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Crianças com Covid-19 lutam pela vida em hospitais de Goiás

Wildes Barbosa/O Popular
Alex Pinheiro com o neto Nathanael, de 2 anos. Garoto teve sangramento no nariz e precisou ser internado

Depois de 15 dias de internação, Emanuel, de apenas 48 dias de vida, venceu a Covid-19 e finalmente voltou para casa na manhã de terça-feira (13). O bebê, que estava internado no Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap), mora em Hidrolândia e foi diagnosticado com a doença depois de uma suspeita de bronquiolite. Ele passou por quatro testagens, sendo duas negativas e uma inconclusiva, até que os médicos tivessem a certeza da contaminação pelo coronavírus. Emanuel passou 11 dias em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) entubado. Agora, foi motivo de festa na saída do hospital.

Eliane da Silva Borges, de 25 anos, é mãe de quatro crianças: Maria Clara, de 10 anos; Emilly, de 8 anos; Lucas de 2 anos e 3 meses e do Emanuel, recém-nascido. Ela conta que, quando o bebê completou 14 dias de vida, teve um episódio de febre. No hospital, o médico suspeitou de bronquiolite. A recomendação era lavar o nariz com soro fisiológico. Três dias depois, na primeira consulta pediátrica a médica disse a mesma coisa. “No dia 26 de março, ele teve uma crise de choro muito forte. Quando fui lavar o nariz dele, desfaleceu no meu braço. Minha mãe correu para a casa da vizinha, que conseguiu reanimá-lo e corremos para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Brasicom”, diz.

Emanuel foi atendido e os médicos pediram urgência para atendimento no Hmap. Um primeiro teste de Covid-19 foi feito e apontou negativo para o vírus. A mãe e o bebê foram colocados em isolamento e a transferência para o hospital ocorreu na madrugada de domingo (28). Outros três testes foram feitos e o último apontou positivo para o coronavírus (Sars-CoV-2), assim como o de Eliane. “A médica falou que ele precisaria ser entubado. Então entreguei meu filho nas mãos do Senhor. Meu maior medo nem era a Covid-19, era que o hospital não tivesse vaga”, recorda. Nesta terça-feira (13), por volta de 9h30 ele deixou o hospital e voltou para casa. Reaprendendo a amamentar, ainda um pouco fragilizado, mas agora com os irmãos. “A sensação é de alívio, de saber que saí de lá com ele vivo, de chegarmos em casa com os irmãos todos desesperados de saudade”, finaliza a mãe.

Coordenadora da UTI pediátrica do Hmap, Luana Kratka explica que a evolução de Emanuel foi rápida e grave. “Ele ficou 11 dias em ventilação mecânica e a melhora clínica foi ocorrendo de forma gradativa. Geralmente as crianças apresentam quadros mais simples e é raro termos gravidade como esta, mas acontece. Não perdemos nenhuma criança na UTI pediátrica do Hmap e o desfecho destas vitórias é resultado de um trabalho da equipe médica, da multiprofissional e da direção”, afirma.

Diretora-Geral do Hcamp, Dulci Xavier diz que Emanuel foi apelidado de guerreiro e que a alta médica é uma forma de a equipe renovar as energias. “Infelizmente, desfechos negativos fazem parte da nossa rotina durante a pandemia, mas, quando Emanuel e outras crianças recebem alta, a gente sabe que está no caminho certo”, pontua.

Emanuel não foi o único. Ao longo do mês de abril, outras cinco crianças com casos de Covid-19 passaram por internações no hospital, sendo dois em UTI. A outra paciente que teve estado mais agravado foi Natasha Sobrinho Couto, de 4 anos, moradora de Senador Canedo. A menina, que convive com sequelas de um AVC, utiliza sonda e é traqueostomisada, passou por três hospitais e duas vezes pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Senador Canedo.

A avó, que é responsável pela criança, diz que os primeiros sintomas incluíram febre e vômito, em 8 de março. Depois de sete dias internada no Hmap, com resultado positivo de Covid-19, recebeu alta, mas, no último final de semana voltou a apresentar sintomas. “Ela está na UPA aguardando uma transferência desde sábado (10). Ontem (segunda) saiu do oxigênio, mas está respirando com dificuldade”, acrescenta. A Secretaria de Estado de Saúde informou que a Centra e Regulação segue na busca da vaga.

Sangue pelo nariz e pulmões comprometidos

Nathanael Figueiredo, de 2 anos, começou a reclamar de dor de garganta na noite do último dia 28 de março. Na madrugada, acordou com sangue no nariz e vomitando catarro com sangue. Inicialmente, a família, que mora em Aparecida de Goiânia, o levou para a UPA Flamboyant e depois o menino foi encaminhado para o Hmap. “Examinaram ele e perceberam que ele estava sufocando”, conta a avó paterna, Francisca Massena Carneiro, 47 anos. No dia 1º de abril, o menino, recebeu alta e voltou para casa. 

A história de superação se repete com Enoque Venuzam, de 3 anos de idade, que tem Síndrome de Down, agora também vitorioso em uma luta contra a Covid-19. A mãe, Hellyda Dornelas Rios, de 34 anos, conta que ele teve febre por dois dias. Em seguida, apresentou uma melhora, mas, no quatro dia, os sintomas voltaram. “Ele não quis comer nada, teve febre de novo e não conseguia parar em pé”. Ela passou por dois Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) que estavam sem pediatras até ser atendida na UPA Flamboyant. “Lá, ele ficou o dia todo no oxigênio com uma saturação muito baixa”. 

Depois disso, foi transferido para o Hmap e ainda sem resultado de Covid-19 passou por uma tomografia, que apontou pulmão comprometido. Muito desidratado, ele passou nove dias internado. Antes dele, o pai se contaminou, depois a mãe. Por fim, o garoto. 

“Quando eu comecei sentir os sintomas fiz o exame e deu positivo. O médico disse que não poderia deixar ele com outra pessoa pelo risco de transmitir. Fiz tratamento apenas em casa e quando estava quase acabando, o meu Enoque pegou também. Graças a Deus agora estamos todos bem”, finaliza Hellyda Dornelas.

Doença matou 38 pessoas com até 19 anos de idade em Goiás

A mortalidade entre crianças e adolescentes por Covid-19 ainda é pequena. De mais de 13,1 mil mortes pela doença em Goiás, 38 tinham até 19 anos de idade: 13 com menos de 10 anos, 8 entre 10 e 14 anos, e 17 entre 15 a 19 anos. No total, 50,8 mil pessoas que testaram positivo para a infecção pelo coronavírus tinham até 19 anos de idade.

Entre os 38 goianos dessa faixa etária que morreram devido a complicações da doença está Heloísa Alves da Mata. Com apenas 3 anos de idade, ela morreu no dia 8 de abril, após sofrer oito paradas cardiorrespiratórias. A morte foi lamentada pelo governador Ronaldo Caiado (DEM). “(Ela é) Uma prova que o vírus não escolhe suas vítimas!”, escreveu o democrata em sua conta no Twitter.

Caiado afirmou, ainda, que a notícia o deixou “de coração partido”. Na postagem, o governador voltou a cobrar que a população continue tomando os cuidados essenciais para diminuir a circulação do coronavírus Sars-CoV-2, o causador da doença. “Não é momento de afrouxar os cuidados só porque já estamos vacinando. Só vamos vencer esse mal se todos fizerem sua parte”, disse. Por fim, Caiado prestou solidariedade à família de Heloísa da Mata. “Recebam meu abraço e o de Gracinha (primeira-dama)”.

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