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“É a história de mulheres e de sua coragem de reagir”, diz Pedro Bial

Divulgação

O Conversa com Bial que denunciou João de Deus já entrou para a história e a repercussão do programa foi responsável pela prisão dele, além das denúncias de tantas outras vítimas que sofreram os abusos sexuais cometidos pelo médium. Qual foi a necessidade de dar origem a uma obra ainda mais profunda sobre os crimes e a vida de João de Deus?

Toda reportagem e investigação têm um começo, mas não necessariamente um término ou, pelo menos, um término em um horizonte imediatamente visível. Quando pusemos no ar o programa que expôs as denúncias relatadas pelas mulheres em relação ao João de Deus ainda não sabíamos, mas começamos a perceber, logo após, que a história tinha outros capítulos e episódios, e que a atividade criminosa de João de Deus não se restringia ao abuso sexual de pessoas vulneráveis. Então, o documentário surgiu como uma consequência natural do trabalho de reportagem, que continuou. Quando você começa a cavar um túnel, vai percebendo que vai chegando a algum lugar e descobrindo novos caminhos, e a história vai crescendo...

Você divide a condução do documentário com a Camila Appel, que descobriu os primeiros casos de abuso. De que forma você acha que a participação dela contribuiu para a série documental?

A Camila Appel é uma protagonista dessa história, não só por ter sido a repórter que iniciou, levou adiante e conduziu a investigação, assim como foi a alma da inspiração para o programa. A Camila, já com o acréscimo de toda a equipe que dividiu com ela esse trabalho, foi decisiva também para a série.

Como as denúncias chegaram até vocês?

Para o programa, as denúncias chegaram a partir de coincidências de pessoas próximas à Camila, que tinham um histórico com Abadiânia. Mas não é que as denúncias chegaram até nós. A partir dessas coincidências, trabalhou-se em uma investigação e, por causa do documentário, essa investigação foi ampliada. As denúncias nunca chegam, nós é que temos de ir até elas, a partir de uma pista, que leva a outra pista, uma testemunha que leva a outra testemunha, um comentário ali que precisa ser verificado e confirmado, que leva a um outro...

Em Nome de Deus é sobre as vítimas, João de Deus, a casa de Dom Inácio ou práticas religiosas? Nas palavras de Pedro Bial, como é definida a obra que está sendo lançada?

Basicamente, é a história de mulheres e de sua coragem de reagir. Mais do que resistir, de agir, a partir do sofrimento, da humilhação e do massacre que elas sofreram. Não só de uma pessoa, no caso, o João de Deus, mas da sociedade e da comunidade que permitiu que esse homem existisse da forma que existiu e perpetrasse os crimes que perpetrou. É um documentário sobre a voz das mulheres.

Em 2018, você chegou a declarar que a verdade bateu a sua porta, sem talvez imaginar a série de outros crimes cometidos por João de Deus. Teve algo que te chamou mais a atenção e que gostaria de destacar?

No momento em que a nossa investigação se aprofunda, me chamou a atenção o fato de que já havia indícios e evidências claras de que João de Deus tinha um pé, ou os dois pés e as duas mãos, no crime. Era um homem que já tinha um histórico totalmente manchado e várias acusações. Me surpreendeu como ele conseguiu ser acobertado e poupado durante tanto tempo, quando tanta gente já sabia, ou no mínimo desconfiava seriamente, de suas atividades criminosas. O silêncio permitiu que ele continuasse praticando a sua falsa medicina, a sua falsa solidariedade e o seu verdadeiro mal.

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