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Cidades cancelam Carnaval com medo de onda de Covid levada por foliões

Fernando Maia | Riotur

O medo de uma nova onda de Covid-19, a ausência de recursos financeiros para bancar a folia, a falta de tempo hábil para contratar a estrutura necessária e suspensões em conjunto na tentativa de evitar migração de foliões. Esses são os principais motivos apontados por cidades do interior e do litoral paulista para cancelar o Carnaval de 2022.

Apesar de a pandemia do novo coronavírus apresentar um cenário melhor que o de meses anteriores, graças ao avanço da vacinação, pelo menos 58 municípios paulistas já anunciaram o cancelamento dos festejos carnavalescos. Há inclusive cidades sem casos nem suspeitos da doença nas últimas semanas que decidiram suspender a folia.

A alegação é que o cenário da pandemia ainda é incerto e, por isso, não há condições de garantir como serão os primeiros meses do próximo ano. Além disso, é preciso ter sensibilidade com a dor vivida pelas famílias que perderam alguém para a doença, afirmam.

Entre as cidades que anunciaram o cancelamento dos festejos estão São Luiz do Paraitinga -que tem um tradicional Carnaval de rua-, Botucatu, Franca, Jundiaí, Lins, Mogi das Cruzes, Sorocaba, Taubaté, Ubatuba e até mesmo quem é estância turística, caso de Ibitinga.

Na lista há, também, cidades que estão anunciando o cancelamento do desfile das escolas de samba, que já não era realizado desde antes mesmo da pandemia. É o caso de Suzano, por exemplo, que repetirá um cenário que já ocorre desde 2017.

"Sabemos que o Carnaval é uma festa popular, faz parte do nosso folclore, da nossa cultura, mas estamos num período de pós-pandemia, onde todos os esforços, todos os recursos devem ser direcionados à saúde e em investimento na qualidade de vida da população", disse o prefeito de Roseira, Fernando Siqueira (PL), que gravou um vídeo para informar a população da cidade de 11 mil habitantes, no Vale do Paraíba, do cancelamento da folia.

Siqueira, que governa uma cidade com 29 óbitos e 1.791 confirmações de Covid-19, citou o aumento de casos em outros países como preocupante e disse que a pandemia ainda gera gastos à prefeitura, como mais de R$ 30 mil mensais com a vizinha Aparecida, com quem tem um convênio ligado ao atendimento de pacientes.

"[Cancelamos] Também em respeito à memória daqueles que partiram, deixaram sofrimento às suas famílias em nossa cidade, e também em respeito aos profissionais de saúde, pois eles precisam de uma trégua [...] Não sabemos as consequências pós-Carnaval", afirmou.

Há casos em que as decisões foram tomadas conjuntamente por municípios próximos, com o objetivo de evitar a migração de foliões de cidades que não terão a folia para outras que, eventualmente, poderiam ter.

São os casos das sete cidades da aglomeração urbana de Jundiaí, de outras cinco no entorno de Altinópolis/Cajuru e de 12 pertencentes à região de Ribeirão Preto.

Nesse último caso, Jaboticabal, Taquaritinga, Guariba, Pitangueiras, Pradópolis, Dumont, São Simão, Santa Ernestina, Guatapará, Monte Alto, Dobrada e Barrinha, que juntas somam 1.171 mortes e mais de 42 mil casos, também anunciaram a suspensão do Réveillon.

"Infelizmente, mais uma vez, ficaremos sem a [festa da] virada do ano e o Carnaval. Não é uma vontade do prefeito, dos vereadores, mas da região, dos municípios que fazem parte da microrregião [...] Inclusive foi falado na reunião [conjunta] que em Serrana, onde foi feita vacinação em massa, já estão surgindo novos casos", disse o prefeito de Guariba, Celso Romano (PSDB).

Em Serrana, escolhida para sediar o projeto inédito de vacinação do Instituto Butantan, o total de casos da doença triplicou em outubro, em relação a setembro, e segue em alta em novembro. O prefeito Léo Capitelli (MDB) aponta a volta à normalidade e a redução da proteção individual como motivos para a aceleração de casos. Os óbitos seguem estáveis.

As restrições carnavalescas ocorrem também onde não há nem casos suspeitos do novo coronavírus. Em Santo Antônio do Pinhal (13 mortes na pandemia), por exemplo, o boletim epidemiológico desta segunda-feira (22) mostrou que a cidade não tem nenhum caso positivo, nem mesmo algum caso suspeito ou pessoas aguardando resultados de exames atualmente.

Monteiro Lobato (nove óbitos), na mesma situação, celebrou no mesmo dia nas redes sociais que está há 19 dias sem casos confirmados de Covid-19, mas suspendeu o Carnaval devido à "probabilidade e facilidade de acontecer uma nova onda de contágios".

São Bento do Sapucaí também não tem nenhum exame em análise, ninguém em isolamento domiciliar e ninguém hospitalizado. E não terá eventos carnavalescos organizados pela administração.

Em comum, elas são pouco populosas -a maior, São Bento do Sapucaí, tem 10.907 habitantes- e têm apenas atendimento primário de saúde, sendo necessário, em casos graves, procurar hospitais de alta complexidade em cidades vizinhas.

Em Sorocaba, a prefeitura informou que não aplicará recursos públicos para o Carnaval, mas não impedirá a comemoração da data em eventos promovidos pela iniciativa privada, enquanto Borborema alegou que o cancelamento se deve a prazos legais para contratar e entregar estruturas necessárias para as festas.

A estância turística de Ibitinga, por sua vez, informou que, apesar do arrefecimento da pandemia, é necessário minimizar as possibilidades de uma nova alta de casos.

A cidade suspendeu a publicação de boletins semanais com a situação da Covid, alegando que o cenário é de indicadores estáveis, com "leitos totalmente desocupados na Santa Casa". Entre 26 de outubro e 12 de novembro, foram confirmados três casos da doença, em 558 testes rápidos de antígeno realizados.

Nos comunicados anunciando a suspensão da folia entre 25 de fevereiro e o início de março, algumas prefeituras, porém, deixam os foliões com a esperança de que em 2023 tudo será diferente.

"Os gestores seguem disponíveis para o diálogo com os representantes das agremiações e blocos carnavalescos, com foco na possibilidade do planejamento de atividades temáticas com controle de público fora deste período e na organização do Carnaval 2023", disseram, em nota, os secretários e gestores de Cultura das cidades do aglomerado urbano de Jundiaí.

 

CIDADES QUE CANCELARAM O CARNAVAL

Altinópolis

Barrinha

Borborema

Botucatu

Brodowski

Cabreúva

Caçapava

Caconde

Cajuru

Cássia dos Coqueiros

Cunha

Descalvado

Dobrada

Dumont

Franca

Guariba

Iacanga

Ibitinga

Itápolis

Itupeva

Jaboticabal

Jarinu

Jundiaí

Lins

Louveira

Mogi das Cruzes

Monte Alto

Monteiro Lobato

Natividade da Serra

Orlândia

Paraibuna

Pitangueiras

Pradópolis

Poá

Potirendaba

Roseira

Sales Oliveira

Salesópolis

Santa Cruz da Esperança

Santa Ernestina

Santa Isabel

Santa Rosa do Viterbo

Santo Antônio da Alegria

Santo Antônio do Pinhal

São Bento do Sapucaí

São Joaquim da Barra

São Luiz do Paraitinga

São Simão

Sarapuí

Sorocaba

Suzano

Taquaritinga

Taubaté

Ubatuba

Urupês

Valinhos

Várzea Paulista

Vinhedo

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