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Cresce mobilização por plaquetas em Goiás para enfrentar a dengue

Diomício Gomes
Morador de Goianira, o professor Osmar Rodrigues vem a Goiânia uma vez por mês para doar plaquetas

A Rede Estadual de Serviços Hemoterápicos (Rede Hemo) tem aumentado a produção de plaquetas para atender os casos de dengue grave em Goiás. As solicitações de concentrados são maiores no Entorno do Distrito Federal e no Vale do São Patrício. O mapeamento foi possível pois a rede organizou um observatório para levantar quais são as regiões com demanda aumentada a fim de orientar a fabricação de concentrados. A unidade de Formosa, por exemplo, intensificou a produção.

Em janeiro deste ano, foram 16 solicitações de concentrado de plaquetas voltadas para o tratamento de casos de dengue grave, que tem como uma das manifestações a queda de plaquetas. Na ocasião, 46% dos pacientes eram originários do Entorno do Distrito Federal. Em fevereiro, até o dia 20, foram 21 solicitações de concentrado de plaquetas, sendo 33,3% para o Entorno do Distrito Federal e 38,9% para o Vale do São Patrício. A captação de doadores de plaquetas por aférese aumentou 37% quando comparados os meses de janeiro de 2023 e 2024.

A diretora técnica da Rede Hemo, Ana Cristina Novais, aponta que a instituição tem trabalhado em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) para aumentar a produção de plaquetas com o intuito de atender os casos de dengue grave. “Intensificamos a divulgação da importância da doação nos canais de comunicação e uma das nossas hematologistas fez uma capacitação com os médicos dos hospitais estaduais orientando-os sobre a transfusão de concentrado de plaquetas”, esclarece.

Atualmente, a Rede Hemo conta com uma equipe de hematologistas que oferece suporte remoto 24 horas para as mais de 200 unidades de saúde atendidas por ela. “Os profissionais instruem as unidades sobre qual tipo de bolsa pedir e a quantidade correta para determinado paciente”, diz Ana Cristina. Segundo ela, isso garante uma transfusão segura. “Os médicos têm a oportunidade de validar a necessidade do procedimento com um hematologista”, reforça.

Doação

É possível doar plaquetas de duas formas: aférese e doação de sangue total. Na doação por aférese, o sangue do doador passa por uma máquina e volta para o corpo humano. Durante o processo, as plaquetas são extraídas. A quantidade doada é calculada a fim de manter o doador com um quantitativo que não cause prejuízos à saúde. Na doação de sangue total, as plaquetas são separadas depois que o sangue passa por um processamento em uma centrífuga de alta rotação.

Existe uma limitação relativa à quantidade de doações anuais. São 24 no caso da aférese. Já na doação de sangue total, são quatro para homens e três para mulheres. Também existem especificidades em relação ao uso. A medida é de uma unidade de plaqueta randômica (obtida por meio de doação de sangue total) para cada 10 quilos de peso do paciente. Ao mesmo tempo, um concentrado de plaquetas obtido por aférese equivale de seis a oito unidades de plaqueta randômica. O concentrado de plaquetas obtido por aférese é usado, por exemplo, em pacientes oncológicos e transplantados.

Para doar plaquetas por aférese, é necessário fazer uma primeira doação de sangue total em qualquer uma das nove unidades da Rede Hemo. Na ocasião, é verificado se a pessoa tem uma veia calibrosa, já que ela pode ficar em torno de 1h30 conectada à máquina para doar plaquetas. A doação tem início com 18 anos e vai até 69 anos. Pessoas com menos de 65 quilos e mulheres que já estiveram grávidas não são aptas à doação.

A doação por aférese é feita por meio de um agendamento, já que o Hemocentro precisa levar em conta a oferta, a demanda e o tempo de validade dos concentrados de plaquetas. Enquanto um concentrado de hemácias pode durar 42 dias, o de plaquetas dura apenas cinco. “Por isso, precisamos de um planejamento. Se produzirmos muito, vai sobrar e teremos que descartar. Se produzirmos pouco, vai faltar”, diz.

Doadores

O trabalho da Rede Hemo para captar doadores é feito corpo a corpo. “Quando percebemos que alguém tem o perfil, fazemos o convite”, enfatiza Ana Cristina. Uma dessas pessoas é o professor Osmar Rodrigues dos Santos Neto, de 27 anos. Ele se tornou doador de sangue quando ainda morava em Jaraguá. “Quando os ônibus (de doação) do Hemocentro iam para a minha cidade”, relata.

No segundo semestre do ano passado, quando se mudou para Goianira, Osmar começou a fazer doações rotineiras na unidade de Goiânia. Algum tempo depois, foi convidado para se tornar doador de plaquetas. Atualmente, ele vai até Goiânia mensalmente para fazer a doação por aférese.

Osmar diz que se tornou doador por conta de um sentimento de responsabilidade com a vida do próximo. “Quantas e quantas vezes que já fomos ajudados por pessoas que nem sabiam que estavam nos ajudando? Ninguém vive sozinho. Nossas maiores alegrias sempre acontecem junto ao próximo. Por isso, tenho comigo que ajudar o próximo que eu não vejo, faz a diferença na minha vida”, discorre.

O sentimento de solidariedade é compartilhado pelo servidor público Gustavo Ramos Jordão, de 35 anos. O morador de Goiânia doa sangue há 17 anos e plaquetas há cinco. “O Hemocentro realizou algumas campanhas de doação de sangue na escola em que eu estudava. Na época, eu não podia doar por causa da idade, mas cresci com a vontade. Assim que completei 18 anos, eu fui doar”, relembra.

Segundo Gustavo, doar sangue e plaquetas foi a forma que ele encontrou de contribuir para uma sociedade melhor. “A minha motivação é ajudar a rede pública de saúde”, finaliza o servidor público.

Incidência da dengue já superou 2022

A incidência da dengue em 2024 já superou o pico de 2022, ano em que Goiás registrou o pior cenário da doença até então. Na sexta semana epidemiológica deste ano, o estado registrou 223 casos por 100 mil habitantes. No ano retrasado, o pico aconteceu na décima segunda semana, com 199 casos por 100 mil habitantes. 

Desconsiderando as duas últimas semanas epidemiológicas, a taxa de incidência em Goiás atual é de 214 casos por 100 mil habitantes. As cidades com incidência de mais de 4 mil casos por 100 mil habitantes são: Sanclerlândia (4,8 mil), São João da Paraúna (4,4 mil) e Alexânia (4,4 mil). 

Atualmente, de acordo com painel da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), já são 87,9 mil casos notificados, um aumento de 183% em relação ao mesmo período de 2023. No total, já são 39 mil casos confirmados. A curva de casos de 2024 tem apresentado comportamento mais acentuado que a de 2022.

No estado, 121 municípios já estão em estado de alerta e outros 121 em estado de emergência. Três sorotipos da dengue circulam em Goiás neste momento: 1, 2 e 4, ainda com predominância do sorotipo 1 (61,5%). O cenário é inédito para o estado.

De acordo com a SES-GO, a vacinação contra a dengue foi ampliada em Goiás. Na última sexta-feira (1°), o imunizante passou a estar disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. 

Mortes

Até o momento, Goiás tem 37 óbitos confirmados pela doença em 2024, o que já representa 72,5% das 51 mortes confirmadas em 2023. Existem ainda 15 óbitos ocorridos no ano passado e 60 ocorridos neste ano em investigação. Os municípios com mais de uma morte confirmada até agora são: Anápolis (8), Luziânia (7), Valparaíso de Goiás (3), Uruaçu (3), Águas Lindas de Goiás (2), Iporá (2) e Cristalina (2). 

Segundo o governo estadual, a maioria das vítimas morreram com menos de uma semana após o início dos sintomas. A SES-GO criou uma força tarefa para investigar os óbitos por dengue em Goiás. A intenção é acelerar a confirmação, que passa por um comitê de verificação da pasta.

No último sábado (2), o Ministério da Saúde promoveu um ‘Dia D’ contra a dengue em todo o Brasil. Em Goiás, foram mobilizados Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, SES-GO, além de representantes do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems).

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