GABRIELLA BRAGAA Congregação do Santíssimo Redentor de Goiás (Redentoristas) viu com surpresa o anúncio da ida do padre Robson de Oliveira para a Diocese de Mogi das Cruzes, em São Paulo, feito nesta quarta-feira (2). O religioso solicitou ainda neste ano o indulto de saída da congregação, mas o mesmo ainda não havia sido decretado.Após o comunicado oficial feito pelo bispo da Diocese do município paulista, Dom Pedro Luiz Stringhini, o padre Robson se pronunciou pela primeira vez após três anos. O último pronunciamento do religioso foi feito em transmissão ao vivo, no qual ele declarou ter sofrido “muitas injustiças e perseguições”.Robson de Oliveira também se pronunciou dizendo que foi considerado “inocentado por unanimidade em todas as instâncias” da Justiça e que o processo canônico – procedimento de investigação interna na Igreja Católica –, “aberto um ano atrás, foi declarado extinto definitivamente.”Por ser de ordem sigilosa, não é possível saber como está a tramitação do processo canônico, nem se o mesmo foi “extinto”. Já quanto a investigação comandado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), o que houve foi uma determinação do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) para o arquivamento do processo judicial, sob alegação de que foi feito uso ilegal de provas para o início da apuração.Conforme o superior provincial da congregação redentorista, padre João Paulo dos Santos, houve uma surpresa com o anúncio da ida do padre Robson para Mogi das Cruzes, pois o indulto de saída ainda não foi concedido. No entanto, ele, que está em uma viagem à Europa por assuntos religiosos, deve se pronunciar oficialmente apenas após a volta ao Brasil, o que deve ocorrer em meados de agosto.“Quando as questões estiveram todas esclarecidas a Província vai se comunicar sobre o indulto de saída. Não nos manifestamos ainda, pois não tem o indulto. Não depende só da congregação, depende do Dicastério”, pontua. O indulto é concedido pelo Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que, segundo o site do Vaticano, tem como função “promover, animar e regular a prática dos conselhos evangélicos.”Ele aponta ainda que o “bispo dá e ele o uso de ordem por responsabilidade” própria. Ou seja, o bispo atendeu ao pedido feito pelo padre Robson e concedeu “benévolo” o chamado uso de ordem e passa a ter “a responsabilidade canônica” sobre ele. De acordo com o livro Catecismo da Igreja Católica, aqueles que recebem o “sacramento da Ordem são consagrados para serem os pastores da igreja”.Assim, com a concessão do “uso de ordens e a autorização para residir e exercer o seu ministério sacerdotal no território da Diocese de Mogi das Cruzes”, conforme o comunicado oficial feito pelo bispo Stringhini, o ex-reitor da Basílica de Trindade e ex-presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) retoma as celebrações religiosas após três anos. Em 2020, ele foi proibido pela Igreja de exercer as funções religiosas.A primeira missa está marcada para o Dia dos Pais, no domingo (13), na qual irá concelebrar a celebração junto ao bispo na Catedral Diocesana Sant’Ana. Conforme o comunicado oficial, o período de experiência de Robson na diocese será de três anos.A assessoria de comunicação do padre Robson informou que “houve aprovação da Congregação em Roma que, em reunião no dia 19 de junho, analisou e aprovou a solicitação do padre e o aceite do senhor bispo de Mogi das Cruzes” e que “o indulto é a homologação do Dicastério para daquilo que já foi aprovado”.Diz ainda que o “bispo ratificou a acolhida ao padre” e que o “indulto virá formalmente em seguida”. “A contagem para o período de incardinação (de três anos) começa quando sair o indulto. Desde já, o padre já restaurou suas ordens para exercer seu sacerdócio” em outro lugar.No pronunciamento oficial desta quinta-feira (3), o religioso goiano disse que chegou “à conclusão que era melhor deixar a congregação da qual faço parte hoje para poder continuar evangelizando.” Ainda conforme ele, agora, foi encerrado o “silêncio canônico bem como a suspensão de ordem imposta pelos meus superiores”.“O fato é que esse silêncio que tive que fazer mesmo que por tanto tempo é uma atitude relativamente normal dentro da igreja. (...) Mesmo estando nas redes sociais por mais de um ano e meio eu nunca pude tratar desses assuntos especificamente”, relatou, em referência às investigações no processo judicial e no processo canônico.Padre Robson também reforçou ter sido perseguido e injustiçado e que houveram “diversas tentativas posteriores em difamar a minha pessoa e o belo e pujante trabalho que pude realizar frente devoção do Divino Pai Eterno.”Ele acrescentou ainda que foi “inocentado por unanimidade em todas as instâncias (judiciais) e o processo já transitou em julgado há mais de um ano e meio. Em seguida foi aberto um procedimento de apuração interna chamado de processo canônico. (...) Feito isso, o governo geral de Roma achou por bem extinguir, ou seja, finalizar em definitivo, o processo canônico, não tendo havido nenhuma pena, nenhuma condenação a minha pessoa.”MP acusou padre de desvio doações de fiéisO padre Robson de Oliveira, à época reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, e presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), começou a ser investigado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) em 2020, em meio à Operação Vendilhões. O órgão apurava supostos desvios de dinheiro na Afipe, como a movimentação de R$ 120 milhões, doados pelos fiéis à associação, para a compra de bens luxuosos, dentre eles uma fazenda em Abadiânia, de R$ 6 milhões, e uma casa de praia em Guarajuba, na Bahia, de R$ 3 milhões. O padre chegou a ser denunciado pelo MP-GO por apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em outubro de 2021, porém, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) determinou a interrupção das investigações. O entendimento é de que não houve denúncias de possíveis vítimas e de que não havia competência legal do MP-GO de iniciar investigação por conta própria.Após recurso, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em maio do ano passado, manteve a decisão do TJ-GO. Na ocasião, o desembargador Olindo Menezes entendeu que as provas usadas pelo MP-GO haviam sido utilizadas de forma ilegal de uma outra investigação. Em abril, o processo foi definitivamente arquivado pelo STJ após o trânsito em julgado. No entanto, desde o início da operação, o padre se afastou das funções religiosas. Desde então, não havia retomado.