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Como harmonizar vinho com pratos típicos de Goiás

Modificado em 17/09/2024, 15:58

Como harmonizar vinho com pratos típicos de Goiás

(Divulgação Decanter Vinhos Finos Ltda)

Segundo o relatório da Diretoria de Agronegócio do Itaú BBA, os brasileiros adquiriram 430 milhões de litros de vinho em 2020, um crescimento de 18,4% sobre 2019, marcando o maior volume em duas décadas. Mais de 50 milhões de brasileiros, cerca de 36% da população adulta, consomem a bebida regularmente.

No cenário vinícola de Goiás, a preferência dos goianos inclina-se fortemente para vinhos tintos robustos e encorpados, com especial apreço por variações como Malbec, Tanat e Cabernet Sauvignon, predominantemente oriundos do Chile e da Argentina. A informação é do sommelier e curador do Wine Day, José Anjos. "A demanda por vinhos encorpados reflete o gosto regional por sabores intensos, que também se manifesta em nossa culinária tradicional", destaca.

A harmonização de vinhos com a culinária goiana, notadamente com ingredientes locais como pequi e gueroba, envolve uma análise cuidadosa de sabores e aromas. José Anjos pontua que o desafio se deve principalmente à natureza fortemente aromática do pequi e ao amargor da gueroba, que podem dominar o paladar se não forem devidamente balanceados com o vinho certo.

Para pratos que levam pequi, Anjos sugere vinhos aromaticamente ricos, como o Torrontés. "Este vinho possui características que complementam bem o forte aroma do pequi, fazendo com que seja ideal para pratos como galinha caipira com pequi ou simplesmente pequi com arroz", explica ele. Essa escolha não apenas equilibra, mas também realça os sabores, criando uma experiência gastronômica harmoniosa e agradável.

Além disso, Anjos ressalta a importância de experimentar e aprender sobre a interação entre vinhos e comida. "A escolha do vinho certo pode transformar uma refeição, elevando os sabores naturais dos ingredientes e oferecendo uma nova perspectiva sobre pratos tradicionais", explica o especialista ao detalhar que a abordagem não só enriquece a experiência culinária, mas também aprofunda o conhecimento cultural e gastronômico dos envolvidos.
Wine Day
O evento Wine Day em Goiânia, nesta terça-feira (18), contará este ano com a participação especial da vinícola Luigi Bosca, que enfrentou um ano de desafios e sucesso. As vinhas, localizadas em Luján de Cuyo e Valle de Uco, produziram uvas que prometem excelentes vinhos, graças à diversidade climática que alternou entre períodos de calor e umidade, proporcionando as condições ideais para o desenvolvimento das videiras.

Este ano, a vinícola destaca-se pelo bom equilíbrio de álcool e acidez das uvas brancas e rosé, além de um perfil frutado e intenso nas uvas tintas como Pinot Noir e Merlot, elementos que refletem o cuidado no manejo agronômico e a qualidade do terreno. José Anjos destaca a importância de Luigi Bosca no evento, explicando que é uma oportunidade única para os entusiastas do vinho entenderem melhor os processos de vinificação e as escolhas por trás de seus vinhos favoritos. O especialista enfatiza a rica experiência de aprendizado e conexão pessoal que o evento promove entre consumidores e produtores.

O encontro é destinado a enófilos, apreciadores e profissionais do setor que buscam expandir seus conhecimentos e degustar rótulos excepcionais de diversas partes do mundo. Realizado anualmente, o Decanter Wine Day é reconhecido por proporcionar uma combinação de degustação de vinhos de alta qualidade e momentos de aprendizado e celebração, tornando-se um marco no calendário cultural da cidade.
Serviço: Decanter Wine Day: Uma Jornada Sensorial Inesquecível
Quando : 18 de junho de 2024
Horário :18h às 22h
Local : Central de Decorados Opus Incorporadora
Endereço: Alameda Ricardo Paranhos Qd.249 Lt 05, 10 e 11 St. Marista, Goiânia - GO, 74180-081
Ingressos : (62) 3095 3003 / (61) 981 081 307
Decanter : Av. 85, 2002, Loja 5, Goiânia-Go.

Geral

Álcool causa 'ressaca' na pele: estudo revela os efeitos de cada bebida

Saiba os problemas que o consumo de cerveja, vinho tinto e branco, vodka e tequila pode trazer para o rosto

Modificado em 24/09/2024, 01:37

Álcool causa 'ressaca' na pele: estudo revela os efeitos de cada bebida

(Pixabay)

Dor de cabeça e enjoos já são sintomas conhecidos da ressaca no corpo, no entanto o excesso de álcool também afeta a saúde da pele. Uma pesquisa do Instituto Foreo constatou que o consumo de bebidas alcoólicas causa desidratação cutânea e acelera o envelhecimento, porque diminui a oxigenação dos tecidos e aumenta a produção de radicais livres.

O estudo realizado em dezembro em Estocolmo, na Suécia, apontou também que quanto maior o teor alcoólico da bebida, maior a inflamação causada na pele.

Portanto, tequila e vodka são as piores escolhas quando o assunto é beleza; os itens chegam a ser responsáveis pelo aparecimento de espinhas.

Por outro lado, beber cerveja aumenta a retenção hídrica podendo deixar o rosto inchado.

O vinho tinto causa irritação na pele e o branco pode causar vermelhidão.

Mais um alerta: o consumo exagerado ainda pode piorar quadros de acne e rosácea.

Para curar a ressaca da pele, é importante beber bastante água.

A boa e velha dica de evitar dormir de maquiagem também ajuda a reduzir os efeitos da bebedeira no rosto. Demaquilante ou água micelar podem ser usados para remover os cosméticos ao chegar em casa.

Segundo a dermatologista Camille Maia, massagens com movimentos circulares promovem uma drenagem no rosto diminuindo o inchaço e ajudam a retirar os resquícios de impurezas.

A especialista também indica hidratantes leves e produtos com ativos antioxidantes, como a vitamina C, para recuperar a luminosidade da pele.

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Famosos

Papa Francisco abraça cãezinhos e defende que festa deve ter vinho; Entenda

Está para nascer Papa mais simpático que Francisco!

Modificado em 29/09/2024, 00:36

Papa Francisco abraça cãezinhos e defende que festa deve ter vinho; Entenda

(Foto: L'Osservatore Romano/AP)

Durante sua tradicional audiência geral às quartas-feiras, no Vaticano, diante de 20 mil fiéis, Francisco celebrou hoje (8) o amor saudando os casais que completavam 50 anos de matrimônio e disse que 'não se pode encerrar uma festa de casamento bebendo chá'. "Seria uma vergonha. O vinho é necessário para uma festa", disse o Papa 'candidato' ao cargo de mais carismático da história da Igreja.

Também nesta quarta, Francisco recebeu membros de uma escola de cães de busca e salvamento marinho. O papa conversou com os socorristas e acariciou os cãezinhos.

(Foto: L'Osservatore Romano/AP)

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Cidades

Cirurgia robótica avança em Goiás

Procedimentos mais precisos para os médicos e com menos trauma para pacientes já são feitos na rede privada. Na rede estadual, o Hugo possui um projeto inicial na área

Modificado em 20/04/2025, 20:27

Equipe médica do Hospital Albert Einstein, em Goiânia, em mais uma cirurgia robótica no estabelecimento

Equipe médica do Hospital Albert Einstein, em Goiânia, em mais uma cirurgia robótica no estabelecimento (Diomício Gomes / O Popular)

Com mais precisão para os cirurgiões e menos trauma cirúrgico para os pacientes, a cirurgia robótica avança em Goiás. Serviço chegou ao estado em 2022, por meio do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia. Neste ano, o Hospital Santa Helena (HSE) também começou a fazer cirurgias robóticas. A rede estadual ainda não realiza procedimentos do tipo, mas o Hospital de Urgências de Goiás (Hugo) já possui um projeto inicial na área.

Leonardo Emílio, cirurgião geral do Einstein Goiânia que trabalha com cirurgia robótica, explica que até a década de 1970, as cirurgias abertas - aquelas em que o cirurgião faz um grande corte no corpo do paciente para acessar o órgão ou área que precisa de tratamento - eram a regra. "Entretanto, o dano causado é muito grande. A resposta inflamatória do paciente é grande, aumentando o risco de complicações", explica.

Na década seguinte, foi introduzida a cirurgia laparoscópica - técnica que utiliza pequenas incisões no corpo para realizar procedimentos. "Com menos agressão ao paciente. Entretanto, com isso o cirurgião também perdeu mobilidade e ergonomia para operar", destaca Emílio.

A cirurgia robótica chegou ao Brasil na primeira década dos anos 2000 e, segundo o especialista, sanou gargalos importantes das duas técnicas cirúrgicas descritas anteriormente. "Continua tendo todos os benefícios da laparoscópica, mas a mobilidade é muito maior. O grau de amplitude de movimento. Além disso, o cirurgião tem uma visão 3D do procedimento", esclarece Emílio.

No país, o Einstein é pioneiro no que diz respeito à cirurgia robótica. Em Goiânia, de 2022, quando o serviço chegou ao estado por meio do hospital, até agora, já foram feitas em torno de 1,5 mil cirurgias do tipo na unidade de saúde. Até o momento, quase 100 médicos de Goiás já fizeram pós-graduação em robótica no Einstein. "A parte educacional (formação dos médicos) ainda é feita em São Paulo", explica Felipe Piza, diretor do Einstein Goiânia.

Preparação

Neste ano, o Hospital Santa Helena (HSH) também começou a fazer cirurgias robóticas. Depois de alguns meses de preparação e negociação, o primeiro procedimento do tipo ocorreu no início de março de 2025. Depois disso, já foram feitos 25 procedimentos em um mês, sendo a maioria deles ligados à urologia. "O hospital entendeu que existia uma demanda reprimida. Pessoas que iam buscar por esse tipo de cirurgia em Brasília e São Paulo", pontua João Paulo Dutra, cirurgião torácico e coordenador do programa de cirurgia robótica do HSH. Assim como a Einstein, a unidade conta com uma sala cirúrgica dedicada à realização de procedimentos do tipo.

Para estar capacitado a fazer uma cirurgia robótica, um médico precisa fazer um curso de formação que conta com aulas expositivas e aulas em um simulador robótico. Além disso, é preciso observar e auxiliar em cirurgias do tipo. Depois, ele tem que fazer pelo menos 10 cirurgias robóticas acompanhado por um proctor - médico também habilitado a fazer o procedimento, mas com mais experiência. Depois de seguir todos esses passos, o médico se torna apto a fazer cirurgias robóticas sozinho.

Estão passíveis a realização de uma cirurgia robótica as seguintes especialidades: cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia torácica, ginecologia, urologia, cardiologia, pediatria, cirurgia do aparelho digestivo, oncologia, proctologia e cirurgia geral.

Por regra, os planos de saúde não cobrem cirurgias robóticas, já que o procedimento não está incluído no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entretanto, é possível conseguir que o plano de saúde arque com custos como anestesia e internação. Dessa forma, o paciente paga apenas pela parte da cirurgia robótica em si.

Foi o que o professor de robótica e informática da rede municipal de ensino de Aparecida de Goiânia, Rômulo Ferreira Bento, de 56 anos, fez. Em março deste ano, ele retirou um tumor do pulmão via cirurgia robótica ocorrida no HSH. "O plano pagou algumas coisas, o que me deu condições de levantar o restante do dinheiro", aponta. Rômulo considera que a decisão de fazer a cirurgia robótica foi acertada, já que ele recebeu alta no dia seguinte ao procedimento e pode adiantar o início da quimioterapia. Anteriormente, ele já havia retirado um tumor do intestino via cirurgia aberta e chegou a ficar 10 dias internado.

O consultor financeiro Rodrigo Aurélio Costa, de 50 anos, também conseguiu perceber as diferenças na recuperação de uma cirurgia tradicional para uma cirurgia robótica. Depois de uma experiência mal sucedida para tratar uma diástase via cirurgia laparoscópica em 2024, ele optou por uma cirurgia robótica para tratar o problema no início deste ano. "Estava desanimado. Da última vez fiquei 15 dias com um dreno. Foi estressante. Entretanto, dessa vez não precisei do dreno e foi tudo muito rápido. Vida praticamente normal", comenta o homem que foi operado o Einstein Goiânia.

SUS

A cirurgia robótica também já está presente no Sistema Único de Saúde (SUS). Recentemente, o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), realizou sua milésima cirurgia com robô. Em Goiás, nenhuma unidade de saúde da rede estadual faz esse tipo de procedimento. Entretanto, conforme a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), futuramente haverá a implantação do serviço de neuronavegação por cirurgia ortopédica no Hugo. A pasta não detalhou quando isso irá ocorrer.

Hospitais já têm procedimentos tecnológicos

Apesar de a rede pública de saúde de Goiás ainda não contar com cirurgias robóticas, algumas unidades de saúde já fazem procedimentos altamente tecnológicos. No final de março deste ano, o Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap) testou a realização de uma cirurgia com óculos de realidade aumentada. Se trata de uma artroplastia total de joelho, cirurgia que substitui a articulação do joelho por uma prótese.

A inovação proporcionada pelos óculos permite uma melhor personalização da prótese e da cirurgia. Na prática, a cirurgia funciona com a inserção de três guias cirúrgicos em pontos estratégicos do joelho. O óculos serve para uma leitura milimétrica, por meio de um QR Code, da distância entre eles.

Assim, é possível escolher a prótese que melhor se encaixa naquele paciente. Por conta da precisão na medição, a prótese fica melhor posicionada e, por isso, tem uma durabilidade maior.

A cirurgia dura menos tempo do que uma convencional, o que minimiza risco de infecções e de perda de sangue. Consequentemente, a recuperação tende a ser mais rápida, possibilitando até mesmo uma alta mais cedo do que o esperado para o paciente.

O Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG) é outra unidade goiana que utiliza inovações tecnológicas em cirurgias. No hospital, é realizada uma cirurgia minimamente invasiva para tratamento de aneurisma cerebral. Por meio da abordagem, o crânio não precisa ser aberto e o aneurisma clipado, como ocorre na cirurgia tradicional. Assim, a recuperação do paciente fica mais facilitada.

Na intervenção endovascular, a cirurgia é feita totalmente por imagem, com o auxílio de quatro monitores, ligados a um aparelho de hemodinâmica, equipamento médico utilizado para diagnosticar e tratar doenças cardiovasculares e vasculares.
No HGG, já foram realizados 14 procedimentos do tipo entre 2023 e 2025.

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Economia

Goiás deve ter saldo positivo com guerra tarifária de Trump

Por conta do agronegócio forte, estado tende a ter mais ganhos que perdas na briga entre EUA e China; mas governos locais terão de contribuir, dizem analistas

EUA x China: disputa aumentou demanda por soja brasileira e reacendeu debate sobre capacidade logística e gestão de risco

EUA x China: disputa aumentou demanda por soja brasileira e reacendeu debate sobre capacidade logística e gestão de risco ( Wildes Barbosa)

A economia brasileira deve contabilizar perdas e ganhos com os efeitos da guerra de tarifas entre os Estados Unidos (EUA) e China. O saldo entre os possíveis efeitos ainda é positivo para o Brasil, que deve ter um incremento de 0,01% em seu Produto Interno Bruto (PIB), como prevê um estudo do Nemea-Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre os impactos no Brasil da guerra tarifária. Já Goiás deve ter um superávit bem maior que outros estados, de quase R$ 800 milhões, por conta de suas características produtivas.

Donald Trump impôs tarifas de 145% sobre todos os produtos chineses destinados aos Estados Unidos e a China tem rebatido praticamente na mesma proporção. Este embate deve beneficiar, principalmente, o Centro-Oeste brasileiro, incluindo Goiás, que tem sua economia muito baseada na agropecuária e exportação de commodities. O estudo da UFMG mostra que os efeitos de elevações de exportações seriam mais limitados a setores como sementes oleaginosas, vestuário, computadores e produtos minerais.

Em Goiás, o Instituto Mauro Borges (IMB) estima um aumento de mais de R$ 7 bilhões só nas exportações de soja, benefícios que ainda dependerão da boa gestão da política internacional. Mas, no País, setores como indústria e serviços podem ter perdas significativas com efeitos na produção industrial e entrada de importações. De acordo com o levantamento, os ganhos no Centro-Oeste praticamente equivalem as perdas estimadas nos estados do Sudeste. Só São Paulo pode perder mais de R$ 4 bilhões em seu PIB.

Vale lembrar que uma tarifação brasileira sobre matérias-primas para a indústria também poderia prejudicar segmentos industriais importantes para o estado, como o farmacêutico e automobilístico. O diretor executivo do IMB, Erik Figueiredo, lembra que o estudo da UFMG considera os efeitos chamados de equilíbrio geral, sendo que alguns serão positivos e outros negativos para o Brasil. "Será preciso ponderar os dois no final e ver o saldo", alerta.

Segundo ele, as produções goianas de soja, carne e milho tendem a se beneficiar mais. Este movimento que beneficia Goiás já havia sido antecipado pelo Instituto, que previu um aumento de R$ 7 bilhões nas exportações goianas de soja.

Figueiredo lembra que o primeiro governo de Trump também teve medidas protecionistas e voltadas contra a China. Como os EUA são importantes exportadores de soja para os chineses, houve retaliação da China, que tornou a soja americana mais cara e direcionou as compras para o Brasil. "Naquela época houve crescimento de 20% nas nossas exportações de soja", lembra.

Agora, pode haver um movimento similar de aumento de demanda para estes produtos, o que é uma janela de oportunidades para Goiás e o Brasil. O diretor do IMB ressalta que, no caso do Brasil, é preciso fazer equilíbrio de prós e contras, com benefícios para a agropecuária e possíveis prejuízos para a indústria nacional, por conta de um aumento da concorrência de produtos chineses. Já Goiás deve se beneficiar mais porque há uma maior demanda por produtos em que as exportações goianas são fortes, como a soja.

Mas ele adverte que há um segundo movimento inverso que precisa ser considerado. A China exporta muitos bens intermediários para os EUA e, com as tarifas muito altas, terá de escoar estes produtos para outros países com consumo em massa, como Índia, Paquistão ou Brasil. "A indústria brasileira pode ter movimento de comprar mais barato, mas muitos destes produtos são produzidos no Brasil e uma concorrência com a indústria chinesa pode não se benéfica", alerta Figueiredo. Ou seja, o Brasil será beneficiado pela exportação de bens primários, mas também tem uma indústria local que pode ser impactada de forma negativa.

Mas há motivo de preocupação para a economia como um todo, pois esse cenário de fechamento com o mundo também deve impactar a inflação americana. "Quando isso acontece, o FED eleva os juros, o que leva dinheiro do mundo todo para os EUA e puxa nosso câmbio para cima, gerando um efeito econômico negativo para todo País", ressalta o diretor do IMB.

Mas ele lembra que o rendimento dos exportadores também explode com a alta do câmbio, o que beneficia Goiás por conta da produção de commodities. "É como se a economia brasileira estivesse cercada de efeitos nacionais positivos e negativos de todos os lados, mas continuasse com mais benefícios que prejuízos, num momento de oportunidade por conta de nossas características produtivas", explica o economista.

Ele prevê que estes movimentos devem ser muito benéficos para Goiás em 2025, mas será preciso identificar bem estas oportunidades e usar a máquina do estado para remover barreiras para a iniciativa privada aproveitar melhor o momento. "Os governos precisam, a nível federal e estadual, ter um diagnóstico certo destas expectativas e adotar medidas específicas para cada setor, criando incentivos para que segmentos beneficiados aproveitem isso da melhor forma, e benefícios para amenizar prejuízos que alguns possam ter", adverte.

Um exemplo é redução de impostos para indústrias que possam sofrer uma maior concorrência com produtos chineses.

Vocação

Ildefonso Camargo Júnior, economista da Valorimex, também acredita que Goiás será mais beneficiado que outros estados por conta de sua vocação agropecuária. "O Brasil inteiro será beneficiado, mas como Goiás tem sua economia mais baseada no agronegócio, terá um impacto mais positivo em seu PIB, como prevê o estudo", ressalta. Ele lembra que indústrias no estado que dependem da importação de matérias-primas, como os setores farmacêutico e automobilístico, podem ser prejudicadas, mas que Goiás também deve ganhar por ser um grande produtor de minérios.

Entre prós e contras, o saldo deve ser positivo para o estado, ou seja, essa guerra deve proporcionar um superávit entre perdas e ganhos, com o salto no PIB. Mas ele concorda que os governos precisam criar planos com foco neste espaço que está sendo aberto, com um plano de desenvolvimento das exportações. "Talvez seja o melhor momento para o Brasil, que precisa estar mais atento, criando uma política desenvolvimentista de exportações, que ofereça condições especiais para estimular as vendas externas", alerta o economista.

Ele lembra que Goiás já conta com o benefício do Comex Produzir, onde o governo goiano abre mão de 65% sobre os 4% de ICMS na venda de produtos para outro estado. "Mas isso pode ser concentrado nos pontos críticos, subindo de 65% para 80% ou 90% para ajudar os segmentos mais prejudicados nos setores comércio e serviços, criando um crédito outorgado provisório, por exemplo", recomenda Camargo.

Na visão dele, Goiás também poderia adotar uma linha própria para exportação e importação através do Goiás Fomento para incentivar e dar melhores condições para aproveitar essa janela de oportunidades. "Se o governador fizer esta política e aumentar o limite de crédito na Goiás Fomento, teremos um aumento de 15% no PIB do estado com certeza", prevê. Outra sugestão é criar, através dos fundos constitucionais, uma política de facilidade em termos de garantias reais.

Impacto maior deve ser sobre produtos que o Brasil domina

Os EUA são o terceiro principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro, atrás apenas de China e União Europeia, e em 2024 respondeu por 7,4% da pauta brasileira no setor, atingindo US$ 12,1 bilhões. Os produtos agropecuários respondem por cerca de 30% das exportações brasileiras aos EUA. No caso do Brasil, os bens importados contam com uma alíquota adicional de 10%.

Antes, os produtos do agronegócio brasileiro contavam com alíquotas nominais médias de 3,9% do valor do produto. Com o acréscimo, estas taxas passarão à 13,9%, afetando a competitividade brasileira. Uma nota técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) alerta que, para alguns setores, o mercado americano é de grande importância. É o caso do café verde, principal produto do agro brasileiro destinado aos EUA e dos sucos de laranja.

Segundo a CNA, os produtos mais impactados seriam aqueles em que o Brasil é dominante no mercado americano, como os sucos de laranja e outras frutas, o etanol e o açúcar, que concorrem com a produção interna dos EUA, ou seja, o Brasil é altamente representativo no total das importações. Nestes casos, o Brasil não teria "espaço" para ganhar de um eventual concorrente, sendo o único ou principal país afetado.

É o caso dos sucos de laranja resfriados e congelados, em que o Brasil responde por 90% e 51% das compras americanas, respectivamente; da carne bovina termo processada, com 63%; e do etanol, 75%. Ainda há potencial de perda de mercado com relação a produtos produzidos pelos EUA e fornecidos internamente, mas que necessitam de importações. É o caso da carne bovina: a produção local alcança 12,3 milhões de toneladas, mas o consumo é de 13 milhões de toneladas.

Mas, na visão da CNA, instrumentos de proteção para medidas retaliatórias e barreiras unilaterais, como o PL da Reciprocidade, aprovado pelo Congresso e que seguirá para sanção presidencial, devem ser utilizados apenas após o esgotamento dos canais diplomáticos, para defender os interesses brasileiros.

O economista Aurélio Troncoso, coordenador do Centro de pesquisas Econômicas e Mercadológicas (Cepem) da Unialfa, prevê que essa guerra não vai prejudicar o Brasil. "Se eu não coloco produto nos EUA, coloco na China, Austrália ou Índia. O Brasil tem outros caminhos", diz. Para ele, com uma tarifa de 10%, o Brasil pode agradecer, pois manda pouca coisa para os americanos, principalmente commodities.

"Pra eles, é mais vantagem comprar do Brasil que produzir lá, pelo custo. Por isso, devemos ficar de camarote esperando ver o que vai acontecer e deixar China e EUA se digladiarem, pois os dois perdem com a guerra. Uma tarifa alta sobre a carne, por exemplo, beneficia o consumidor brasileiro porque vai sobrar mais picanha aqui. O presidente Lula tem de achar bom e deixar a briga para os grandes", defende.

Mas o professor acredita que ainda é preciso esperar o que vai acontecer e tudo indica que o Brasil deve levar vantagem, abrindo frentes comerciais com outros países. "A economia vive de expectativas e os números ainda são especulação. Traçaram um cenário na pesquisa da UFMG que pode ou não acontecer desta forma", recomenda.

Para Felipe Jordy, gerente de Inteligência e Estratégia da Biond Agro, empresa especializada em gestão e comercialização de grãos, o Brasil surge como uma alternativa estratégica e urgente para os compradores chineses. Na prática, a disputa impulsionou a valorização dos prêmios de exportação no Brasil, aumentou a demanda por soja brasileira e reacendeu o debate sobre capacidade logística e gestão de risco.

"O Brasil foi chamado a cumprir um papel central. A China retaliou as tarifas dos EUA e intensificou as compras aqui, com destaque para a aquisição de pelo menos 40 navios de soja entre maio e julho", lembra. Mas parte da demanda de curto prazo já foi absorvida, o que significa que a força compradora chinesa pode diminuir nos próximos meses, principalmente se houver recuo na tensão geopolítica ou reposicionamento da oferta global.

Crédito deve ficar mais caro para empresas

Mas os efeitos desta guerra de tarifas deve ir além da compra e venda de produtos. Para o economista Leonardo Rocha, diretor financeiro da AG Antecipa, esse aumento das tarifas e a consequente valorização do dólar também pode atingir diretamente o mercado de crédito brasileiro. Com a elevação dos custos de captação externa, as empresas brasileiras podem enfrentar um encarecimento do financiamento.

"Além disso, se a inflação americana seguir pressionada, o Federal Reserve pode optar por juros ainda mais altos, o que afeta o fluxo global de capitais e pressiona o Banco Central brasileiro a manter uma postura mais conservadora", destaca.

O resultado será um crédito mais caro e escasso, justamente quando a economia precisa de estímulo, apertando o bolso do empreendedor brasileiro. Rocha lembra que investidores globais tendem a buscar segurança em ativos americanos, reduzindo a disponibilidade de recursos para países periféricos.

"Além disso, a volatilidade cambial pode aumentar, pressionando os preços dos insumos importados e afetando diretamente a cadeia produtiva nacional. Empresas com margens mais apertadas, sobretudo no setor industrial, passariam a enfrentar dificuldades para manter competitividade", explica.

Por isso, o tarifaço norte-americano ultrapassa fronteiras e chega ao bolso do consumidor. Mas o economista adverte que também existe cenário otimista para o mercado brasileiro: enquanto países como China e Índia passaram a enfrentar barreiras tarifárias que ultrapassam 60%, o Brasil, Austrália e Reino Unido foram relativamente poupados, com taxas de 10%, o que abre brecha de oportunidade.

Para Rocha, o Brasil tentou sinalizar uma defesa da sua soberania nacional de maneira impulsiva, sem avaliar as consequências de longo prazo, numa ação mais para o público interno do que uma estratégia real de comércio exterior.

Ele lembra, por exemplo, que com a China restringindo a compra de carne de frigoríficos americanos, o Brasil deve estar de olho nesse vácuo. "Em um mundo onde commodities agrícolas e alimentos ditam o humor da inflação, essa demanda chinesa pode aquecer a nossa balança comercial", destaca.

A guerra tarifária também pode ajudar o Brasil a conter a inflação: se exportar deixa de ser tão lucrativo, a oferta de alimentos no mercado interno aumenta e os preços baixam. "O Brasil não pode desperdiçar mais uma chance de virar protagonista. No xadrez da geopolítica econômica, quem vence não é quem grita mais alto, mas quem movimenta as peças com estratégia".