Uma festa na mata, adolescentes à flor da pele e um beijaço geral. No outro dia, a surpresa. Uma infecção transmissível pela boca começa a ameaçar um a um os que estiveram na balada. É quando paira a dúvida: quem beijou quem? Para cenário da história, as ruas da cidade de Goiás. Produção que entra nesta sexta-feira (17) no catálogo da Netflix, a série Boca a Boca explora as paisagens da antiga capital para narrar uma fábula sobre medos, descobertas e desejos.O cineasta Esmir Filho, mesmo diretor dos filmes Os Famosos e Os Duendes da Morte (2009) e Alguma Coisa Assim (2017), não sabe ao certo como encontrou Goiás. Quando esteve no Festival de Cinema de Brasília, em 2019, pegou o carro e foi parar na antiga Vila Boa para dar uma conferida despretensiosa na cidade. E não deu outra. “Fiquei encantado em como o município está bem preservado. Percebi que tinha tudo a ver com que estávamos procurando para a série”, destaca o realizador.Boca a Boca não foi filmada integralmente em Goiás. Parte de gravações externas e internas se deram em São Paulo, cidade natal de Esmir. A cidade de Goiás serve como paisagem para uma trama fantasiosa que acontece na fictícia Progresso, cidadezinha do interior que guarda traços coloniais e ruralistas de um passado histórico. “No roteiro, Progresso sempre foi um local baseado na agropecuária e isso fala muito sobre a história e os personagens inseridos na trama”, explica.A narrativa de Boca a Boca é fabulesca em tons de suspense sobre uma epidemia que surge da noite para o dia na cidade. Na trama, os protagonistas vividos pelos atores Iza Moreira, Michel Joelsas e Caio Horowicz precisam descobrir quem beijou quem na fatídica festa. Durante a busca, os personagens seguem jornadas pessoais de aprendizados sobre corpo e sexualidade. “Queria muito falar dessa juventude de hoje, tão mergulhada na conexão virtual, e de como ela lida com o físico”, ressalta Esmir.Não faltam cenas de beijo gay no Coreto da praça central ou de pegações acaloradas nas ruas de pedra da cidade de Goiás. As gravações específicas no município foram realizada em setembro de 2019. Diversos prédios históricos, praças e monumentos, como o Chafariz de Calda, participam da história e ajudam a traçar a narrativa visual pensada por Esmir. “Quando estive pela primeira vez em Goiás, percebi a dinâmica de uma cidade que revela o passado brasileiro, mas tão jovem, com universitários que rejuvenescem a paisagem”, destaca.Vilaboense “roedora de pequi” como gosta de se auto-intitular, a geógrafa e pesquisadora do Patrimônio Histórico Sinara Carvalho de Sá foi convidada pela equipe de Boca a Boca para integrar o time de produção. Para a profissional, a série amplia a perspectiva do cenário de Goiás em uma trama moderna, heterogênea e multifacetada. “O Esmir fabrica sonhos. É uma série que transporta o espectador para uma espécie de imaginário. Nenhuma cidade combinaria tão bem quanto Goiás”, destaca Sinara.PandemiaEm Boca a Boca, Esmir explora elementos psicodélicos de uma balada regada a luzes neon e música eletrônica. Há no elenco nomes como Denise Fraga, Michel Joelsas, Luana Nastas e Esther Tinman. O diretor lança uma série sobre uma doença transmissível em meio à pandemia do novo coronavírus. Pura coincidência, ele garante. “Há quadros semelhantes em epidemias, como o pânico, a desconfiança, a discriminação e os privilégios de alguns corpos. Na série, a doença é o ponto de partida para embarcar nos relacionamentos humanos, afeto, acolhimento”, explica.-Imagem (Image_1.2086732)-Imagem (Image_1.2086731)