Esporte

Transformação do Serra Dourada em arena multiuso é avaliada

Wesley Costa
Serra Dourada, inaugurado em 1975, perdeu espaço no calendário do futebol goiano nos últimos anos, pois clubes começaram a mandar cada vez mais jogos em seus próprios estádios

Um equipamento esportivo que não fique restrito ao futebol e passe a ter fluxo diário de pessoas, com diferentes opções para consumo. Um local que funcione em dias de partidas, mas também em horários em que a bola não role, e ofereça produtos para atendimento às necessidades da população. É assim que gestores esperam que o Serra Dourada funcione nos próximos anos.

Na tentativa de fazer o Serra Dourada um espaço que não dê prejuízo, o governo de Goiás quer encontrar parceiros para transformar o principal estádio do futebol goiano e seu entorno em uma arena multiuso. O complexo também englobaria o Ginásio Valério Luiz de Oliveira (Goiânia Arena), com estacionamentos e outras dependências.

A principal inspiração goiana é o modelo adotado pela prefeitura de São Paulo com o estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na região central da capital paulista. Desde janeiro de 2020, o complexo está sob administração da concessionária Allegra Pacaembu e será bem diferente em relação ao que era até junho de 2021, quando as obras começaram.

Arena multiuso é um espaço que potencializa o uso de determinado equipamento, com aumento de fluxo de pessoas e tempo de permanência, que ofereça diferentes opções de consumo e atenda a população em geral. Pode ser definida também como uma construção moderna, com conceito de consumo esportivo, mas que abrange outras áreas econômicas e que é voltada para tipos de entretenimentos também fora do esporte, definidos após estudos técnicos.

O objetivo é tornar um equipamento esportivo economicamente viável e autossustentável, sem depender de disputa de partidas de futebol ou outros eventos esportivos para que isso ocorra.

A ideia do governo de Goiás é que esse desenho de arena multiuso se torne a realidade do Serra Dourada no futuro, mas ainda não há previsão de ações na prática. O vice-governador Daniel Vilela (MDB) lidera o Grupo de Trabalho Serra Dourada, que tem objetivo de definir o melhor projeto para reestruturação do complexo do principal estádio do futebol goiano. Ele, assim como o governador Ronaldo Caiado (UB), estiveram no Pacaembu no final de julho e deram sequência à fase de pesquisas antes do lançamento do chamamento público de Procedimento de Manifestação de Interesse para proposta de estruturação do complexo do Estádio Serra Dourada, no último dia 28.

Pacaembu serve de modelo

O Pacaembu é o principal modelo de inspiração por se tratar de estádio com parceria público privada, sob administração de uma concessionária e não de um clube de futebol. Daniel Vilela enxerga a transformação do Serra Dourada em uma arena multiuso como uma forma de manter o local vivo.

“Diferente do Pacaembu, temos espaço embaixo das arquibancadas com local que pode servir para um restaurante, por exemplo, e não precisa quebrar a estrutura do estádio. As obras no Pacaembu estão sendo feitas para a sobrevivência dele, então queremos fazer algo para modernizar áreas do estádio (Serra Dourada) que hoje não têm uso”, comentou o vice-governador, que conversou nos últimos meses com empresários do ramo imobiliário, de shoppings e também com a gestão da Allegra Pacaembu para se inteirar mais sobre o tema.

Especialistas consultados pela reportagem acreditam que o Serra Dourada pode ser um caso de sucesso de arena multiuso, mas fazem ponderações.

“O problema não é acordo de parceria público privada para dar uma nova finalidade para o estádio. De fato, se não está sendo usado, vai ser oneroso e a tendência é que se desgaste com o tempo. Isso não é bom para ninguém. Só que a parceria, concessão que seja, tem que ser bem amarrada para que o estádio continue sendo o estádio. Não só arena de shows, por exemplo. O mais importante é o estádio não deixar de ser estádio. É o risco hoje no Pacaembu, é ele não ser usado por nenhum clube”, opinou Irlan Simões, jornalista do Sportv, pesquisador do futebol e autor do livro “Clientes versus Rebeldes: novas culturas torcedoras nas arenas do futebol moderno”.

Doutor em Ciências Sociais pelo PPCIS/UERJ, Fábio Rios reforça que estudos técnicos precisam ser feitos para definir as melhores atividades econômicas, fora do ambiente esportivo, para a arena multiuso funcionar da maneira desejada. As necessidades da região precisam ser levadas em consideração.

“Não depende só do modelo de eventos à disposição, tem que saber se a cidade está preparada para que o projeto dê certo. Consigo vislumbrar que o Pacaembu, mesmo com todas as críticas ao processo que foi feito, de descaracterização e tudo mais, economicamente talvez dê certo. São Paulo tem estrutura para receber isso, algo que talvez em outras cidades não dê certo”, completou o bolsista de pós-doutorado do programa PDJ/CNPq.

Localização ajuda

O CEO da Allegra Pacaembu, Eduardo Barella, vê um projeto de arena multiuso para o Serra Dourada como uma maneira positiva de potencializar seu uso. Ele entende que a localização do estádio é boa e esse critério é fundamental.

“O Pacaembu, por exemplo, está a quatro minutos da Paulista e oito do Centro de São Paulo. Vejo sentido em ter um equipamento desse porte, similar ao Pacaembu, na região Centro-Oeste. Mas nada no Pacaembu é por achismo. Estudos foram feitos, é preciso entender o que pode ser melhor utilizado. No Pacaembu, por exemplo, tivemos o cenário para um shopping. Para nós, após estudos, foi melhor a escolha de ter um hotel. Você pode ficar hospedado, ter uma visão ampla do estádio, acesso para arquibancada, camarote, restaurante em cima do hotel. Nada no achismo, os estudos mostram o que seria adequado. Shopping não funcionaria, mas vamos ter lojas de varejo”, explicou o gestor do grupo que administra o histórico estádio paulistano.

O governo de Goiás diz que fará estudos e não aceitará proposta que possa prejudicar o funcionamento do Serra Dourada. A ideia é ter ambientes como restaurantes, escritórios comerciais, espaço para eventos, shows, mas não deixar de ser um espaço utilizado para jogos de futebol. Não há ainda previsão de gastos e apresentação do projeto, mas, de acordo com o cronograma, estudos técnicos serão apresentados ainda neste ano.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI