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Erasmo Carlos deixa centenas de canções inesquecíveis

Divulgação/TV Globo
Erasmo Carlos, o 'Tremendão', morre aos 81 anos; última apresentação dele em Goiânia foi em 2017

A música popular brasileira sofreu mais um duro golpe. Depois da perda de Gal Costa, os fãs foram surpreendidos com a triste notícia da partida do bad boy da jovem guarda e o maior parceiro de Roberto Carlos. Erasmo Carlos, o Tremendão, morreu aos 81 anos no início da tarde de terça-feira deixando um importante legado e uma saudade do seu estilo inconfundível. O cantor e compositor estava internado havia mais de uma semana em um hospital no Rio de Janeiro para tratar uma síndrome edemigênica, foi entubado na segunda e não resistiu.

Erasmo era o nosso Elvis Presley, mas numa combinação com a doçura, o intimismo e o swing de João Gilberto. Nascido e criado na Tijuca, zona norte do Rio, ao longo dos mais de 50 anos de carreira, o roqueiro cantou o amor, o sexo, a amizade, a rebeldia, a liberdade e a transgressão com a sua capacidade de acompanhar as mudanças do tempo. Ele sai de cena seis dias após conquistar o Grammy Latino de melhor álbum de rock ou de música alternativa em língua portuguesa com o disco O Futuro Pertence À... Jovem Guarda (2022).

O disco traz oito releituras de sucessos lançados entre 1964 e 1966 da jovem guarda que ficaram marcadas na voz de outros cantores, caso de Nasci pra Chorar, Alguém na Multidão e O Ritmo da Chuva. Na premiação, Erasmo concorria na categoria com Baco Exu do Blues (Qvvjfa?), Criolo (Sobre Viver), Lagum (Memórias –De Onde Eu Nunca Fui) e Juçara Marçal (Delta Estácio Blues). O primeiro Grammy dele foi conquistado em 2014 na categoria de melhor álbum de rock brasileiro com o disco Gigante Gentil.

Falar do Tremendão sem falar de Roberto Carlos é impossível, e vice-versa. Eles eram tão amigos que Erasmo Esteves adotou o seu nome artístico em homenagem ao Rei. Como Lennon e Paul McCartney, eles resolveram assinar juntos todas as canções da dupla, mesmo as que um fazia sozinho. Só eles sabem quem fez o que na música e na letra nos seus incontáveis sucessos numa grande variedade de estilos. Juntos, foram mais de 500 canções, como É Preciso Saber Viver, Além do Horizonte, Nossa Senhora e As Curvas da Estrada de Santos.

Na última entrevista ao Jornal POPULAR, em comemoração aos seus 80 anos, em junho de 2021, Erasmo falou sobre a amizade com Roberto Carlos. “Funciona bem porque a gente se vê muito pouco (risos). A receita é essa. Uma vez o Mick Jagger foi perguntado porque os The Rolling Stones nunca tinham se separado e ele explicou que é porque cada um mora em um País diferente. Eu e o Roberto nos falamos sempre no dia do aniversário, no dia do amigo, no Natal e no ano-novo e, às vezes, nos vemos em especiais de TV”, disse o roqueiro.

A última apresentação do Tremendão na capital foi no final de agosto de 2017 no palco do Flamboyant in Concert ao lado de Leo Jaime. Eles cantaram os sucessos A Fórmula do Amor e Pega na Mentira, da discografia do roqueiro goiano, É Proibido Fumar e Sou uma Criança, Não Entendo Nada, de Erasmo. “Foi um show incrível”. Ele também lembrou a primeira vez que tocou em Goiás. “Viajava sozinho pelo Brasil. Cantei em Goiânia e em Anápolis. Recordo que o lugar não tinha nem microfone. As pessoas sentavam no chão para assistir”.

Início
Apaixonado por música e fanático torcedor do Vasco, Erasmo aprendeu a tocar violão com Tim Maia, que ainda era Sebastião, um dos seus melhores amigos da adolescência. Juntos fundaram o The Sputiniks em 1957, a banda que tinha aquele que seria o grande parceiro: Roberto Carlos. Esse momento foi retratado na cinebiografia Minha Fama de Mau (2019), protagonizada por Chay Suede. Com o fim do grupo, formou outro, o The Boys of Rock, mais tarde The Snakes, que acompanhou os dois cantores em seus shows solos.

Roberto e Erasmo tentaram bossa nova e se deram mal, mas com rock se tornaram reis da juventude no Brasil com a jovem guarda. Em 1965, o grupo foi levado para a TV num programa batizado com o nome do movimento, que também contou com a presença de Wanderléa. Eles se tornaram ícones e influenciaram gerações. Com o fim da atração, em 1968, os amigos seguiram carreira solo, mas continuaram compondo juntos durante os anos seguintes e lançaram hinos como Emoções, Detalhes e Quero que Vá Tudo pro Inferno.

Nos anos 1980, enquanto o amigo direcionou a carreira para as canções românticas, Erasmo se dedicou ainda mais ao rock. Compôs músicas para Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, As Frenéticas, Marisa Monte, entre tantas outras. Em 1985, o artista esteve na primeira edição do Rock in Rio, nas plateias lamacentas. Os anos 1990 foram marcados por uma tragédia familiar. Sua ex-esposa e musa inspiradora, Sandra Sayonara Saião Lobato Esteves, morreu aos 49 anos. A década foi uma das menos produtivas do roqueiro.

O Tremendão recuperou o vigor nos anos 2000. Ele voltou à estrada com a turnê Erasmo Convida, Volume II, e a compor como nunca. Em 2014, outra tragédia. O filho, Alexandre Pessoal, de 40 anos, morreu após um acidente de moto. Apesar das grandes perdas na vida, com coragem e criatividade, ele transformou suas dores em canções que alegraram e emocionaram os brasileiros. Nos últimos anos, lançou cinco novos discos, um sobre rock, outro sobre sexo e outro sobre samba. Em 2021, ganhou um documentário no Globoplay, dirigido por Pedro Bial.

Saúde
Erasmo vinha sofrendo com alguns problemas de saúde há algum tempo. Em agosto de 2021, ele passou uns dias no hospital internado com Covid-19 e tratava um tumor no fígado, descoberto em estágio inicial alguns anos atrás. No final de outubro, depois de internações, sua morte chegou a ser divulgada, o que levou o artista a se manifestar nas redes sociais. “Depois de me matarem, ressuscitei no Dia de Finados e tive alta do hospital! Obrigado a Deus, a todos que cuidaram de mim, rezaram por mim e torceram pela minha recuperação. Essa foto com a Fernanda traduz como estamos felizes”, postou. Erasmo casou com Fernanda Passos em 2019. Ele deixa dois filhos de uma união anterior e centenas de canções que marcaram a trilha sonora de muita gente.  

Cincos canções para lembrar de Erasmo

Minha Fama de Mau (1964)
Parceria com Roberto Carlos da fase anterior à Jovem Guarda, que deu a fama de rebelde ao compositor

Sentado à Beira do Caminho (1969)
Com o fim da Jovem Guarda, Erasmo busca novas caminhos para a carreira e emplaca esse grande sucesso

Dois Animais Na Selva Suja da Rua (1971)
De um dos seus discos mais cultuados, Carlos, Erasmo, a contestadora letra de costumes feita por Taiguara se encaixa ao espírito livre do artista

De Noite na Cama (1971)
Música que Caetano Veloso fez no exílio em Londres sob encomenda para o disco de Erasmo

Mais Uma na Multidão (2001)
Do álbum Pra Falar de Amor, contou com a participação de Marisa Monte. Tema de novela, colocou o compositor novamente nas paradas.

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