O ator australiano Hugh Jackman, 48, apareceu na manhã deste domingo (19) para uma entrevista diante de cerca de 200 jornalistas em São Paulo, poucas horas depois de chegar à cidade.Ele veio do Festival de Cinema de Berlim, onde foi exibido "Logan", terceiro filme solo do herói de quadrinhos Wolverine, que o ator interpretou em outros seis filmes da franquia "X-Men", desde 2000.O filme é anunciado como a última atuação de Jackman no papel. Sorridente, sem a barba do personagem , ele disse que não se sentia triste. "Se daqui a 12 meses não conseguir nenhum outro papel no cinema, aí vou ficar triste", brincou o ator.Depois de 17 anos vivendo o herói mutante que tem garras retráteis nos punhos e pode se curar de qualquer ferimento, ele deu uma definição surpreendente do personagem. "Eu acho que nós definimos melhor Wolverine pelo lado humano do que pelo lado mutante. Debaixo de uma casca grossa, ele tem uma profundidade que eu não conhecia quando eu comecei a interpretá-lo. Agora, velho e doente, acredito que este é o filme definitivo de Wolverine."A trama se passa em 2029, quando um Wolverine beberrão e amargurado, já perdendo seus poderes de recuperação, cuida do professor Charles Xavier, ex-líder dos X-Men, que apresenta sinais de demência.Uma garotinha de 11 anos vai cruzar o caminho do herói, perseguida por um batalhão de vilões armados. Wolverine pensava que mutantes não nascessem mais na Terra, mas Xavier garante que Laura é realmente mutante. E mais: pode ser filha de Wolverine, ou pelo menos ter sido criada a partir de seu material genético.A atriz Dafne Keen é um verdadeiro achado do diretor James Mangold. Seu personagem não fala, transmitindo suas reações pelo olhar. Laura se afeiçoa a Xavier e demora para engatar amizade com Logan (o nome "real" de Wolverine). Depois, vai se mostrar uma pequena arma mortal.Um repórter perguntou se Jackman, após 17 anos no papel de um dos mais violentos heróis, poderia se sentir desconfortável ao ser superado por uma criança em algumas cenas do filme. "Você tem filhos?", perguntou o ator. "Se tem, sabe bem o que é ser derrotado por crianças todos os dias. Às vezes preciso me trancar no quarto para fugir da criançada", disse Jackman, que tem dois filhos.Muito questionado sobre a evolução dos filmes baseados em quadrinhos, ele lembrou que na época do primeiro "X-Men", em 2000, o gênero engatinhava. "Era apenas uma parte bem pequena do mercado de entretenimento. Hoje, tem toda essa força. Mas acho que o maior mérito de 'Logan' é que não foi pensado como um filme de heróis, mas um filme de pessoas."A extrema violência na tela, com muitas e muitas cabeças perfuradas pelas garras de Logan e Laura, é essencial no filme, segundo Jackman. "Se você quer entender Logan, é preciso tentar entender a violência e as consequências dela. Logan foi criado para ser uma arma para matar, não um ser humano."Ainda conjecturando sobre a violência na tela, ele ressalta uma frase que Wolverine diz para Laura: "Não seja aquilo que eles fizeram de você, seja você mesma". Apesar de ter cenas ação quase ininterruptas, "Logan" foca a questão existencial de um herói que se sente velho e cansado, esperando a morte.Jackman destacou que "Logan" tem influências inseridas de dois faroestes, "Os Imperdoáveis" (1992), de Clint Eastwood, e "Os Brutos Também Amam" (1953). Este último é até assistido por Laura e Xavier num quarto de hotel. "Filmes que falam sobre pessoas levadas a matar. Assim é Logan."O ator está finalizando as filmagens de um musical, "The Greatest Showman". Algo bem diferente de "Logan", e ele acredita que nos próximos tempos deva filmar menos, provavelmente em longas mais modestos, longe das superproduções.Um repórter presenteou Jackman com uma rapadura, e explicou que era um doce típico brasileiro, muito duro e muito doce. O ator aproveitou para emendar: "É como Logan, que é duro e doce. Mais duro do que doce, claro"."Logan" estreia nos cinemas brasileiros no dia 2 de março.