Os eventos climáticos extremos, com enchentes históricas, secas, incêndios florestais recordes e ondas de calor, têm afetado milhares de pessoas no País. Mas também têm trazido à tona um lado especial do brasileiro, o da solidariedade. O "Globo Repórter" desta sexta-feira (17) vai ao encontro de pessoas que, assim como a população do Rio Grande do Sul, já passaram por tragédias climáticas, foram salvas, receberam ajuda e, agora, estendem a mão para o povo gaúcho. Os repórteres Graziela Azevedo, Pedro Bassan, João Mota, Bette Lucchese e Beatriz Castro contam histórias de projetos e pessoas que estão se mobilizando de norte a sul para ajudar os afetados pelas enchentes e formam, hoje, uma grande corrente do bem. Desde a grande inundação no Rio Grande do Sul, as cidades que cresceram às margens do Rio Taquari estão pedindo socorro, mas uma onda de solidariedade está unindo o País para salvar e resgatar as pessoas que ficaram isoladas. A repórter Graziela Azevedo acompanha a chegada de um grupo que sai de Santa Catarina levando vassouras, rodos e muita vontade de ajudar a limpar a cidade de Muçum. Em Roca Sales, pequenos produtores rurais levam tratores para tirar a lama das ruas. O programa registra momentos comoventes em meio ao cenário desolador das casas destruídas pela terceira vez, desde setembro do ano passado.No Morro do Espelho, em São Leopoldo, uma corrente formada por jovens estudantes alimenta e aquece quem está desabrigado. O repórter Pedro Bassan vai até o grêmio estudantil de um colégio que tem um departamento permanente de voluntariado onde alunos, ex-alunos, pais e professores se uniram e estão fazendo 600 marmitas e lanches todos os dias com recursos que recebem da comunidade escolar. A comida é levada para os desabrigados que estão em entidades próximas ao colégio. São Leopoldo tem hoje parte da cidade inundada e o Morro do Espelho se tornou um oásis de segurança e solidariedade.“O que mais me impressionou foi ver que as pessoas têm a consciência de que a vida delas mudou para sempre, seja porque elas perderam tudo e vão ter de recomeçar do zero, seja porque elas perderam o próprio vínculo emocional com a casa delas. O que eu testemunhei foi uma ruptura das pessoas com a vida que elas viviam antes. Nada vai ser igual daqui para frente. Ao mesmo tempo, é importante ver o quanto isso aproxima as pessoas e cria laços. E as pessoas se unem para ajudar as outras. Foi um sentimento de que, se o outro não está bem, eu também não estou bem. Esse sentimento de estar bem é coletivo, não é cada um por si. Não existe mais um, existe o nós”, conta ele.Em 2023, um temporal devastou a cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Na ocasião, as chuvas provocaram forte estrago na Vila do Sahy, bairro periférico localizado na encosta da Serra do Mar, em que muitas crianças foram atingidas. O repórter João Mota, da TV Vanguarda, que cobriu a tragédia na época, foi ao encontro de crianças que passaram por esse momento difícil e hoje se mobilizam para mandar um pouco de esperança para as crianças do Sul. “Acompanhando a vida deles nesse tempo todo, me impressiona como o fato forçou uma maturidade imensa nos que mal começaram a vida. Tudo aconteceu na frente deles. Atualmente, com apoio psicológico e ainda muito sensibilizados com o assunto, eles já voltaram aos estudos e, tendo passado por aquilo tudo, hoje mandam uma mensagem ao Sul do País baseado no que viveram: é difícil, mas tudo passa”, conta João.Após fortes chuvas na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, em 2010, um grande deslizamento de terra atingiu centenas de pessoas no Morro do Bumba. No mesmo ano, outra tragédia atingiu o Rio de Janeiro, dessa vez no Morro dos Prazeres, em Santa Tereza. No programa desta sexta-feira, a repórter Bette Lucchese acompanha um bombeiro aposentado que, além de ter trabalhado salvando vidas, cuida de moradores de rua, distribui comida e agora faz a ponte entre doadores e os postos de recolhimento da Ação da Cidadania. Bette também vai a Petrópolis reencontrar sobrevivente da tragédia que está tentando reconstruir a vida e conseguiu montar uma nova casa graças às doações.As mensagens de força e esperança para o Rio Grande do Sul chegam de todas as regiões do Brasil. No Nordeste, a repórter Beatriz Castro encontra uma sobrevivente do maior desastre climático de Pernambuco, em 2022, onde temporais provocaram deslizamentos de terra e milhares de pessoas ficaram desabrigadas. Cleide Silva era moradora de área de risco e perdeu tudo.À repórter, ela diz ser grata à pessoa que a salvou e acredita que o povo do Sul também vai conseguir se reerguer. Cleide conseguiu refazer a vida e voltou a estudar. “As pessoas que viveram a tragédia em Pernambuco se identificam muito com as que estão no Sul. Eles sabem que só o tempo vai acalmar o coração, mas é preciso ter muita resiliência. Muitos deles, até hoje, ainda vivem com as doações que receberam na época. Vamos mostrar como as pessoas aprenderam a ressignificar a maior tragédia de suas vidas em um recomeço, a partir da força da solidariedade”, afirma Beatriz.