Nas últimas semanas, a central de transbordo da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), localizada nas proximidades da rodovia GO-020, se transformou em um lixão a céu aberto. O jornal apurou que os resíduos urbanos coletados em parte das regiões da capital, e posteriormente levados ao aterro sanitário da capital, tem se acumulado no local há pelo menos duas semanas. A companhia informa que, no funcionamento normal, cerca de 400 toneladas de lixo vão para o local por dia.A reportagem esteve no local na tarde desta quarta-feira (31) e observou uma grande quantidade de resíduos acumulados em uma área da central, onde uma vala foi criada. Considerando o tempo parado e a quantidade de lixo enviada por dia, são pelo menos 5,6 mil toneladas no local, onde animais sobrevoavam o ponto, que contava com mau cheiro. A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) diz que uma equipe de fiscalização irá ao local nesta quinta-feira (1º).Especialistas explicam que há risco ambiental e à saúde humana. Conforme o engenheiro agrônomo e pós-doutor em Engenharia Ambiental, Antônio Pasqualetto, “qualquer área que não tenha destinação adequada se torna ponto de contaminação”. O risco é tanto para o solo, quanto para os recursos hídricos. Isso ocorre porque os resíduos orgânicos geram o chorume, que pode infiltrar na terra até chegar ao lençol freático.“E com a chuva, tem uma dissipação maior dos poluentes. A chuva carrega para o curso d’água e facilita a infiltração no solo”, pontua. Ainda segundo Pasqualetto, que também é professor no Instituto Federal de Goiás (IFG) e na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), com a alta temperatura e a alta umidade, a decomposição dos resíduos é ainda mais rápida. “O certo, o ideal, era não deixar nem um dia. De um a dois dias já tem o processo de decomposição.”O professor explica ainda que há risco à saúde humana por atrair vários tipos de animais. “Inclusive vetores de doenças”, pondera. Um exemplo é o Aedes Aegypti, causador da dengue, chikungunya e zika. Goiás está em alerta para a dengue em mais de 190 municípios diante do aumento de casos. A situação crítica é vista em todo o Brasil. Em Goiânia, o DAQUI mostrou nesta terça-feira (31) que os registros da doença dobraram em uma semana. De 231 casos, passou para 533, conforme o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).A central de transbordo é localizada perto do Rio Meia Ponte, que abastece parte da capital. Especialista em tratamento de resíduos, Fabrício Ribeiro comenta que os resíduos acumulados podem acabar sendo carregados para o leito do rio. “Disposto inadequadamente, sem contenção, causa uma série de problemas. Por exemplo, pode carrear para o curso hídrico em momentos de chuva”, pondera.A Comurg explica que “houve um rompimento no suporte localizado no final da rampa de carga e descarga” e que “os reparos emergenciais já foram iniciados e devem ser concluídos em poucos dias”. Enquanto a manutenção é realizada, os caminhões compactadores “devem descarregar diretamente no aterro”, localizado nas proximidades da rodovia GO-060, na saída para Trindade. Um gestor local da companhia informou que a mudança deve ter início nesta quinta-feira, com o problema sendo corrigido em até duas semanas.Transferência do lixoNo ponto de transbordo, a reportagem observou como funciona o trabalho de transferência do lixo do caminhão compactador, que faz a coleta nas ruas, para o caminhão caçamba. O primeiro, num ponto mais alto, joga os resíduos coletados em uma rampa metálica, que o direciona até a caçamba do outro veículo. Após isso, o material é levado ao aterro. Durante a visita ao local, apenas uma estava em funcionamento. A TV Anhanguera mostrou nesta quarta-feira (31) que uma das rampas está estragada há pelo menos três meses. Já a outra que ainda está sendo utilizada, conforme apurado pelo jornal, também está com defeito.“O transbordo é uma medida de logística importante adotada pela Comurg, pois gera economia e agilidade na coleta urbana. Parte dos resíduos da região Sul e Leste da capital é transportada para lá, onde ocorre o translado do lixo de um veículo coletor comum para as carretas, que possuem capacidade de carga bem maior”, explica a companhia. A reportagem apurou ainda que, além do problema na rampa, os caminhões caçamba estão com serviços irregulares, o que estaria ocasionando o acúmulo de resíduos na área. A Comurg, entretanto, não respondeu sobre o assunto.Diante do problema evidenciado, a Semad diz em nota que uma equipe de fiscalização irá ao local para averiguar a situação. “E se comprovado ato ilícito, tomará as medidas cabíveis”, pontua. O titular da Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Dema), Luziano Carvalho, também diz que irá apurar o caso para verificar possíveis irregularidades ambientais. O jornal também questionou à Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) se a mesma tem acompanhado o caso, e o que tem feito. A assessoria de imprensa da pasta apontou que as perguntas deveriam ser feitas junto à Comurg.