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Acúmulo de dívidas leva empresas goianas a fechar portas e demissões

Diomício Gomes / O Popular
Fernando Kanizawa fechou duas lojas de produtos para confeitaria

O fechamento de empresas e a demissão de milhares de trabalhadores é um dos retratos mais cruéis do impacto da pandemia sobre a economia brasileira. Os decretos de isolamento social, criados para conter a propagação do vírus, fizeram muitos negócios perderem grande parte ou quase toda sua receita, inviabilizando o pagamento das despesas. Depois de tentarem várias saídas para permanecer no mercado, muitos empresários não resistiram e acabaram baixando as portas.

No ano passado, as medidas de apoio anunciadas pelo governo, como a MP 936, que permitiu a suspensão dos contratos de trabalho, deu um fôlego para muitos negócios. Mas, este ano, os empreendedores se sentem mais desamparados. É o caso do empresário Fernando Kanizawa, que foi obrigado a fechar suas duas lojas fornecedoras de matérias-primas para confeitaria. Em dezembro de 2019, ele investiu muito em materiais para a Páscoa de 2020, mas os decretos de fechamento derrubaram as vendas para a data.

Como a empresa vendia muitos produtos para confeiteiros e bufês, segmentos duramente impactados pelo isolamento, os negócios praticamente pararam e as dívidas foram se acumulando. Com uma queda de mais de 80% no faturamento, ele conta que precisou demitir 11 funcionários e, hoje, tenta recomeçar a vida praticamente do zero em outro ramo e com muitas dívidas para pagar. “Sei que a pandemia é um problema sério, mas não dá para salvar a vida para morrer de fome depois”, diz Fernando.

A rede Savan Calçados também foi obrigada a fechar uma de suas lojas mais tradicionais, na Avenida Anhanguera, no Centro da capital. O supervisor da empresa, Imad Ester, lembra que a empresa vinha numa trajetória favorável e com bom caixa até a chegada da pandemia. Segundo ele, os benefícios como o Pronamp e a suspensão de contratos em 2020 foram importantes para manter os ‘sinais vitais’ do negócio. “Mas, este ano, estamos sozinhos. Ninguém segura um ano inteiro deste jeito. Em 40 anos de mercado, nunca tivemos uma crise como esta”, diz.

Metade dos 460 funcionários foi demitida e outra loja pode ser fechada se houver mais um decreto. Para Imad, a saída não é fechar lojas e shoppings, que têm rígidos protocolos de segurança, bem mais que qualquer supermercado, e não são culpados por aglomerações. “O governo manda ficar em casa, que a economia a gente vê depois, mas não vê. Só suportamos porque tivemos apoio do governo em 2020”, alerta.

Restaurantes

Depois de 17 anos no mercado, o Bolshoi Pub fechou as portas no último dia 23 de fevereiro. O empresário Rodrigo Carrilho garante que fez tudo para que isso não acontecesse, como criar uma área externa e migrar para o sistema delivery, mas foi em vão. “Como nosso ramo é entretenimento, ficamos sem perspectiva de trabalho e não tivemos outra alternativa, pois nossas finanças já estão muito abaladas. Ninguém aguenta um ano assim”, diz.

Carrilho ressalta que empresas que trabalham com estoque perecível não conseguem ficar num cenário instável, de fechamentos alternados. Ele lembra que, mesmo com a reabertura, em julho de 2020, a casa só recebeu 60 pessoas durante o mês e tinha 30 funcionários para pagar. “Sempre seguimos rígidos protocolos. O problema são os clandestinos, que não têm nenhum controle”, acredita.

O restaurante Pimentas da Avenida D também fechou as portas no ano passado, após 26 anos no mercado, e demitiu 12 funcionários. O proprietário, Fábio Rocha, acredita que seu ramo foi o mais afetado pelas medidas de distanciamento e, se resolvesse continuar, acabaria acumulando muitas dívidas. “A gente sabe que a doença é séria. Minha tia morreu. Mas muita gente também pode morrer pela dificuldade de não conseguir trabalho. A Prefeitura tinha que fiscalizar mais as irregularidades, e não fechar todos”, alerta.

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