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“A gente nunca se cansa de tocar em Goiânia”, diz Barone, dos Paralamas do Sucesso

Divulgação / Rede Globo

Os Paralamas do Sucesso têm muitas semelhanças mesmo com o Highlander, como compara o baterista da banda João Barone, em entrevista. Assim como o guerreiro escocês do século 16, personagem fictício imortalizado no cinema por Christopher Lambert pela primeira vez em 1986, a banda também é imortal. Herbert Vianna (guitarra e voz), Bi Ribeiro (baixo) e Barone (bateria) estão na estrada há 40 anos encantando uma geração e formando outra com clássicos atemporais, como Óculos, Alagados, O Beco, Lanterna dos Afogados e Meu Erro. O grupo está de volta à capital nesta sexta-feira (27), em apresentação a partir das 20 horas no Ginásio Goiânia Arena. Eles não estão sozinhos. Logo após o show dos veteranos, será a vez de Nando Reis subir ao palco com a turnê Nando Hits. O Segundo Sol, Luz dos Olhos, Relicário e All Star estão confirmados na apresentação do Ruivão. “Tenho certeza que será uma noite memorável. O Nando é um grande amigo”, disse Barone. Em conversa com a reportagem, o músico falou sobre essas quatro décadas de estrada, momentos marcantes e relação com os goianos. 

 

Embora a banda tenha sido fundada em 1982, vocês consideram o disco Cinema Mudo, de 1983, como o marco zero. Sendo assim, vocês estão completando 40 anos de estrada. O que estão preparando para essa celebração?

Não temos nada programado porque para nós o mais significativo disso tudo é seguir na estrada. A gente tem uma certa reação dessas coisas convencionais. Estamos ainda com esse espírito de curtir o retorno aos palcos com mais tranquilidade. Acho que o pior já passou. A nossa turnê de Clássicos ironicamente foi programada para iniciar no dia que começou a pandemia, em março de 2020. Então, acredito que ela pode funcionar bem como uma celebração. O ano passado, por exemplo, foi bastante generoso, fizemos diversos shows e encontramos amigos da nossa geração, assim como vai ser em Goiânia, com o Nando Reis. Tenho certeza que será memorável.

 

Vocês são uma banda dos anos 1980. Ao longo dessas quatro décadas, com tantas transformações tecnológicas, o que foi mais difícil de se adaptar para vocês?

A gente se adaptou bem nessa realidade que também não é mais tão nova assim sem precisar se transformar numa coisa que não somos. Não somos mais uma banda adolescente e não estamos a fim de colocar botox para parecer moderninho. Não é o nosso estilo. Com toda a nossa personalidade mais old school, não estamos querendo ser jovens. Acredito que conseguimos tirar partido desses fatos indeléveis que vivenciamos nesses 40 anos. Dificilmente vamos conseguir uma outra forma de passar a música que seja tão funcional e confortável como as plataformas digitais. O que estamos vendo hoje em dia é uma contrapartida melhor no repasse dos direitos autorais.

 

Quais foram os momentos mais marcantes da banda ao longo dessas quatro décadas?

Tem hora que a gente parece o Highlander, porque passamos por muitas etapas na nossa trajetória. Lembramos com alegria o dia que escutamos pela primeira vez nossa música Vital e a Sua Moto na rádio. Uma coisa foi levando a outra e quando a gente viu estava assinando contrato com a gravadora e pouco tempo depois rodando um disco. Foi um negócio mágico. Antigamente, era mais fácil você falar com o Papai Noel no Polo Norte do que gravar um álbum. Em seguida, teve o Rock in Rio, em 1985. Foi um momento catarse. Depois dessa apresentação, passamos a fazer dois shows por noite em todo o Brasil. Também não tem como esquecer o nosso primeiro show, em 2002, na volta do Herbert depois do acidente, foi emocionante.

 

Na discografia de vocês são quase 30 discos lançados, se a gente somar com as coletâneas. Qual o seu favorito? Por quê?

É difícil fazer uma escolha porque cada disco retrata um momento e que encaramos como uma fotografia daquele instante de criação e inspiração, mas é inevitável não fazer uma referência mais unânime ao Selvagem, de 1986. Naquela época, chegar no terceiro álbum era uma espécie de prova de sobrevivência mesmo no mercado. Aquela gravação era um selo de que estávamos de alguma forma consolidados. Além disso, na parte da sonoridade, foi um projeto importante porque fizemos uma escolha muito clara, diferenciada de tudo que estava acontecendo, a maneira como abraçamos a ideia de juntar coisas brasileiras, com o reggae, com o rock, tivemos esse pioneirismo. Arriscamos bastante na questão estética e funcionou bem. A gente continua arriscando. A nossa receita é fazer o que o coração manda.

 

Nesse tempo, vocês viram muitos grupos se encerrarem, seja por desentendimentos ou decisão amigável. Foi muito difícil chegar aos 40 anos de estrada com a mesma formação?

Esse é o grande mistério que nos cerca. Todo mundo pergunta isso e não temos uma resposta muito mágica para dar. Temos a sorte que quando começamos a tocar juntos, depois entrou o José Fortes, nosso empresário, que manteve a gente longe das coisas que acabam desgastando as relações das bandas, questões comerciais e dinheiro. Conseguimos administrar isso da melhor maneira possível. Não significa que a gente não tenha vivenciado alguma rusga, mas no final tínhamos uma atitude coletiva que representava os Paralamas. A verdade é que as coisas boas acontecem e a gente não vê o tempo passar, talvez seja essa a explicação para uma relação tão saudável.

 

Quando os Paralamas completaram 35 anos, vocês mesmos já disseram que poderiam viver de turnês comemorativas, o que é verdade depois de empilharem tantos clássicos. O que motiva a continuar compondo e seguir nessa correria de shows após tanto tempo?

A gente gosta de tocar, é a nossa vida. Manter isso é um privilégio grande. Também é importante ressaltar que não queremos medir o nível de sucesso que tivemos anteriormente, estamos satisfeitos com o que fazemos, com a demanda atual de shows. Agora vamos voltar a nossa rotina de reuniões para ver as novas canções do Herbert para quem sabe pensar num projeto novo, mas sem nenhuma pressão porque não estamos preocupados em lançar um disco somente porque faz muito tempo que não disponibilizamos algo de inéditas. Tudo faz parte de um processo tranquilo que sempre tivemos de produção. O Paul McCartney sempre conta que quando toca as músicas antigas o público do estádio retira o celular para filmar e quando ele vai tocar uma nova o pessoal sai para comprar cerveja. É mais ou menos isso o que a gente traz para a nossa realidade.

 

Desde o início da trajetória de vocês, Os Paralamas do Sucesso dificilmente ficaram sem tocar pelo menos uma vez no ano em Goiânia. Quais são as lembranças que vocês guardam das apresentações na capital?

Guardamos várias lembranças boas das apresentações para os nossos fãs goianos. Lotamos várias vezes o Teatro Rio Vermelho sempre com a presença de uma plateia muito participativa e receptiva. Também fizemos várias dobradinhas com outras bandas em outros lugares da cidade, como no Clube Jaó, tocando com o Rappa, com o Skank, com o Kid Abelha. Foram noites inesquecíveis, assim como será dessa vez com o Nando Reis, que é um grande amigo. A gente nunca se cansa de tocar em Goiânia, tanto que estamos voltando menos de três meses depois de show no Oscar Niemeyer.

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