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Contágio da Covid-19 em Goiânia apresenta queda nos últimos dias de março

Tchelo Figueredo

Dois fatores levaram a Prefeitura de Goiânia a considerar o cenário epidemiológico da Covid-19 favorável para que fosse permitida a retomada das atividades econômicas não-essenciais, conforme decreto municipal 1.897, que estabeleceu a partir de 13 de março o revezamento 14x14 na capital.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que houve queda tanto na taxa de contágio (Re) como na de positividade dos testes para detectar a contaminação pelo coronavírus.

A taxa de contágio teria caído de 1,05 para 0,94 em uma semana, sendo que o resultado mais recente é de sexta-feira (26). Quando está abaixo de 1, a epidemia é considerada sob controle.

A queda confirma tendência percebida no mapa de calor de risco da Covid-19 desenvolvido pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), que desde 12 de março apresenta também redução na área onde Goiânia está inserida. A região Central – que envolve a capital e outras 24 cidades - caiu de 1,40 no dia 12 de março para 1,28 no dia 19 e depois para 1,06 no dia 26.

Outro indicador usado para permitir a abertura dos estabelecimentos comerciais não-essenciais pelos próximos 14 dias a partir de quarta-feira (31) é a proporção de notificações positivas (positividade) em um determinado tempo.

De acordo com a SMS, esse índice caiu de 40% no dia 17 para 24% no dia 27. Ainda é alto, pois para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a taxa deveria estar abaixo de 5% para se poder dizer que a epidemia está sob controle.

O superintendente de Vigilância em Saúde da SMS, Yves Mauro Ternes, vê como positivos esses indicadores. “É uma sinalização de queda na curva de transmissão”, afirmou. Mas ele ressalta que a redução não ocorreu como esperado porque houve muitas pessoas que desrespeitaram as regras de restrições impostas pelos decretos municipais desde o início do mês.

Para Ternes, é possível que com estas duas taxas em queda a de ocupação dos leitos de UTI (que passou o mês acima de 95%) possa ficar abaixo de 80% nas próximas semanas, o que permitiria um maior controle sobre a epidemia e a manutenção do decreto municipal nos termos atuais.

Além da taxa de ocupação de leitos de UTI, outros dados não sinalizaram queda. Ternes diz que são indicadores mais demorados para reagir em relação ao momento em que as medidas restritivas são adotadas. O número de mortes, por exemplo, só deve começar a cair em abril.

O número de casos ativos, considerando os boletins epidemiológicos municipais, conforme levantamento feito pelo POPULAR, segue em alta. São pessoas que tiveram a contaminação verificada em testes e que estão dentro do intervalo de tempo considerado de risco para contágios. A média de casos subiu de 1.241 na primeira semana de março para 1.875 na terceira e se manteve praticamente estável na seguinte.

Mês mais fatal

Março já é também o mês com mais mortes pela Covid-19 em Goiás, sendo que os números ainda devem ser atualizados conforme o registro dos óbitos são consolidados e colocados no sistema. Geralmente isso demora até 15 dias para ocorrer. Mesmo assim, já foram notificadas 692 vidas perdidas neste mês contra 598 em agosto e 493 em julho, até então os meses mais violentos da pandemia.

Dos 10 dias com mais mortes durante a epidemia em Goiânia, 9 já são em março deste ano, sendo que o dia 15 foi o que registrou mais óbitos, 40. O dia 22 já registra 32 após apenas 7 dias de atualizações no sistema.

O número de pacientes internados em estado grave na rede municipal também segue crescendo. Passou de 220 em média na primeira semana de março para 272 na quarta, a mais alta desde o início da pandemia. O número de leitos disponibilizados no período aumentou 21%.

Já a média de pessoas internadas em leitos de enfermaria passou de 156 na primeira semana para 197 na terceira e caiu um pouco, para 193, na seguinte. Nesta segunda-feira (29) havia 197 novamente, segundo relatório divulgado ao meio-dia.

A superintendente de Regulação da SMS, Valéria Ghannam, diz que houve uma queda na demanda de leitos de UTI a partir do dia 24 e que também houve um acréscimo nos últimos dias de mais 10 leitos de UTI no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) no dia 26. “Esses fatores contribuíram para redução da demanda, conforme disponibilizado no site do Ministério Público e da SMS”, disse.

Fiscalização

O coordenador da Central de Fiscalização contra a Covid-19 e diretor da Vigilância Sanitária de Goiânia, Jadson Tavares de Oliveira, diz que o decreto do revezamento teve uma resistência por parte dos comerciantes na primeira semana, o que exigiu maior atenção dos fiscais, mas que com o tempo foram diminuindo os flagrantes.

Mesmo assim, Jadson diz que ainda é possível encontrar comerciantes trabalhando com a porta “meio-fechada”. “Eles deixam um recado na porta, o cliente vai, o trabalhador pega o ônibus para ir na loja trabalhar, e tem a aglomeração do mesmo jeito”, lamentou.

Entretanto, na lista dos principais problemas encontrados pelos fiscais, segundo Jadson, estão as feiras livres e as distribuidoras de bebidas. Os feirantes estavam proibidos de trabalhar na segunda quinzena de março, mas tentavam burlar o decreto. “Como são várias feiras em um mesmo dia ficava difícil montar guarda em todos os locais. E a população ia, circulava, aglomerava”, comentou.

Independentemente do decreto que esteja valendo, as festas clandestinas são a maior dor de cabeça para os fiscais, segundo o coordenador da Central de Fiscalização. Houve uma migração das chácaras para residências urbanas, mas o volume em que ocorrem é o mesmo durante todo o mês.

“Disparado é o que deu mais trabalho. Seja festa residencial ou em casas de evento. Muitas pessoas reunidas, agressivas, sem máscaras, resistem às abordagens”, afirmou Jadson. É também o principal foco dos denunciantes.

O trabalho de fiscalização contra as festas clandestinas conta com o apoio da Polícia Militar. Jadson explica que em muitas delas os policiais encontram a presença de tráfico de drogas e que se suspeita que traficantes estejam se aproveitando da realização deste tipo de evento ilegal para facilitar o comércio de entorpecentes. “Eles alugam casas e promovem as festas. É quase todos os dias.”

No fim de semana, ao anunciar que o período de suspensão das atividades seria prorrogado por mais dois dias, até quarta, para se adequar ao decreto estadual, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) disse que havia “tendência de estabilidade de casos de Covid-19”. A informação foi corroborada pelo titular da SMS, Durval Pedroso, que acrescentou que os indicadores permitem que “as pessoas possam trabalhar com segurança”.

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