Esporte

Para vilanovenses, retorno de Fernando é demonstração de que existe amor no futebol

Roberto Correa / Vila Nova
Fernando Reges se apresentou ao Vila Nova na manhã desta quinta-feira (11), horas após ser anunciado como reforço do clube para 2024

Fernando Reges voltou, agora para ficar, porque o Vila Nova é o seu lugar. A paródia é da música de Roberto Carlos, utilizada pelo clube para anunciar a contratação do volante, que está de volta ao lugar que deixou há 17 anos, mas do qual nunca esqueceu, mesmo após abrir portas que iluminaram sua vida e carreira vencedora na Europa. Aos 36 anos, o jogador revelado na base colorada mostra que ainda existe amor no futebol.

A gratidão e relação de amor do jogador com o clube contagiaram torcedores colorados e estão marcadas entre funcionários que viram Fernando “nascer” no Vila Nova. Em 2024, o volante voltará a escrever uma história que começou há 21 anos.

“O Fernando provou que ama o clube. Literalmente deixou dinheiro, status e vaidade para estar no time de coração. É uma grata surpresa e estou muito feliz com o retorno dele. Um jogador rejeitar uma boa proposta do Internacional é gratidão ao clube que o lançou para o futebol. Eu não acreditava que ele voltaria nesse estágio da carreira. É o maior e melhor presente que a torcida poderia receber neste começo de 2024”, descreveu o torcedor Rodrigo Ribeiro, de 41 anos.

Entre os torcedores, a contratação de Fernando foi uma surpresa. “Eu não esperava. Ver que ele escolheu o Vila nos deixa mais orgulhosos e contentes. Mostra que o Vila está no caminho certo, que a diretoria faz um trabalho bom que pesa na escolha de um jogador do nível do Fernando”, completou o colorado João Victor, de 28 anos, que foi um dos torcedores que já adquiriram uma camisa do Vila Nova com o nome do jogador e o número 25, que será utilizado pelo volante em seu retorno ao clube goiano.

O que costuma ocorrer no contexto de uma transferência de um atleta como Fernando é que jogadores voltam para o Brasil para defender uma equipe que aceite um contrato mais longo, de dois anos, por exemplo, e em que o atleta possa atuar em um time de alto nível, que dispute as principais competições do País até pendurar as chuteiras. Fernando mostra que há exceção.

Recentemente, Lucas Moura retornou ao São Paulo, seu clube formador, após 11 anos na Europa. Foi dispensado pelo Tottenham, da Inglaterra, e a ideia inicial era seguir no continente por desejo da família, mas nada o seduziu. O time paulista o contratou. No caso do vilanovense, Fernando pediu para voltar.

“O Fernando me explicou hoje (quinta, 11) algo que ocorreu em 2007 e ele não me deu muitos detalhes na época. Ofereci um aumento de salário e ele rejeitou. Na época, ele ganhava R$ 1,5 mil e tinha voltado do Sul-Americano sub-20 com vontade de ir para a Europa. Os jogadores na seleção conversaram muito sobre sair do Brasil, ele me disse que precisava aproveitar a oportunidade de sair. O Porto já tinha nos procurado e falado com ele. O Fernando queria uma vida melhor para seus pais e familiares. Hoje, ele me disse que conseguiu tudo isso e, agora, quer ajudar o Vila”, contou o ex-presidente do Vila Nova, Carlos Alberto Barros, que esteve no OBA nesta quinta-feira (11) e falou com Fernando no primeiro dia do volante em seu retorno ao clube goiano.

Fernando foi encontrado pelo Vila Nova em 2003. O clube organizou uma peneira na cidade de Alto Paraíso de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros. O então técnico Edson Alves escolheu “três ou quatro” jogadores, lembrou Antonio Divino Rosa, mais conhecido como Givanildo, que é o responsável por toda a documentação dos jogadores colorados e tarefas administrativas.

“O Fernando foi um desses jogadores, mas só ele ficou. Fiz a primeira inscrição dele, em 2003, como juvenil (sub-15 a 17 na época). Logo depois atualizei para o sub-20 e, em 2005, ele já estava no profissional”, recordou Givanildo.

O volante, aos 18 anos, participou da melhor campanha do Vila Nova na Copinha - quartas de final, em 2005 - e foi campeão goiano no mesmo ano. Duas temporadas depois, foi vendido para o Porto, por cerca de R$ 600 mil, recordou Carlos Alberto Barros.

“Todo mundo ficou falando de coisas boas para ele hoje (quinta, 11), eu lembrei de uma ‘ruim’. Em 2006 ou 2007, ele precisou fazer um passaporte e levei ele correndo em um lambe-lambe lá na Avenida Tocantins, perto da Praça Cívica. O cara colocou um terno muito feio no Fernando e tirou a foto, ficou muito feia. Perguntei se ele lembrava da história, ele me disse que usou o passaporte por mais cinco anos até trocar e nunca esqueceu (risos)”, revelou o ex-jogador e atual supervisor das categorias de base do Vila Nova, Josimar Marques.

Brilho na Europa

Depois de fazer o primeiro passaporte e embarcar para a Europa para atuar no Porto, Fernando iniciou trajetória de 17 anos no continente com passagens por Manchester City, Galatasaray e Sevilla, que foi o clube que ele mais defendeu fora do Brasil, com 167 partidas e conquista de dois dos três títulos que tem da Liga Europa - o outro foi pelo Porto.

“A história do Fernando com o Vila Nova é muito bonita, ele sempre visitou o clube nas férias e dizia que queria voltar um dia. Agora, voltou para casa, clube que o projetou. Falei com ele ontem (quarta, 10) cedo. Ele me disse que estava com o coração decidido e queria ser feliz. Nos dias de hoje, é tão raro encontrar jogadores com atitudes assim. Só mostra a grandeza do Fernando”, frisou o ex-presidente do Vila Nova, Leonardo Rizzo, que conheceu o volante em 2004.

Fernando ainda será apresentado pelo Vila Nova e não tem data para reestrear. O jogador trata uma lesão no ombro e deve voltar a campo ainda em janeiro, mas com data a ser definida.

Wesley Costa
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