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Susana Vieira desembarca em Goiânia: “A minha alegria é estar com todo mundo”

Daniel Chiacos
Atriz Susana Vieira

Celebrando 60 anos de carreira, a atriz veterana Susana Vieira, de 80 anos, desembarca em Goiânia neste sábado (12) e domingo (13) estrelando o monólogo Uma Shirley Qualquer, no Teatro Goiânia. O texto é uma releitura da clássica personagem Shirley Valentine, do inglês Willy Russel, cujo premiado monólogo é interpretado por atrizes do mundo inteiro desde 1986. Na versão brasileira de Miguel Falabella e direção de Tadeu Aguiar, Shirley Valentim ganha vida com Susana, que divide com a plateia e as paredes de casa a sua trajetória, suas angústias e solidão enquanto mulher casada e mãe de dois filhos.

A atriz conta mais sobre a personagem que tem muito de si mesma e de tantas mulheres, e sobre os desafios de fazer um monólogo e voltar aos palcos após a pandemia:

Susana, apresenta um pouco da Shirley Valentim? Quem é essa personagem?

A Shirley é uma mulher como muitas de nós, com sentimentos muito parecidos com os de mulheres de diferentes décadas e épocas, como a solidão. Aquela sensação de quando o casamento já não representa nada para a mulher, mas ela continua casada. O abandono que ela sente quando os filhos saem de casa. É uma peça muito universal. E como se trata de uma mulher de classe média que não trabalha fora, somente dentro de casa, a solidão dela fica muito maior – e, então, ela fala com as paredes. As amigas dela são as paredes de casa. Ela conta toda a vida dela e conta sobre o dia dela pra parede.

A adaptação da peça é de Miguel Falabella, seu parceiro de outros trabalhos. Como é trabalhar nesse projeto com a “mão” dele?

A peça é uma comédia com texto originalmente em inglês, que várias atrizes do mundo todo já interpretaram no teatro. É um monólogo muito importante e também muito difícil. O Miguel Falabella fez a tradução e adaptou a peça, colocando algumas palavras e piadas mais abrasileiradas – algo que ele é fantástico em fazer. É como se fosse um stand up de uma história, que é contada por mim e que tem muita graça, porque a Shirley é uma mulher que não tem vergonha de contar nada do que passa, seja sobre um mal-estar, situações vergonhosas ou sobre abandono. A maravilha, então, é que todo mundo se identifica quando está na plateia, porque mostra muitas das coisas que se passam dentro dessas mulheres e que elas não extravasam, não botam pra fora. Em vários momentos da peça eu sou aplaudida, e isso é mérito do autor dessas falas, que é o Miguel.

Em um monólogo, é praticamente só você e o texto segurando os 70 minutos de espetáculo. Como é essa experiência?

Sempre preferi trabalhar com outras pessoas. Gosto de contracenar, olhar para outros atores que admiro e fazer uma troca. Quando me ofereciam monólogos eu costumava ser reticente, porque achava, inclusive, que era chato. Hoje em dia, esse formato de uma pessoa sozinha no palco é muito comum com os comediantes, que falam palavrão, de política, o que não é muito a minha praia. Cheguei a fazer um monólogo muito bonito, sobre um livro da Clarice Lispector, mas que tinha junto balé e música. Segurar a plateia só com texto dá um pouco de medo e precisa ser uma boa atriz no palco. Desculpe a falta de modéstia, mas a verdade é essa. Para você manter uma plateia atenta durante mais de uma hora, sem grandes recursos como de cenário, já que se trata de uma casa muito simples, é difícil. Falei várias vezes que tinha medo para os produtores, mas como dizia o Miguel para mim e Arlete Salles, na época que fazíamos a peça dele, A Partilha: “Vocês estão com medo de que? Vocês são baratas cascudas” (risos).

Ao ouvir sobre a Shirley, a impressão é de que a personagem tem muito a ver com você. O que você leva da Susana para ela?

Acho que tudo, vou por inteira. Desde o momento em que eu piso no teatro até a hora em que me expulsam de lá, porque sempre quero ficar até o final, tirando foto e conversando com todo mundo que pede. A Shirley já está dentro de mim, apesar da história dela não ter muita coisa a ver com a minha. Me dá muito prazer fazer essa peça, porque a Shirley se lembra da juventude dela, como ela era alegre, como ela era feliz. E aí, logicamente, tem vários vários pontos que podem parecer comigo, em diversas situações da minha vida - de solidão, de casamento, sabe? Eu acho muito lindo, chego a chorar na peça. Fico comovida também porque a música do espetáculo é do meu irmão, o maestro Sérvulo Augusto Vieira Gonçalves, que fez a meu convite.

Como tem sido o retorno desde o hiato dos teatros por conta da pandemia?

Acho que nós todos mudamos por dentro de alguma forma. Ninguém que passou pela pandemia pode dizer que vai esquecer, ou que não foi nada. Foi um choque muito grande, mas tive muitos cuidadores na minha casa que, inclusive é muito boa, com uma vista que é um deslumbramento, de onde eu via as árvores, os tucanos e onde vivo com quatro cachorrinhos. Quando voltei a me apresentar, minha família ficava em pânico, porque eu beijava e abraçava todo mundo (risos). Faço, então, um combinado com as pessoas: elas ficam de máscara e eu tiro para fazer as fotos. Algo que também me deixa feliz é que é sempre um público muito variado nas plateias. A nova geração, na faixa dos 18 a 20 anos, sempre me fala “a minha mãe é louca por você”. São muitos anos de convívio com o público. Só na TV Globo estou há 50 anos.

Você é conhecida pela sua energia e alto astral, e acompanhamos sua internação recente por causa da Covid-19. Como é a sua relação com a arte, que é o seu trabalho, em momentos desafiadores como esse?

Eu fui muito protegida da Covid-19 nesse tempo todo e só peguei a doença agora, em agosto de 2022. Isso porque eu não saía para lugar nenhum, mesmo depois de abrir as casas de shows e teatros. Fiquei dez dias internada com uma Covid “brava”. O bicho não queria ir embora e afetou grande parte do meu pulmão. Quando voltei a me apresentar, fiquei um mês em temporada com a peça em Portugal - e eu amei muito. Foi tudo maravilhoso. E aí eu vi que a minha alegria é realmente lidar com os outros, é estar com todo mundo, trabalhando e sendo atriz. Estou há 80 anos servindo ao povo brasileiro, 60 deles trabalhando (risos). Hoje, a única coisa que estou sentindo é um pouquinho de dor no joelho esquerdo. E só.

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