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Amamentação não deve ser interrompida mesmo se a mãe for contaminada pelo novo coronavírus

Enio Medeiros
Deyseanne Moura chegou a amamentar Benjamin, mas, por conta da Covid-19, parou e hoje a criança não quer mais o peito

Três meses depois do nascimento do segundo filho, a fisioterapeuta Deyseanne Moura, de 29 anos, sentiu febre e calafrios e suspeitou que poderia estar infectada pela Covid-19. Após a confirmação da doença, ela decidiu por conta própria parar de amamentar.

Em uma semana, a goiana se arrependeu e quis voltar com o aleitamento materno, mas o pequeno Benjamim, hoje com quatro meses, não quis nem saber do peito, pois se acostumou com a mamadeira. “Como o vírus é muito novo, as orientações sobre se eu deveria ou não continuar amamentando foram divergentes”, recorda-se.

Embora ainda cercado de mistérios, o novo coronavírus não impede a amamentação. Essa é a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), pois não há evidência de transmissão do vírus pelo leite materno.

Um estudo publicado no início do mês na revista científica The Lancet acompanhou 82 bebês filhos de mães que testaram positivo para a doença e continuaram a amamentar seguindo orientações de higiene e de uso máscara. As crianças realizaram os exames três vezes entre o 5º e 14º dias de vida e todos os resultados deram negativo.

“Não orientamos de forma alguma a deixar de amamentar, mesmo que a mãe esteja com a Covid porque existem muito mais benefícios do que riscos para o bebê. A grande exceção é quando essa mulher está hospitalizada em ambiente de UTI e, nesse caso, o desmame pode acontecer, mas em outras situações não há necessidade”, afirma a presidente da Sociedade Goiana de Pediatria, Marise Tófoli.

O alerta da especialista vem sendo bastante discutido durante a Semana Mundial do Aleitamento Materno, que é celebrada de 1º a 7 de agosto com uma série de ações de incentivo à prática.

Para evitar que o bebê seja contaminado na hora da amamentação, a pediatra afirma que é fundamental seguir um cronograma de medidas preventivas. Lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes de tocar o filho ou de retirar o leite materno, usar máscara facial cobrindo completamente nariz e boca durante as mamadas e evitar falar ou tossir durante o procedimento são algumas das orientações para um aleitamento materno seguro.

“É importante que a mãe esteja bem orientada, assim como pais e avós, para que ela não tome uma decisão que pode trazer consequências no futuro”, avalia Marise.

Quando sentiu os sintomas do novo coronavírus, Deyseanne Moura tomou todos os cuidados necessários e começou a amamentar o filho com máscara e higienizava as mãos sempre antes de manusear o bebê.

Com a comprovação da infecção, ela ficou com receio de passar o vírus para o filho e suspendeu o aleitamento por uma semana, substituindo-o por fórmulas lácteas. Depois de acompanhamento médico, ela decidiu voltar com o aleitamento, mas a criança não quis mais. “Agora, o Benjamim recusa o peito porque acha mais fácil sugar da mamadeira”, conta a mãe, que passou a extrair o leite materno.

Decisão

Especialistas afirmam que a decisão de seguir dando o peito ao filho após confirmação de Covid-19 é da mãe, mas que é crucial que, caso seja feito o desmame, ele seja conduzido da melhor maneira possível, com acompanhamento.

“A recomendação é seguir com a amamentação, mas, se a mamãe se sentir desconfortável e com medo, ela pode fazer a retirada do leite por meio de ordenha manual ou por bombas de extração. Amamentar ajuda na imunidade do bebê e no seu desenvolvimento, principalmente o dos prematuros”, ressalta a pediatra e consultora internacional em aleitamento Loretta Campos.

A infectologista Juliana Barreto reforça que, seguindo todos os cuidados, como o uso de máscara para evitar que caiam gotículas, é possível seguir amamentando o bebê sem riscos de contaminação pelo novo coronavírus.

“Pode amamentar com tranquilidade. O melhor alimento até os seis meses de vida de uma criança é o leite materno. Isso evita diversos problemas para o resto da vida. Uma coisa importante é para o pai que trabalha fora. Ele precisa ter uma área em casa para tirar a roupa, tomar banho, higienizar as mãos e somente depois disso ter contato o filho”, complementa.

Os benefícios da amamentação são diversos para o bebê e também para a mãe. Segundo especialistas, o leite materno contém anticorpos essenciais para o combate de vírus e bactérias por parte do organismo da criança, além de diminuir o índice de obesidade no futuro e proporcionar melhor desenvolvimento do aspecto cognitivo do filho.

“É o que mais aproxima mãe e bebê. São vários os ganhos na saúde da criança e nunca é demais ficar alertando a população pela sequência do aleitamento materno. O desmame precoce deve ser exceção e nunca a regra”, reforça a pediatra Marise Tófoli.

Segundo a nutricionista materno-infantil Poliana Resende, todas as mudanças que acontecem na vida do bebê após o nascimento são amenizadas com a presença da mãe ao amamentar: o toque, o cheiro, os olhares, a passagem do alimento, a temperatura corporal, as batidas do coração, favorecendo o desenvolvimento emocional da criança.

Ela também afirma que a amamentação proporciona benefícios para a mãe, como a recuperação mais rápida do parto, a perda de peso, o prolongamento da anovulação, ou seja, a mãe permanece por mais tempo sem menstruar, e a redução do risco de câncer de mama e de doenças cardiovasculares.

Wildes Barbosa / O Popular
Marise Tófoli: “Não orientamos de forma alguma a deixar de amamentar, mesmo que a mãe esteja com a Covid”
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