De todos os projetos musicais do empresário britânico Simon Fuller, 56, os melhores foram aqueles capazes de aproximar em uma simbiose fanática os artistas do seu público. Midas pós-moderno, ele fez fortuna -avaliada pelo "Sunday Times" em 382 milhões de libras em 2014- transformando talentos questionáveis em ídolos da cena pop.Deu certo com as Spice Girls. Unanimidade entre meninas da década de 1990, o grupo estampou de desodorantes a lancheiras e vendeu mais de 80 milhões de discos com seu discurso de "poder feminino". Vingou também com a franquia de reality musical "Idol", exportada para 150 países -sua encarnação nos Estados Unidos, "American Idol", chegou a engajar 38 milhões de espectadores com suas histórias de superação e amor à música.Em sua primeira tentativa de criar outro fenômeno desde a saturação das competições musicais, Fuller agora volta seu olhar ao Brasil. Ele procura por aqui um dos integrantes da Now United, banda que procura músicos de 11 países para criar um tipo global de pop chiclete que, impulsionado pelas redes sociais, cole do Senegal à Coreia do Sul."Essa conexão intensa entre fãs e ídolos sempre me fascinou, e o Now United levará esse vínculo além. Com ele, quero um grupo que as pessoas admirem sabendo que está ao alcance delas, e não distante de suas realidades", diz o empresário à Folha.Além do Brasil, Índia, Reino Unido, Estados Unidos, Coreia do Sul, Senegal, Alemanha e México estarão representados. Os três países restantes ainda aguardam definição. "Será uma libertação dessa aura mística que envolve a indústria fonográfica, porque os fãs estarão do lado de dentro desta vez. Eles viverão as experiências ao mesmo tempo que os integrantes: estarão lá quando aprenderem suas músicas, coreografias, a falar com a mídia."Segundo Fuller, o Now United nasce para ser uma banda "em constante evolução", aberto a novos integrantes -e aos mercados de seus países de origem. A estratégia não é nova. Na Coreia do Sul, que tem no "kpop" uma das maiores indústrias de ídolos fabricados do mundo, o supergrupo Exo divide seus membros entre coreanos e chineses, aumentando seu apelo no gigantesco mercado vizinho.Do Menudo aos Backstreet Boys, passando pelos mais recentes Fifth Harmony e One Direction, esses conjuntos fabricados têm em comum o sucesso entre o público adolescente e o estigma de "entretenimento barato", pecha que Fuller rejeita."Há várias formas de se criar entretenimento de qualidade. Às vezes, ele vem de um artista extraordinário, mas, em outras, ele transcende o indivíduo e passa a ser uma mensagem, uma euforia e som específico. Isso exige pessoas que cantem ou dancem bem e tenham uma certa aparência. E pessoas assim devem ser reunidas, porque dificilmente todos esses fatores se alinharão por acaso", argumenta."No cinema, para se fazer um bom filme, reúne-se um filme um bom diretor, um roteirista, todo o elenco. É a mesma coisa: produção. Unir pessoas para realizar uma ideia. E isso não significa um vazio de sentido, a ausência de alma ou de coração."