A nova versão de Pantanal, escrita por Bruno Luperi, com direção artística de Rogério Gomes, estreia na TV Globo no dia 28 de março, mas as gravações na região sul mato-grossense começaram em agosto de 2021 e dão o que falar até hoje. Elenco guarda histórias que ficarão para sempre na memória, e acredita que elas estarão de alguma forma impressas no resultado que o público verá na TV. Há quem tenha acompanhado a trama, escrita por Benedito Ruy Barbosa, há mais de 30 anos, e há quem não era nascido na época. Mas dificilmente há quem nunca tenha ouvido falar de Juma Marruá e José Leôncio.De qualquer maneira, Bruno Luperi tranquiliza o público que é fã e guarda grandes expectativas para a estreia. “O tempo é um agente fundamental na adaptação de Pantanal. Há 30 anos, a grande inovação tecnológica era o rádio e a luz chegava por gerador. A internet chegou, as fronteiras diminuíram. Aquela dramaturgia proposta há 30 anos acontece hoje à luz do nosso tempo, nos dias de hoje, nos dilemas de hoje. A história é a mesma, ela estará lá”, comenta o autor.E para registrar essa saga, grande parte do elenco esteve no Pantanal no segundo semestre de 2021, onde as gravações foram iniciadas. Malu Rodrigues, que interpreta Irma na primeira fase da novela, destaca o quão fundamental para o processo de criação foi o fato de ter começado a gravar durante a viagem. “Eu e Bruna (Linzmeyer) – que interpreta Madeleine, irmã de Irma – não gravamos nada antes da nossa viagem. Quando eu cheguei, a Bruna estava lá. Rolou uma conexão muito louca. Tivemos essa intimidade big brother na fazenda que ajudou bastante nessa construção”, comenta a atriz.Bruna reforça o depoimento de Malu. “Esse encontro no Pantanal foi bom, a gente teve tempo de conviver. A relação das irmãs é intensa e paradoxal. Ao mesmo tempo que se amam muito, é complexo. Tem inveja, raiva... Lembro da nossa preparação, a gente fazia uns ensaios, tinha a coisa de querer estar perto, mas a raiva de estar perto. Relação de irmãos tem um pouco essa intensidade. Lembro também quando estávamos no estúdio e vimos a Irma e Madeleine da segunda fase – Camila Morgado e Karine Teles – vestidas com o figurino. Foi emocionante.”O ator Renato Góes, que interpreta José Leôncio na primeira fase da novela, quis antecipar o sentimento de estar no Pantanal e por isso foi para lá um pouco antes das gravações começarem. “A minha intenção era perder o primeiro encanto gigantesco de quando você chega. É difícil porque, a cada cenário, tinha uma coisa linda nova. Eu escutava uma história uma vez e contava para quem chegava como se conhecesse aquela história há anos, numa tentativa de laboratório. O convívio natural que acabou acontecendo nos 50 dias que passei com elenco e pessoas de lá foi fundamental. Uma preparação muito prazerosa.”Mas nem tudo são flores. Há também fauna - bastante fauna! Renato conta que em determinado momento da gravação no Pantanal ficou hospedado na fazenda de Almir Sater. “Estávamos no rio conversando e perguntei a Almir: e se nós víssemos uma onca, qual seria a melhor reação? Respeito, olhar e voltar pra casa, ele disse. Dois, três minutos depois aparece uma onça, no mesmo rio onde estávamos, mas mais distante. Eu esperando a hora de recuar. Mas ficamos lá, dentro do rio olhando, ela veio na nossa direção. Eu saí, peguei o celular, comecei a filmar e aquela experiência foi maravilhosa. Conseguimos ouvir os esturros dela. No dia seguinte, a gente voltou para ver as batidas da onça pelo lugar onde ela tinha passado”, acrescenta o ator.Letícia Salles, que interpreta Filó nas primeiras semanas da novela, comenta a relação com Bruna Linzmeyer. “Passamos um sufoco com Bruna nos rios porque ela ia para uns lugares desbravar... Parecia que ela era a Filó e eu a Madeleine. Eu não tinha coragem de ir onde ela estava. Mas foi uma delícia, os perrengues foram muito legais. A gente ficou com inveja do Renato porque ele viu a onça (risos)”.Embora o medo de Letícia tenha sido real, Juliana Paes viveu um episódio tenso, mas engraçado ao mesmo tempo. “Estava fazendo uma cena da Maria Marruá, que estava grávida, e a (diretora) Noa (Bressane) pediu pra eu ficar boiando. Os ouvidos ficam submersos. Eu estava ali no meio do rio, parada... Muda a câmera de posição, eu ali boiando, só escutava os barulhos debaixo da água. Daqui a pouco, uns barulhos mais altos. Quando eu vi era o André, assistente de direção, falando pra eu sair da água. Quando eu olho pro lado, o jacaré traçando uma reta em minha direção. Eu saí correndo com a barriga de grávida pendurada.Apesar da fama, a onça e os jacarés não são os bichos mais perigosos, segundo Gabriel Stauffer, que dá vida ao personagem Gustavo. “O pessoal falava que o bicho mais perigoso era o queixada, um porco do mato que faz um barulho com o dente. Se ele aparecer, você tem de sair correndo, subir mais de um metro, pois parece que ele quebra até perna de cavalo. No meu último dia por lá, chegamos na ponte do Rio Aquidauana, em vez de atravessarmos de carro, perguntei se podia atravessar andando. Queria fazer a desconexão. Fiquei andando, agradecendo, ouvindo o canto dos pássaros, viajando. Andei uns 20 metros para frente e ouvi um barulho: saí correndo, pensando: é o queixada, é o queixada. Não sei se era, entrei no carro desesperado”.Os bichos, em seu habitat natural, não fizeram mal a ninguém. E também foram respeitados o tempo todo, por equipe e elenco, comprometidos em causar o menor impacto possível nesse bioma que é um dos mais ricos do mundo em diversidade de fauna e flora. O “perrengue real”, como dizem os envolvidos, não tinha nada a ver com os animais. “O maior perrengue, e isso talvez seja unânime, era abrir e fechar porteira e o deslocamento de todo dia. Eu lembro que quando cheguei lá fiquei muito impressionada com o nível de produção, uma logística difícil. Como é possível isso existir, a quantidade de gente, de equipamentos, e a gente tinha o deslocamento de 1h30 pra ir ou tinha a opção de ir de avião”, diz Bruna Linzmeyer.Estima o elenco que o recordista de abrir e fechar porteiras entre eles foi Irandhir Santos, que interpreta Joventino na primeira fase e José Lucas de Nada na segunda. Por uma razão: medo de avião. “Eu tenho muito medo e muito respeito pelo meu medo. A produção foi super cuidadosa porque, quando coloquei isso, eles consideraram. A diferença de uma fazenda pra outra, de carro, dava uma hora e um pouco, abrindo todas as porteiras. E de avião eram 7 minutos. Mas eu ia de carro porque eu dizia pra produção que eu até podia ir de aviãozinho, mas quando chegasse eu não estaria o mesmo no resto do dia”, relata.