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Crianças filhas de mães soropositivas ficam sem fórmula infantil em Goiânia

Diomício Gomes/O Popular
Desde o início de fevereiro elas não recebem a fórmula infantil prevista no programa Prevenir para a Vida criado para reduzir ou impedir casos de transmissão vertical da doença por meio da amamentação

Um programa realizado no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), em Goiânia, desde 2005 para impedir novos casos de HIV/Aids voltou a ser paralisado este mês deixando aflitas pelo menos 28 mães soropositivas. Desde o início de fevereiro elas não recebem a fórmula infantil prevista no programa Prevenir para a Vida criado para reduzir ou impedir casos de transmissão vertical da doença por meio da amamentação. Com a pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2) a situação ficou ainda pior.

A costureira P., 32 anos, cuida dos filhos de 4 anos e de seis meses sozinha. Antes da pandemia fazia trabalhos esporádicos, mas, soropositiva e com baixa imunidade, reduziu as saídas de casa. “Tenho medo de me contaminar, de passar para meus filhos e, principalmente, medo de morrer”, disse ela ao POPULAR. Nesta quinta-feira (1º) ela esteve na sede do grupo Aids: Apoio, Vida, Esperança (AAVE) para pedir ajuda. “O HDT não está fornecendo o leite. A minha situação está muito difícil. A médica já disse que não posso dar outro alimento para meu bebê”, afirmou a costureira.

Coordenadora do Grupo AAVE, irmã Margareth Hosty lembra que a garantia da fórmula para os filhos de mães soropositivas está prevista em lei. “Todos nós fomos atingidos pelas consequências da pandemia. A pobreza está em todos os lugares e agora essas mães têm de enfrentar mais essa dificuldade.” Ela já esteve no HDT várias vezes pedindo providências. Gerida pela organização social Instituto Sócrates Guanaes, a unidade de saúde é vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (SES), que é responsável pelo programa.

A pasta informou em nota que devido a mudanças na legislação dos processos de aquisição houve um atraso na tramitação da compra, mas que a licitação está finalizada. O Extrato da Ata de Registro de Preços relativo à aquisição das fórmulas infantis foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 22 de março. De acordo com a SES, a solicitação da compra foi em “caráter de urgência” e  que estima que a entrega do leite às mães estará normalizada dentro de um mês.  

Para Margareth Hosty houve uma falha no programa. “As crianças não podem ficar sem essa fórmula”, afirma. É o caso também do bebê de S., que tem oito meses. “Mal temos dinheiro para o alimento e agora precisamos comprar o leite porque a entrega está suspensa”, reclama a dona de casa. Ela conseguiu comprar uma lata de 800 gramas da fórmula infantil Nan 2 por 32 reais, mas esse preço pode variar. S. explica que o programa Prevenir para a Vida entrega mensalmente quatro latas a cada mãe, mas ela tem de comprar outras três para alimentar o bebê. Com a suspensão da entrega, ela precisa comprar todas as sete latas. O Grupo AAVE tenta ajudar como pode, indo atrás de doações ou fazendo rifas para conseguir recursos.    

Não é a primeira vez em Goiás que há lacunas no programa previsto no Sistema Único de Saúde (SUS). Em anos anteriores, a exemplo de 2021, o estoque zerou antes de nova compra. A fórmula infantil é um composto que utiliza proteínas do leite de vaca além de outros nutrientes para substituir o leite materno na alimentação das crianças, filhas de mães soropositivas. Elas têm direito à fórmula até o bebê completar nove meses.

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