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Cientistas falam em uma nova onda da Covid-19 a cada 6 meses

Wesley Costa
Testagem de Covid-19 em Goiânia: reinfecção tem um protocolo complexo para confirmação de casos

Em todo o mundo, especialistas estão atentos à possibilidade de reinfecção da Covid-19 provocada pela Ômicron, variante do Sars-CoV-2 (coronavírus) e suas sub variantes. Em Goiás, aumentou muito nos últimos dias os índices de positividade para a doença em todo o estado, como mostra o mapa de calor divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Especialistas acreditam que a Ômicron escapa dos anticorpos criados por infecção natural ou pela vacina, mas não provocam danos tão graves como as variantes anteriores.

Detectada pela primeira vez em novembro do ano passado na África do Sul, a variante Ômicron se tornou dominante em todos os países. Os últimos estudos do comportamento do coronavírus têm revelado que a reinfecção de Covid-19 ficou mais comum em comparação às que circulavam anteriormente, como Beta, Delta e Gama, a última a mais mortal. Em média, num prazo de 120 dias, uma pessoa de qualquer idade, que já tenha pego a doença ou que tenha se vacinado, pode se reinfectar, segundo especialistas. “As vacinas não protegem contra o vírus, mas contra doenças graves provocadas por eles”, explica a infectologista Christiane Kobal.

Professora e pesquisadora da área de Virologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), da Universidade Federal de Goiás (UFG), a doutora Menira Souza explica que o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), referente ao período de 27 de maio a 27 de junho, mostra uma predominância de 94% de sub variantes Ômicron em circulação. Além da BA.1, a original, surgiram BA.2, BA.3, BA.4, BA.5 e uma série de recombinantes. A maior presença, segundo a OMS é a BA.5 (43%), vindo em seguida a BA.2 (25%), BA.4 (12%) e a BA.2.12.1 (11%).

“As sub variantes Ômicron possuem mutações que estão relacionadas a uma maior capacidade de replicação, como algumas que modificaram a proteína de superfície spike da sub variante BA.2. Os estudos sugerem que isso pode estar associado a uma maior transmissibilidade. O risco de reinfecção com as sub variantes Ômicron está sendo estudado e casos de reinfecção com a BA.2 após a BA.1 têm sido documentados”, ressalta a pesquisadora.

O goianiense Eduardo Antonio de Camargo Franco, 33 anos, enfrentou a Covid-19 três vezes, em outubro de 2020, em fevereiro de 2021 e em janeiro de 2022. Ele não sabe dizer quais as variantes foram detectadas nos testes de positividade e precisou de uma internação, rápida, na segunda vez. Há poucos dias, mesmo com três doses da vacina, ele precisou de ajuda médica hospitalar com sintomas da doença, mas preferiu não fazer o teste. E também reconhece que não tem se protegido porque “a doença não se agravou”.

A professora da Universidade Federal de Goiás, Flávia Aparecida de Oliveira, mesmo com o esquema de vacinação completo, confirmou em janeiro deste ano que estava com Covid-19 quando já circulava no Brasil a Ômicron (BA.1). Ela não teve sintomas graves e a mesma coisa ocorreu na segunda quinzena de junho quando novamente apresentou sintomas e o exame foi positivo para a doença. Ela também não fez o sequenciamento genético dos vírus.

Para a doutora Menira Souza, embora não se tenha falado em outro tipo de variante do coronavírus depois do Ômicron e suas sub variantes, é praticamente certo que outros virão. “O coronavírus é um vírus que tem genoma RNA que possui elevada variabilidade genética. Como estamos vivendo uma pandemia e em um contexto de um número elevado de pessoas ainda sendo infectadas em um mesmo período de tempo, com a utilização de diferentes vacinas e medicamentos, o vírus sofre mais pressão para continuar evoluindo e modificando o seu genoma, o que pode resultar em novas variantes.”

Novas ondas

Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), tem reafirmado que haverá várias ondas da Covid, com tendência de uma a cada seis meses, fato revelado em publicação da revista científica Nature. A expectativa, segundo ele, é que sejam ondas de menor impacto, tanto em número de pessoas afetadas, quanto em casos graves e mortes, desde que os esquemas propostos de vacinação estejam completos. “Vamos viver assim por algum tempo até que a gente tenha uma vacina que consiga bloquear a infecção e reduzir a disseminação dessas variantes.”

Para o presidente da SBI a expectativa está numa vacina futura, chamada pelos cientistas de pan coronavírus, ou seja, capaz de proteger contra todos os vírus, independente das variações. Por enquanto, é preciso fazer reforços de imunização. “Temos perspectiva de no segundo semestre ter vacina com a cepa da Ômicron, que mais se assemelha às variantes que estão circulando, levando a uma melhor proteção.” Christiane Kobal concorda que as novas plataformas a serem lançadas por empresas como Pfizer e Moderna, vão definir a periodicidade necessária para o reforço de imunização contra a Covid-19.

Na semana passada, Denise Garret, vice-presidente de Epidemiologia Aplicada, do Sabin Vaccine Institute, disse numa rede social que a variante Delta produzia anticorpos por até três meses, mas com a Ômicron e as sub variantes a reinfecção pode ocorrer em até duas semanas. Christiane Kobal não acredita nessa possibilidade. “Nesse período o vírus não deixou o organismo. O problema é que os testes de antígenos encontrados em farmácias ou feitos em casa são menos sensíveis. A pessoa adoece, faz o teste e dá positivo. Como ninguém quer ficar isolado ou usar medidas de proteção, no quarto dia fazem um teste de antígeno que vai dar negativo. O ideal é fazer um teste de boa qualidade, como um PCR.”

 

Para autoridades,  há subnotificação

A SES considera que há subnotificação de casos de reinfecção. “No sistema oficial do Ministério da Saúde (MS) há o registro de 19 casos de reinfecção por Covid-19 referentes aos anos de 2020 e 2021 em Goiás. Em 2022, não há notificação de reinfecção”, diz a pasta em nota. Segundo o comunicado, para confirmar a reinfecção é necessário ter as amostras de RT-PCR da primeira infecção, segunda, terceira ou mais para comparar se foi uma infecção por variantes diferentes ou pela mesma variante.

De acordo com a SES, pelos critérios do MS para considerar casos de reinfecção por Sars-CoV-2 a pessoa precisa ter dois resultados positivos de RT-PCR em tempo real; o intervalo tem de ser igual ou superior a 90 dias entre os dois episódios; e se há disponibilidade de amostras biológicas, com conservação adequada, para investigação em laboratório oficial que em Goiás é o Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros que faz o sequenciamento genômico.

O que ocorre, de acordo com a SES, é que muitos pacientes que apresentaram sintomas de Covid em mais de uma ocasião, não realizaram exames de RT-PCR, portanto não há amostras para fazer o sequenciamento genômico. Laboratórios particulares não armazenam as amostras por muito tempo. Superintendente de Vigilância em Saúde de Goiânia, Yves Mauro Ternes confirma as informações e também acredita que a subnotificação é grande. 

Na capital, conforme Yves Mauro, desde o início da pandemia até 30 de junho último foram confirmados 268.679 de pacientes com Covid na rede SUS. Desses, 4.799 apresentaram dois exames positivos com intervalo maior que 90 dias, 1,78% do total. O que reforça o fato de que esse número não reflete a realidade é que no início de 2022 houve testagem maciça na rede privada, com maior pico de casos confirmados, cerca de 46 mil, mas não foram feitas as notificações. O mesmo ocorreu com pessoas que se testaram em farmácias, fizeram o auto-teste, além de casos de positividade em família. “Aliado a tudo isso, é preciso levar em conta a instabilidade do sistema”.

Yves Mauro explica que no início do ano circulava a variante BA.1, da Ômicron. Nas últimas quatro semanas o sequenciamento genético mostrou que a BA.2 está predominando. “Ambas são mais transmissíveis, mas menos virulentas e não impactaram tanto a rede assistencial, com internações, ou mortes.” Para interromper a cadeia de transmissão, a SMS de Goiânia decidiu ampliar a testagem. Na última semana de janeiro 30 mil pessoas fizeram o teste de Covid na rede pública, em maio, foram 17.700, mas na última semana de junho foram aplicados 46.400 testes. “Goiânia é uma das cidades do País que mais testam e a positividade acompanhou.” 

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