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Área verde em Goiânia sofre vandalismo para forçar retirada de árvores

Wildes Barbosa/O Popular
Árvore na Avenida Araguaia, no Centro de Goiânia, com marcas de vandalismo que comprometem sua sobrevivência: 80 podas por mês

Uma das cidades que ostenta título informal de líder em arborização, Goiânia está ficando menos verde em razão de ações ilegais. O processo de redução das áreas vegetais tem atingido bairros da capital que apesar de densa concentração de concreto, contam com árvores em suas calçadas.

Na tentativa de burlar a lei, pessoas insatisfeitas com exemplares vegetais estão retirando as cascas dos troncos, matando diversas espécies pela cidade. Apenas nesta semana, a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) recebeu notificação de cinco árvores vítimas da ação ilegal.

De acordo com o diretor de fiscalização da Amma, Diego Moura, as árvores foram identificadas após notificações feitas pelo 161, o serviço de denúncias de questões ambientais de Goiânia.

Nas ocorrências, a pasta foi informada que se tratam de tentativas de extirpação dos exemplares, isso é, a busca por matar as árvores. Nos três pontos identificados, houve a retirada da casca em uma área no meio do tronco. Assim, a parte das folhas deixa de receber nutrientes, o que dá fim à vida da planta.

Os locais notificados estão na Avenida Araguaia, no Setor Central, com três árvores danificadas, na Rua 4 da Vila Abajá e na Avenida A, da Vila Izaura, as duas últimas com um exemplar danificado em cada.

Conforme explica Diego, as árvores em áreas públicas só podem ser retiradas pelo poder público. “Se a pessoa precisar do corte é necessário abrir uma solicitação”, aponta Diego. Após o pedido, técnicos avaliam a necessidade de retirada, só autorizando o corte caso a árvore apresente riscos de queda ou danos.

Para efetivação do pedido, o solicitante paga uma taxa de R$ 89, o que inclui a inspeção do técnico e a retirada. Em caso de indicação pela derrubada, a Amma encaminha o pedido para a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), responsável pelo serviço de cortes. A Comurg estima que 80 árvores são extirpadas todos os meses.

Para burlar a exigência legal, pessoas que vivem em locais com árvores saudáveis, mas querem a retirada, cometem o crime ambiental. O diretor Diego diz que encara o ato como um “absurdo contra o meio ambiente”.

Entre as justificativas que são negadas após serem enviadas à Amma está questões como “a árvore fazer com que muitas folhas caiam”, conta Diego. “Confundindo folhas com lixo. Precisamos conscientizar sobre a importância de manter essas árvores”, acrescenta.

A bióloga da Diretora de Áreas Verdes da Amma, Wanessa de Castro, lista impactos diretos do corte: “Uma rua com poucas árvores sofre alta de até quatro graus na temperatura ambiente. São de extrema importância para manter o conforto térmico, alteram a qualidade do ar”.

A bióloga sustenta que esses itens são diferenciais na saúde da população, “diretamente ligado à saúde física e mental”.

Sobre a necessidade de conscientização, a bióloga acrescenta que a população precisa saber que é possível substituir plantas inadequadas para calçadas por outros exemplares.

“O que tem de ser feito é identificar a espécie mais adequada para aquele local. Sempre que uma árvore é retirada é obrigatório plantar outra muda no lugar”, orienta.

Investigação

O diretor Diego Moura explica que os fiscais da Amma só podem multar em casos de ações flagrantes. Sem situação flagrante, como é o caso dos três pontos denunciados nesta semana, os casos são encaminhados à Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) para investigação.

O titular da Dema, Luziano de Carvalho, cita que a Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente pune quem danifica árvores em área pública. No caso das multas, os valores variam entre R$ 75 e R$ 1,5 mil. A legislação municipal prevê multa ainda mais alta. Nos valores atualizados, o descumprimento da Lei acarreta em multa de R$ 4,5 mil. Em caso de reincidência, o valor é dobrado.

Programa pode ajudar retomada

O contorno para o problema da redução das áreas verdes da capital pode ter como grande aliado um programa lançado pela Prefeitura de Goiânia na última semana.

O “Disque-Árvore”, serviço gratuito de entrega de mudas, começou a funcionar durante a Semana do Meio Ambiente. Segundo a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), nos primeiros nove dias, 600 exemplares foram entregues para plantios em calçadas e nas partes internas de residências.

A bióloga Wanessa de Castro diz que o costume de plantar mudas nas calçadas de Goiânia tem se perdido e que o programa deve servir para retomar essa característica da capital. “Como Goiânia tem muitos parques, às vezes a pessoa acha que nós temos árvores demais. Existe diferença entre árvores em apenas um lugar e várias por toda a cidade”, diz ao citar que é necessário muitos pontos de área verde para que haja benefícios concretos ao meio ambiente. 

Na primeira etapa do programa são cinco mil mudas disponíveis. Para solicitar a entrega, limitada a duas unidades por CPF, é necessário enviar uma mensagem de WhatsApp para o número 9 9330-7995. Até esta quinta-feira (10), o serviço recebeu quatro mil solicitações. 

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