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Grupo Coró de Pau completa 20 anos promovendo a música em Goiás

Wildes Barbosa
Geovanna Tavares e Claudinei Santos Amaral, o Mestre Alemão, são os responsáveis pelo Grupo Coró de Pau

Barulhos da cuíca e do chocalho dominam todos os cantos da sala. Enquanto o atabaque e o pandeiro são agitados um a um, o carrilhão e a marimba criam sons friccionados que fazem todo mundo cair na dança. O responsável pelas principais rodas de percussão e música popular de Goiânia e dos blocos de carnaval tem nome e sobrenome: Grupo Coró de Pau, que completa exatos 20 anos neste mês.

Muito além de grupo de música que faz performances em espaços e festivais culturais de Goiás, o Coró de Pau é uma associação que se destaca por ações sociais e culturais com música, bandas, produções de instrumentos de percussão e blocos de rua. Há ainda os projetos paralelos da entidade, a exemplo do Bloco Coró Mulher, projeto específico para mulheres instrumentistas, o Bloco do Caçador e o Bloco Desencuca.

Os 20 anos do Coró de Pau se devem a profissionais da cultura que, entre desafios e muito trabalho, decidiram tocar o projeto independente e sem financiamento público. O nascimento da associação tem relação direta com o encontro do principal mentor do grupo com a cidade de Goiânia. Nascido na zona leste de São Paulo, a vida de Claudinei Santos Amaral, o Mestre Alemão, mudou aos 17 anos, quando conheceu o Mestre Lumumba dentro de um projeto na Febem de São Paulo, no Centro de Convivência e Juventude.

“Eu ministrava uma oficina de percussão e confecção de instrumentos. Com o mestre, tive contato com a cultura afro-brasileira, o candomblé. Tempo depois eu vim para Goiânia participar de uma oficina na calourada na PUC Goiás”, conta o Mestre Alemão, que ainda participou de outros eventos goianos, como o GO Rock Festival, antes de se fixar na capital. Depois de idas e vindas, como a montagem de blocos de carnaval da cidade de Goiás, Claudinei acabou aportando no Cerrado goiano. Nascia ali o Coró de Pau.

Quem toca a associação ao lado do Mestre Alemão nos projetos de continuidade é a produtora Geovanna Tavares, que entrou no grupo em 2005, depois de viver seis anos em Barcelona, na Espanha. Hoje, o Grupo Coró de Pau mantém em suas ações aulas de música e confecção de instrumentos na Casa de Vidro Associação de Cultura, localizada no Setor Universitário, além do bloco de carnaval, festas populares e apresentações em centros e espaços culturais da cidade.

“Nós abarcamos muitos segmentos da cultura e arte popular em lugares que pudemos chegar. Vejo que ainda temos muita oportunidade de galgar ainda mais espaços porque é esse o espírito da música”, destaca Geovanna. Em clima de festa e de folia, o Coró de Pau participa desde dos blocos carnavalescos mais tradicionais do Estado, até de calouradas e eventos culturais, como o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) e o Canto da Primavera. “A música é possível estar em qualquer lugar, de qualquer forma. O tambor faz parte da raiz brasileira”, diz.

Ao longo dos 20 anos de grupo, diversos músicos goianos foram formados dentro do Coró de Pau. O Mestre Alemão também já perdeu a conta de quantos instrumentos foram fabricados para serem vendidos ou acrescentados ao trabalho dos blocos de carnaval ou das apresentações do grupo. “Eu faço instrumentos todos os dias, fabricando tambores para serem vendidos ou na manutenção de outros que já estão sendo tocados”, explica o instrumentista.

Em busca de uma sede

Em 2019, o Mestre Alemão e Geovanna Tavares foram surpreendidos com a notícia de que teriam que deixar a sede que a associação ocupava desde 2007. A Universidade Federal de Goiás notificou o grupo para que suspendesse as atividades da banda no Diretório Central de Estudantes, o DCE, localizado no Setor Universitário. Ao longo dos anos, o Coró de Pau promoveu, em parceria com a Fundação Internacional de Capoeira Angola, a revitalização do espaço.

Na época, a Associação ainda buscou apoio jurídico da comunidade acadêmica, para sensibilizar a UFG e garantir os projetos de continuidade no DCE. O que não aconteceu. O grupo precisou abandonar o espaço e mudar toda a dinâmica de atuação artística. "Foi um episódio que tentamos conversar, manter um diálogo, mas ficamos sem sede e, agora, o grupo tem trabalhado dividido em diversos lugares da cidade", reitera Alemão. 

Com três ações continuadas, o Coró de Pau tem atuado no Centro de Excelência da Juventude, para fazer os ensaios do bloco e guardar os instrumentos. Já na Casa de Vidro do setor Universitário, a associação promove aulas de percussão. O Mestre Alemão recebe também os alunos no próprio quintal de casa para oficinas de confecção de instrumentos. 

"A importância de ter um lugar físico é para contemplar todos nossos projetos e para facilitar o acesso das pessoas e do nosso, com mais conforto para trabalhar", reflete Alemão. Enquanto não encontra um espaço que possa ocupar permanentemente, a Associação se desdobra em ações semanais para que o trabalho não pare. "O desafio é constante", finaliza.

No Cerne da Madeira

Os sons dos diversos instrumentos de percussão criados e ensinados pela Associação Coró de Pau podem ser ouvidos no disco No Cerne da Madeira, disponível nas plataformas digitais. Com 12 canções de um repertório formado por composições de artistas do próprio grupo, o trabalho une instrumentos de percussão que replicam instrumentos africanos, tribais, utilizados pelos músicos da banda, construídos por meio de material orgânico recolhido de maneira sustentável. Já no canal do Youtube do Coró de Pau é possível assistir a aulas, ensaios e apresentações do grupo ao longo dos últimos anos. 

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