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“Nunca pensei em tirar minha vida”, diz padre Marcelo Rossi

Divulgação

O padre Marcelo Rossi decidiu abrir o seu coração no livro Batismo de Fogo, o mais pessoal da carreira e que começou a ser escrito depois que ele foi empurrado do altar de uma altura de mais de 2 metros durante uma missa, em 14 de julho de 2019.

O religioso, que celebra 25 anos de ofício neste ano, narra ao longo de 144 páginas problemas pessoais, como o suicídio do avô, ex-militar, com um tiro, o uso por um ano de anabolizante acreditando que ficaria mais forte e bonito para conquistar as meninas e a depressão que sofreu e o fez perder muito peso e chegar aos 60 kg, muito pouco para os seus quase 2 metros de altura.

“Eu quis mostrar que sou um ser humano normal e que quer buscar a santidade”, conta o sacerdote, em entrevista por telefone. No bate-papo, o padre conta que se curou da depressão com a fé e que nunca pensou em tirar a vida. “Confesso que um dos fatores que fizeram eu não pensar nisso foi o amor que tenho pela minha mãe. Eu a amo tanto que não daria esse dissabor para ela mais uma vez na família”, conta. Confira.

 

Como foi o processo de produção do livro e como é lançá-lo sem as tradicionais viagens pelas cidades para divulgar o trabalho, assim como o senhor sempre fez?

É algo que eu amo fazer, visitar várias cidades do Brasil, autografar e levar uma mensagem. O livro estava pronto antes da pandemia, no começo de janeiro, e minha vontade era ter lançado antes, mas tudo foi no tempo de Deus. Nesse período, acabei fazendo pequenas alterações na obra. Fiquei cinco meses parado e não é fácil para um sacerdote ficar tanto tempo longe dos seus fiéis. Alguém já viu na história igrejas sendo fechadas? É um mundo antes e depois do novo coronavírus e cheio de alertas.

 

Quais são esses alertas?

Estou muito esperançoso pela vacina, mas até lá não sei o que será do nosso mundo. Vamos ter de trabalhar a depressão e o suicídio para não deixar essa estatística crescer ainda mais. Estamos num mundo, infelizmente, onde as pessoas são indiferentes com as outras e temos de fazer a diferença. Conversando com amigos médicos, que estão na linha de frente da doença, eles falaram que vai vir algo tão grave como a pandemia e que já está acontecendo. Um indício são os divórcios porque viver não é fácil e conviver é mais difícil. Estou falando que podem aumentar os casos de depressão.

 

Batismo de Fogo é o livro mais pessoal da sua carreira. Ao longo de 144 páginas, o senhor conta o episódio da queda em 2019, fala do problema com anabolizante e também de depressão. Por que o senhor quis narrar a própria vida?

Nesse livro, eu abro o meu coração. Ele é totalmente diferente de todos os outros trabalhos que já lancei. Depois de 25 anos como sacerdote, quis mostrar que sou um ser humano normal que quer buscar a santidade. As pessoas têm o hábito de colocar você num pedestal, sem conhecer tudo que se passou na sua vida. Quando falei pela primeira vez que eu tinha depressão, recebi muitas mensagens de pessoas questionando como um homem de fé pode ter essa doença. Sou de carne e osso e foi justamente a fé que me salvou.

 

No primeiro capítulo, o senhor conta o episódio do atentado em 2019 e lembra que, quando ainda estava no chão, montava o quebra-cabeça do que havia acontecido. Caído pensava o que Deus queria com aquilo. A qual conclusão o senhor chegou?

Eu compreendi que Deus tem um plano na minha vida e continua tendo e que você nunca pode perder o foco no essencial nesse mundo tão superficial. Ele estava mostrando uma confirmação para mim, estava me dando uma sobrevida porque eu poderia não ter saído vivo daquele empurrão, mas não tive nenhuma lesão. Foi a maior dor que senti até hoje. Olha que eu já tive uma experiência de morte que foi quando bati o carro e vi minha vida passar por um fio. Sei que Deus tem um plano e quero continuar ajudando os outros.

 

O senhor caiu de uma altura de 2 metros depois de ser empurrado e saiu ileso. O senhor venceu uma depressão, o vício em remédios, mas o Batismo de Fogo foi essa queda. Por quê?

Não existe salvação sem cruz e a fé é o caminho da superação. Hoje, eu estou melhor que ontem e buscando melhorar amanhã. Se eu tenho essa percepção, não vou permitir que a depressão tome conte da minha vida e vou poder fazer a diferença num mundo da indiferença. Nessa queda, eu comecei a compreender que todas essas dificuldades me fortaleceram.

 

O senhor passou por um caso de depressão e 90% dos suicídios têm a ver com situações de transtorno mental, como o senhor relata no último capítulo do livro. O senhor chegou em algum momento a pensar em tirar a própria vida, já que o senhor fala da perda de sabor da vida?

Isso não passou pela minha cabeça porque eu lutei e não desisti. Nunca pensei em tirar a minha vida. Confesso que um dos fatores que fizeram eu não pensar nisso foi o amor que tenho pela minha mãe. Eu a amo tanto que não daria esse dissabor para ela mais uma vez na família. O meu avô foi militar e perdeu uma das vistas na guerra entre São Paulo e Minas Gerais. Imagina essa situação, com seis filhos e a mulher dele foi diagnosticada com tuberculose e teve pouco tempo de vida. Depois, ele não cuidou de um dente e perdeu a outra vista. Ele se matou com um tiro na frente da minha mãe. Até hoje ela se lembra disso, mas não como um trauma. É por isso que sou contra as armas, mesmo já tendo servido o Exército.

 

O senhor fez uso de remédios para tratar a depressão?

Não tenho nada contra remédios, pelo contrário, até queria tomar, mas não poderia por conta de outros que tinha tomado. Nunca tomei antidepressivo e ainda bem que não fiz uso no bom sentido, porque ele me tiraria mais ainda da realidade. Para enfrentar a depressão, você não pode fugir da realidade. Tem momentos que a pessoa precisa de antidepressivo, mas ela não pode ficar presa nisso. A força de poder vencer foi a fé, mas não foi fácil porque passei alguns dias sem conseguir dormir e hoje graças a Deus não tenho mais insônia.

 

No livro, o senhor conta que começou a tomar anabolizantes para ficar musculoso, em 1988. Apesar de não viciar, os anabolizantes causam certa dependência emocional. Como foi essa luta do senhor?

Comecei a tomar por vaidade mesmo durante um ano porque fui na onda de colegas de academia. É algo de que me arrependo, apesar de não ter tido nenhum problema. Muitos amigos que continuaram fazendo uso não estão aqui mais comigo, eles morreram de câncer, outros tiveram perda de cabelo. É um mundo bastante perigoso. Será que vale a pena você sacrificar seu fígado ou ficar dependente por causa de músculo? Claro que não, tudo isso faz parte de uma ilusão.

 

De que maneira a fé pode ser colocada em xeque quando casos como o de João de Deus e do padre Robson vêm à tona?

Eu sempre peço a Deus todos os dias quando acordo para que eu não me torne um tribunal porque vivemos num mundo que sempre será um julgamento. Não é essa minha missão, minha missão é querer ser um hospital, um lugar que acolhe a todos, não o pecado, mas o pecador. Eu não quero ser juiz de ninguém, não é a minha função, cada um vai ter o seu acerto no julgamento final. Não compete a mim julgar. Minha função como sacerdote é acolher e salvar.

 

 

Livro: Batismo de Fogo - Conheça a Força da Superação Divina
Autor: Padre Marcelo Rossi
Editora: Planeta
Páginas: 144
Preço: R$ 29,90 (físico) e R$ 23,90 (e-book)

Martin Gurfein
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