Esporte

Manipulação de resultados: Romário é banido do futebol e Gabriel Domingos é suspenso por 720 dias

Divulgação/Vila Nova

O volante Romário foi banido do futebol por ter envolvimento no esquema de manipulação de resultados e o volante Gabriel Domingos foi suspenso por 720 dias pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O julgamento dos atletas, ex-Vila Nova, ocorreu nesta segunda-feira (29), na sede do Tribunal.  A decisão cabe recurso para ser analisada no pleno do STJD. 

Romário também recebu punição de multa de R$ 25 mil, enquanto Gabriel Domingos recebeu multa de R$ 15 mil.

O julgamento desta segunda-feira ocorreu apenas na esfera desportiva. A Operação Penalidade Máxima foi deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), em fevereiro, e originou dois processos criminais. Em um deles, os jogadores são réus.

Romário participou do julgamento nesta segunda-feira por videoconferência e Gabriel Domingos foi ao STJD no Rio de Janeiro.

Hugo Jorge Bravo, o lateral esquerdo Willian Formiga (ex-Vila Nova e hoje no Ceará) e o volante Jean Martim (ex-Vila Nova e hoje no Avaí) participaram como testemunhas da promotoria do STJD. O volante Sousa (do Vila Nova) e o atacante Riquelme (ex-Vila Nova e hoje no Campinense) estiveram na videoconferência, mas foram dispensados. 

Romário e Gabriel Domingos foram denunciados em quatros artigos: 191, III parágrafo; 242; 243 §§1º e 2º; e 243-A do CBJD. A punição mais grave seria justamente o banimento do futebol, como prevê o artigo 242. As penas máximas dos outros artigos são de multa de até R$ 100 mil e/ou suspensão de até 720 dias.

A sessão foi comandada pela 1ª comissão disciplinar do Tribunal, presidida por Alcino Guedes, o relator foi o goiano Miguel Ângelo.

Como foram os votos:
Miguel Ângelo Cançado: multa de R$ 50 mil e banimento de Romário; multa de R$ 40 mil e 720 dias de suspensão para Gabriel Domingos

Sérgio Henrique Furtado Coelho: acompanhou o relator

Ramon Rocha Santos: multa de R$ 25 mil e banimento de Romário; multa de R$ 15 mil e 720 dias de suspensão para Gabriel Domingos

José Maria Philomeno: multa de R$ 25 mil e banimento de Romário; multa de R$ 15 mil e 720 dias de suspensão para Gabriel Domingos

Alcino Guedes: multa de R$ 25 mil e banimento de Romário; multa de R$ 15 mil e 720 dias de suspensão para Gabriel Domingos

Leia como foi o julgamento:
Com atraso de cerca de 20 minutos, o julgamento começou com a leitura de um relatório produzido pela procuradoria do STJD com informações do processo enviado pelo MP-GO. O auditor goiano, Miguel Cançado que também foi relator, fez a leitura do relatório, que resumiu as participações de Romário e Gabriel Domingos no esquema.

Após essa leitura, o presidente da 1ª Comissão, Alcino Guedes, pediu a palavra para Romário. Em sua defesa, o jogador afirma que não mostram provas que ele participou do esquema e que ele e Gabriel Domingos “na malandragem” decidiram ficar com o dinheiro enviado (R$ 5 mil) pelos apostadores e não devolver.

Na sequência, o auditor Miguel Cançado, fez perguntas ao atleta: se ele conhecia Bruno Lopez; se ele procurou outros atletas do Vila Nova; se indicou contatos de outros jogadores; como foram as conversas com Bruno Lopez após a aposta não ter dado certo.

O vice-presidente da Comissão, Sérgio Henrique Furtado Coelho, perguntou ao atleta se ele acha reprovável os questionamentos: inicialmente Romário disse que “não”, mas após ser questionado novamente Romário disse: “O que (eu) fiz foi errado, devo ser punido, mas não foi pra prejudicar o futebol”.

Ramon Rocha, outro auditor, também questionou o atleta sobre as conversas com apostadores. O histórico do atleta no Vila Nova foi questionado pelo auditor José Maria Philomeno, que também perguntou se Romário teve contato com outros apostadores antes de ser procurado em 2022. O atleta disse que nunca tinha sido procurado.

José Maria Philomeno questionou o valor do salário de Romário, que disse que ganhava R$ 4 mil no Vila Nova, e seguiu com questionamentos sobre como foram as conversas entre o volante com outros atletas do clube colorado e o teor das ameaças recebidas.

Após os questionamentos, o advogado Odair Menezes, que fez a defesa de Romário, foi autorizado a questionar. O jurídico inicia perguntando sobre qual era o vínculo do volante com o Vila Nova após a transferência do atleta não ter sido concluída e sobre quais crimes ele responderá no processo criminal apresentado pelo MP-GO.

Após esses questionamentos, Gabriel Domingos passou a ser questionado. Inicialmente, Alcino Guedes perguntou se o atleta sabia qual era a acusação contra ele e há quanto tempo conhecia Romário.

Miguel Cançado pergunta como o volante conheceu os apostadores; se ele aceitou participar do esquema; pede para confirmar trechos das conversas; o motivo do pagamento de R$ 10 mil (neste momento o jogador afirma que aceitou cometer o pênalti, mas que seria cometido por Willian Formiga).

Sérgio Henrique Furtado Coelho perguntou a Gabriel Domingos se ele recebeu outro tipo de vantagem para participar do esquema, o jogador disse que “não”.

Na sequência, os auditores perguntam como foi a participação de Gabriel Domingos e teores das conversas do jogadores com Romário e apostadores. Se sabia que o pagamento de R$ 10 mil era para que um pênalti fosse cometido na partida e que um valor maior (R$ 150 mil) seria pago.

As testemunhas passaram a ser ouvidas após intervalo de 15 minutos. A primeira foi o presidente Hugo Jorge Bravo, do Vila Nova. Ele foi orientado pelo presidente da Comissão a fazer um resumo de como tomou conhecimento do esquema.

Nos questionamentos feitos pelos auditores, o presidente do Vila Nova deu mais detalhes sobre como foram as conversas dele com os jogadores após tomar conhecimento das provas obtidas junto a Bruno Lopez. 

Ele também foi questionado se o técnico Allan Aal tinha conhecimento do esquema. O dirigente respondeu que “não, de forma alguma” e frisou que soube do esquema justamente pelo fato de outros atletas não terem aceitado participar da manipulação.

A segunda testemunha foi o volante Jean Martim, ex-Vila Nova e hoje no Avaí. O presidente Alcino Guedes pergunta se houve conversa entre o jogador com Romário, o que foi confirmado pelo atleta do time catarinense.

Na sequência, os auditores perguntam para Jean Martim se Romário ofereceu valor a ele (que foi confirmado, no valor de R$ 50 mil); se o jogador do Avaí tinha conhecimento da participação de outros atletas; qual seria a origem do valor (neste momento o volante afirmou que recusou a proposta); se durante a partida contra o Sport ele percebeu algo de estranho no andamento do jogo.

A terceira testemunha foi o lateral Willian Formiga. Ele disse que não tem mais contatos com os denunciados e resumiu como foi a abordagem de Romário, qual foi a promessa. Nesta fala, o ex-jogador do Vila Nova falou que recusou a participação no esquema.

Os auditores também fizeram questionamentos: teor das conversas com Romário (Willian Formiga revelou que Bruno Lopez ligou pra ele, voltou a recusar participação no esquema e disse que houve uma conversa presencial com Romário); por que não denunciou o esquema para a comissão técnica; se a investida de Romário com atletas escalados influenciou na atuação do Vila Nova, que não venceu mesmo em vantagem numérica, em campo (o jogador disse que influenciou, mas frisou que era um jogo difícil já que o Sport lutava pelo acesso)

Após as testemunhas serem ouvidas, as defesas tiveram palavra. O advogado Odair Meneses, que representou Romário, pediu punição em grau mínimo, já que o volante assumiu que participou do esquema. Ele também frisou que o jogador sofre o primeiro processo no STJD e tem bons antecedentes.

A advogada Lucy Meirelles, que defendeu o volante Gabriel Domingos no STJD, afirmou que os artigos 191, 242 e 243 não se enquadram para seu cliente. Ela disse que o jogador sabia que não ia jogar a partida contra o Sport e que as conversas com apostadores ficariam no “plano das ideias”. No artigo 243-A, a advogada confirmou que o atleta se enquadra e pediu punição mínima.

Quais foram as participações dos atletas no esquema:
A Operação Penalidade Máxima começou suas investigações em novembro do ano passado, após o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, apresentar a denúncia ao MP-GO.

O dirigente mostrou conversas que teve com Bruno Lopez, considerado líder da organização criminosa, que chegou a cobrar de Hugo Jorge Bravo uma dívida que o volante Romário teria passado a ter por aceitar participar da manipulação de resultados em jogos da Série B de 2022.

Romário aceitou cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela última rodada da competição. Ele recebeu R$ 10 mil antecipado, que foram pagos na conta de Gabriel Domingos, com promessa de pagamento total de R$ 150 mil.

Como Romário não atuaria no jogo, indiciou Gabriel Domingos para ajudar na conclusão da aposta. Porém, ele também não atuou na partida.

Foi então que Romário tentou aliciar outros jogadores do Vila Nova para participar do esquema. O volante procurou Willian Formiga, Jordan, Sousa e Riquelme, segundo documentos do processo do MP-GO. Nenhum topou participar do esquema.

No processo, também há imagens de conversas entre os apostadores e Gabriel Domingos, no qual um apostador oferece R$ 200 mil para que ele fosse expulso no primeiro tempo da partida contra o Sport. Só depois é que a oferta muda para cometer pênalti no primeiro tempo.

A aposta feita pela organização não deu certo e Bruno Lopez passou a cobrar Romário, que de acordo com o processo, chegou a indicar outras apostas com o objetivo de pagar sua dívida.

Gabriel Domingos e Romário tiveram contratos rescindidos com o Vila Nova. O primeiro só neste ano, após se tornar réu no processo apresentado pelo MP-GO, enquanto o primeiro teve vínculo encerrado em novembro do ano passado depois que o presidente Hugo Jorge Bravo tomou conhecimento do tema e apresentou a denúncia no MP-GO.

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