da Série B. Já ganhou duas vezes. E não é para ter o tri, mas para ter a Copa do Brasil e faturar um pouco mais (em 2025), pois já entraria na 3ª fase. Não tem meio-termo: ou entra na 3ª fase ou não entra na Copa do Brasil”, completa o analista, referindo-se ao fato de o Goiás não ter a vaga pelo Estadual ou pela Copa Verde, pois foi eliminado nas duas nas quartas de final.