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Coronavírus: Goiás tem mais 400 casos que não aparecem na estatística

O boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) apresentou no máximo 81% dos casos confirmados de Covid-19 registrados nos boletins municipais nesta segunda-feira (18). Enquanto o Estado confirmava a contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) de 1.738 pessoas neste dia, os dados repassados pelas prefeituras somavam pelo menos 2.147 infectadas. A diferença foi de 409 notificações que não entraram no relatório divulgado diariamente pela SES-GO.

Este problema já se arrasta há dias e envolve mais do que uma diferença entre o momento em que os dados são divulgados pelas prefeituras, geralmente no fim da tarde e começo da noite, e pelo Estado, geralmente nas primeiras horas da tarde. Há casos de cidades, que ora aparecem com casos ora não, como Campestre e Padre Bernardo. Para o Estado, ambas não têm nenhum, mas segundo as redes sociais das duas prefeituras, cada uma registrou um.

Entre as prefeituras, a causa do problema está principalmente nos bancos de dados oficiais do Ministério da Saúde, que são abastecidos pelos municípios e pela unidade de saúde em que o paciente é atendido. São dois, o e-SUS VE, que registra casos leves, e o Sivep-gripe, que computa casos graves, como síndrome respiratória aguda grave (Srag) e óbitos. As críticas são principalmente ao primeiro, que só a partir do último dia 9, após diversas mudanças, teria ficado mais fácil de ser manuseado.

A diferença mais gritante nos dados, por ser a cidade que mais registra casos, é em Goiânia, onde no dia 18 não constavam 77 registros no boletim estadual. Mas já foi pior isso. No dia 13 de maio, o Estado anotava 172 notificações a menos que o boletim municipal do mesmo dia. Em Aparecida de Goiânia, segunda cidade com mais casos em Goiás, 22,7% dos 181 informados pela prefeitura local na segunda-feira (18) não estavam no informe estadual.

Em Anápolis, os boletins estaduais, oficialmente, tiveram uma variação de apenas dois casos nos últimos 13 dias, indo de 51 em 6 de maio para 53 no dia 18. Na primeira data, o boletim municipal já registrava 62 pessoas infectadas e no dia 18 este número saltou para 112. Um detalhe que chama a atenção nesta cidade é que de acordo com a SES-GO houve duas “reduções” neste intervalo, indo para 49 no dia 8 e 47 no dia seguinte. Depois, no dia 14, parou em 53.

A imprecisão no boletim estadual causa falsas impressões para quem avalia a situação no Estado. Além de Anápolis, que tinha realmente 111% a mais de casos do que o registrado pela SES-GO, Águas Lindas de Goiás – que aparece com 29 notificações – tem, na verdade, 61 (110% a mais). A cidade no Entorno do Distrito Federal que aparecia em 8º entre os municípios com mais ocorrências estaria em 5º se todos os dados tivessem sido computados.

Senador Canedo, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, Formosa, Catalão e Porangatu são outras cidades que aparecem também com grandes discrepâncias entre os boletins estadual e municipais. Em algumas destas cidades, como Catalão, além dos testes considerados padrão, são registrados resultados de testes rápidos, que no caso representam até seis vezes mais do que os primeiros. E há uma discussão na SES-GO sobre acrescentar ou não nos boletins os dados de testes rápidos.

A situação fica mais complicada nas cidades do Entorno do DF, onde muitos moradores fazem os testes em Brasília. Nestes casos, o abastecimento dos bancos de dados é feito pela capital federal e as prefeituras ficam sabendo ou consultando diariamente o sistema, ou os laboratórios de Brasília ou esperando que o morador contate o poder público e informe. É o que o POPULAR constatou em Planaltina, Águas Lindas e Valparaíso. 

Há cerca de 10 dias, o problema nos dados do boletim estadual tem se acentuado a ponto de ter sido cogitado dentro do Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública para enfrentamento do novo coronavírus, ligado à SES-GO, a interrupção da divulgação diária do boletim ao menos até que uma solução fosse encontrada.

Para calcular a diferença entre os boletins estadual e municipais, o POPULAR consultou o relatório divulgado pela SES-GO no dia 18 e o de 46 cidades na mesma data. Ao todo, na segunda-feira, 81 municípios goianos tinham casos comprovados de Covid-19 e, além destes, outros 8 que chegaram a ter em algum dia aparecido no documento divulgado diariamente no site da secretaria.

Campestre é uma destas oito cidades. Lá o primeiro e único caso foi registrado em 1º de abril, mas a partir do dia 6 de maio a cidade saiu da relação da SES-GO, voltando apenas por 5 dias para depois desaparecer novamente. No boletim municipal, o caso ainda está lá. Silvânia, que também tem um caso comprovado, ficou 6 dias fora do boletim estadual, a secretaria municipal confirma a notificação.

A reportagem entrou em contato com a SES-GO no começo da tarde de ontem, mas até o fechamento da edição impressa do jornal não obteve retorno.

Banco de dados problemático

As secretarias municipais de Saúde ouvidas pelo POPULAR culpam os bancos de dados utilizados pelo Ministério da Saúde para as divergências entre boletins epidemiológicos. Estas pastas citam que no começo da epidemia nem mesmo havia um sistema organizado pelo governo federal para informar os casos de Covid-19. 

A diretora de epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Grécia Carolina Pessoni, explica que os bancos de dados federais apresentaram ao longo dos meses uma série de problemas que fez o município priorizar uma planilha própria em detrimento ao registro nacional e que o boletim municipal sempre foi abastecido por esta planilha, enquanto o estadual tem como base o sistema do ministério.

Até o dia 9, por exemplo, o sistema nacional não permitia atualizações e correções de dados, levando o notificante a ter de deletar e refazer o registro. Além disso, o banco federal não validava os casos que não estivessem completos e, às vezes, um laudo de exame necessário para isso demorava dias, enquanto no boletim municipal já constava o dado.

A mesma dificuldade foi narrada pela coordenadora de vigilância epidemiológica da SMS de Aparecida de Goiânia, Naianny Fogaça.

A gerente de vigilância epidemiológica da SMS de Anápolis, Mirlene Garcia, diz que os dados do município estão de acordo com os que constam no sistema nacional e que a questão na divergência de dados com o Estado está em algum problema na Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). “Nosso dado está compatível com a realidade do dia. Agora não sei como o Estado consolida esses dados lá no monitoramento.”

O secretário de Saúde de Planaltina, Germano Andrade Ladeira, disse que o sistema nacional sempre está atrasado em relação aos números reais pela demora com que é abastecido pelos laboratórios público e particulares do Distrito Federal – onde a maioria dos moradores da cidade faz os testes para detectar infecção pelo novo coronavírus. Ladeira conta que a pasta liga diariamente para os laboratórios públicos de Goiás e do DF, além dos particulares, além de serem informados pelos moradores infectados.

O POPULAR também apurou que a SES-GO tem revisado muitos dados em busca de notificações duplicadas.

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