Geral

Casos e mortes por Aids apresentam redução em Goiás

Wildes Barbosa
Tâmara Carvalho integra grupo que de conscientização sobre o HIV e defesa da disponibilidade de medicamentos

Os casos de Aids apresentaram queda de 30,3% em Goiás entre 2022 e 2023. Foram 632 registros no ano passado contra 440 neste ano, o menor número desde 2010. Os óbitos pela doença tiveram redução de 13,2% no mesmo período. Foram 310 registros no ano passado e 269 neste ano, que registrou a menor taxa (3,8) por 100 mil habitantes desde 2020. Especialista aponta que a melhoria da adesão ao tratamento antirretroviral ajuda a explicar o cenário. Em Goiás, grupos desenvolvem trabalho educativo de conscientização sobre o tema.

No estado, apesar de os registros relacionados a Aids terem apresentado queda, a quantidade de casos de HIV tem ficado entre 1,6 mil e 1,7 mil registros desde 2017, excluindo uma distorção em 2020 motivada por uma dificuldade de registros causada pela pandemia da Covid-19. As informações são do painel de monitoramento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO).

A infectologista Juliana Barreto aponta que é importante chamar a atenção para a subnotificação dos casos de Aids. “O que é muito comum no Brasil”, pontua. Entretanto, ela também destaca que o cenário de queda nos casos e óbitos por Aids pode ser explicado pela melhoria da adesão à terapia antirretroviral. “É o que faz o paciente portador do HIV continuar sendo só um portador e não evoluir para um caso de Aids”, frisa a infectologista.

O HIV e a Aids são coisas diferentes. Quando se diz que uma pessoa que vive com HIV significa que ela é portadora do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). Quando a pessoa fica com uma contagem baixa das células de defesa e uma carga viral alta que leva a infecções oportunistas, é um caso de Aids. “O que mais evita a evolução para um caso de Aids é a adesão à terapia antiretorviral”, esclarece Juliana.

Atualmente, a rede de atenção básica à saúde oferece testagem gratuita para detecção do HIV. “É possível fazer o teste rápido para todas as ISTs. Tanto para HIV, quanto para sífilis, quanto para as hepatites virais. Estimulamos o paciente a fazer, porque isso gera um diagnóstico precoce e começamos o tratamento até antes mesmo dele ter sintomas”, conta a infectologista.

Tratamento

O tratamento do HIV é feito com medicamentos antirretrovirais. Eles são ofertados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Se possível, o ideal é pedir um exame chamado genotipagem primária, porque ele vê desde o início se o paciente tem algum tipo de resistência aos medicamentos primários preconizados pelo Ministério da Saúde”, diz Juliana.

Segundo ela, os medicamentos disponíveis atualmente são altamente eficazes, o que também pode contribuir para a diminuição dos registros de Aids. “O paciente adere a esse tratamento, que é muito bom. Realmente controla o vírus. O tratamento da Aids é o mesmo. O que muda é que quando tem Aids, tem infecções oportunistas. Então, provavelmente entram profilaxias e o tratamento das infecções oportunistas”, esclarece Juliana.

As pessoas que fazem o tratamento de forma regular têm grandes chances de se tornarem indetectáveis. Isso significa que a carga viral delas é tão baixa que não é possível detectá-la. Apesar de isso não representar cura, o paciente indetectável não transmite a doença. “É a intenção do tratamento. É o momento em que se chega a um controle da doença”, pondera a infectologista.

Educação

Em Goiás, existem grupos que trabalham justamente na conscientização da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do HIV. Nesse sentido, a Associação Grupo Aids Apoio Vida Esperança (Grupo Aave) desenvolve ações em várias frentes diferentes. “Fazemos palestras explicando sobre os métodos de prevenção, além de estimularmos o autocuidado das pessoas que vivem com o HIV”, explica Tâmara Carvalho, membro do Grupo Aave.

Nos últimos três meses, o grupo intensificou o trabalho com as pessoas que não estão fazendo o tratamento de forma regular. “Fizemos visitas domiciliares para entender o que estava acontecendo. Se a pessoa não estava se adequando ao medicamento, por exemplo, a fim de que ela não tivesse falha na medicação”, esclarece Tâmara. Ela destaca as atividades desenvolvidas junto às famílias das pessoas que vivem com o HIV. “Sofrem muito com o preconceito”, enfatiza.

Tâmara reforça que o grupo marca presença em diversos eventos transmitindo a mensagem do ‘Indetectável = Intransmissível’, além de apoiar ações do poder público que incentivam a população a se testar. O grupo também participa dos conselhos de saúde para garantir a chegada da medicação para o tratamento da doença.

Para entrar em contato com o Grupo Aave basta acionar o telefone (62) 98605-5695 ou o e-mail aave@grupoaave.org. Também é possível obter informações pelo site ww.grupoaave.org ou pelo Instagram (@grupoaave).

Queda também alcançou gestantes

Em 2023, a quantidade de casos e a taxa por 100 mil habitantes de gestantes com HIV e Aids em Goiás foram as menores desde 2010. Foram apenas 103 casos de HIV, com uma taxa por 100 mil habitantes de 1,5, e três casos de Aids, com taxa por 100 mil habitantes próxima a zero. “Uma gestante com HIV não significa, necessariamente, que o bebê será uma pessoa com HIV”, esclarece a infectologista Juliana Barreto.

Toda a estratégia para evitar que o bebê seja infectado começa ainda no pré-natal, que pode ser justamente o momento em que a mulher descobre ser uma pessoa que vive com o HIV. A intenção é deixar a carga viral da gestante o mais baixa possível por meio do uso de medicamentos antirretrovirais. Assim, se consegue evitar que o feto seja infectado. O parto é de alto risco e deve ser feito em uma maternidade de referência. “Não se pode amamentar para evitar o risco de transmissão pelo leite materno”, frisa Juliana. 

Neste mês, o Ministério da Saúde entregou certificados de eliminação e selos de boas práticas para a eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis a quatro estados e a 73 municípios brasileiros. Junto a outros 25 municípios, Trindade, na região Metropolitana de Goiânia, recebeu o Selo Prata HIV. “É um sinal de que estamos no caminho certo e fruto de um trabalho em equipe para estarmos mais próximos da população. Em 2024, nosso foco é buscar o Selo Ouro”, afirma Gustavo Queiroz, secretário municipal de Saúde.

Queiroz explica que o município acompanha, em média, 450 gestantes e o fortalecimento da rede de atenção básica à saúde foi essencial para a conquista do selo. Segundo ele, as gestantes que fazem o pré-natal na rede municipal são submetidas à testagem do HIV de forma periódica. Quando é feita a identificação de que uma delas é uma pessoa vivendo com HIV, a mulher passa a ser acompanhada por um médico específico da Vigilância em Saúde, que irá passar todas as orientações relacionadas à transmissão vertical da doença para ela. Antes de receber o selo, Trindade foi visitada pelo Ministério da Saúde para verificação das boas práticas.

Redação
Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI