Geral

Campanha quer nutrir 70% de bebês com leite materno

Wildes Barbosa
Renata Machado, do BLH do Hemu: “Estamos precisando de doação"

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estimam que anualmente em torno de 6 milhões de crianças são salvas pela amamentação materna até o sexto mês de vida. No primeiro dia deste mês, abrindo o Agosto Dourado, o Ministério da Saúde lançou a campanha Amamentação, Apoie em Todas as Situações, com a meta de alcançar 70% do aleitamento com leite materno no Brasil. Dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), Goiás é referência nesse esforço. Por outro lado, muitas mães desistem dessa jornada por desconhecerem a melhor prática, como o posicionamento correto do bebê junto ao corpo.

A campanha Agosto Dourado, de incentivo à amamentação, foi criada em 2017 no Brasil por lei federal e a cor simboliza o padrão ouro de qualidade do leite humano. Quanto mais cedo o bebê mamar no seio da mãe, mais ele ficará protegido de doenças e criará laços com a genitora. O leite materno é considerado a primeira vacina do recém-nascido e sua composição nutricional balanceada dispensa qualquer outro tipo de alimento ou líquido até os seis meses, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento adequado da criança.

Especialista em Neurodesenvolvimento, a fonoaudióloga Lourena Costa tem a amamentação materna como foco de atuação. Ela lembra que a maioria das mães passa por dificuldades nesse processo e muitas desistem. “Tudo é um aprendizado, tanto para a mãe quanto para o bebê, que não nasce preparado para sugar. Ele precisa ter força, sequência e ritmo adequado para tirar o leite e se nutrir. Quando há dificuldades, é possível corrigir o posicionamento da criança, a pega (se o movimento da boca está correto, se a criança tem força) – enfim, se as estruturas estão adequadas.” Ela explica que o frênulo lingual alterado (língua presa) pode impedir o bebê de sugar de maneira correta.

Lourena Costa reforça que não existe “leite fraco”, como algumas mães preconizam. “Elas chegam à consulta do pediatra e o bebê perdeu peso, embora elas estejam amamentando, mas é preciso avaliar a musculatura fonoarticulatória da criança para promover um aleitamento seguro e uma posição confortável. A mãe precisa entender que o leite que ela produz é o que o bebê precisa e impacta muito na saúde da criança e na recuperação do pós-parto.” Outro aspecto mencionado pela fonoaudióloga é que os tipos de bico do seio – plano ou invertido – não influenciam na amamentação. “Há várias técnicas que podem ser usadas. O bebê não pega apenas o bico, mas também a maior parte da auréola.”

Um bebê mal posicionado no colo da mãe influencia na sucção e deglutição, tornando a amamentação difícil e cansativa, como explica Lourena Costa. A cabeça da criança deve estar sempre mais elevada que o restante do corpo para evitar engasgos e outras intercorrências. E pouca gente sabe, mas ao sugar o seio materno, o bebê contribui para um bom desenvolvimento de sua fala e de sua linguagem no futuro. “Quando há essa estimulação, os músculos e as estruturas da cavidade oral e da face estarão preparadas para as novas funções, como mastigação e a fala.”

Bebês prematuros ou que tenham algum tipo de intercorrência no parto, podem apresentar uma dificuldade maior na organização muscular no momento da amamentação, ressalta Lourena Costa. Não por acaso, é destinado preferencialmente a eles, o estoque dos bancos de leite humano, uma iniciativa que, com a solidariedade de mães que produzem leite excedente, salva vidas.

1,5 mil recém-nascidos em 2023

Em Goiânia, há mais de 25 anos o Banco de Leite Humano (BLH), instalado no Hospital Estadual da Mulher (Hemu), não somente estimula a amamentação como garante leite materno para recém-nascidos prematuros e de baixo peso, internados na unidade. Em 2023, os 1.423 litros coletados beneficiaram 1.529 bebês. Coordenadora da unidade, a bioquímica Renata Machado Leles explica que o BLH atende dois públicos: a mãe internada que recebe orientações sobre a amamentação e a paciente externa. Em média, são atendidas 600 mães por mês. 

“Conseguimos captar 100 litros por mês e atualmente, nosso estoque, com 150 litros, está baixo. Estamos precisando de doação. Queremos dobrar esse volume. Mães que queiram doar seu leite excedente devem entrar em contato conosco”, avisa Renata Leles. Ela lembra que em Goiás existe uma rede de bancos de leite e um ajuda o outro quando há necessidade. O leite materno disponibilizado pelo BLH atende bebês internados em unidades de risco (UTIs) que por um motivo ou outro não podem receber o leite da mãe. 

Para que uma mulher seja doadora do BLH, o primeiro critério é que ela esteja saudável e amamentando. Não fumar, não usar drogas, não ingerir bebidas alcoólicas, não usar medicamentos incompatíveis com a amamentação e não ter recebido sangue nos últimos 12 meses são requisitos obrigatórios. “Se estiver sobrando leite, nós orientamos como ela fará a retirada em casa. Ela nos avisa, envia exames do pré-natal e fazemos um cadastro. Se o bebê estiver maior, ela repete os exames no Hemu. Se estiver tudo bem, ela entra na rota de busca”, detalha Renata Leles. Uma vez por semana, uma viatura do Corpo de Bombeiros percorre os endereços das mães doadoras, recolhe o leite congelado e deixa um frasco vazio, esterilizado.

Renata Machado Leles coordena o BLH do Hemu, mas também atua como uma espécie de orientadora dos demais bancos de leite e postos de coleta espalhados por Goiás. Em Goiânia eles estão instalados nas maternidades Nascer Cidadão (banco), Dona Iris (posto de coleta) e Célia Câmara (posto de coleta); em Anápolis, na Santa Casa (banco) e no Hospital Municipal (banco); e em Planaltina de Goiás, onde antes havia um banco, hoje apenas posto de coleta. “Outros serão implantados brevemente”, avisa a bioquímica.

Novo programa nacional para fortalecer aleitamento 

O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, é o país que mais coleta e distribui leite materno no mundo e a tecnologia utilizada nos processos de qualidade é modelo para a cooperação internacional em mais de 20 países.

Nos anos de 1970, segundo a pasta, as crianças brasileiras eram amamentadas, em média, por dois meses e meio. Agora, a duração média é de 16 meses, o equivalente a 1 ano e quatro meses de vida. A prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de seis meses é de 45,8%, segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), por isso o MS estipulou uma meta de 70% a ser alcançada até 2030. 

A pasta vai lançar em breve o Programa Nacional de Promoção, Proteção e Apoio à Amamentação. Em fase final de pactuação com os conselhos nacionais de Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), seu objetivo é fortalecer e integrar ações voltadas à temática em todo o país.

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI