Geral

Crise e Covid rondam a volta da festa de Trindade

Wesley Costa / O Popular

Até o final de maio, um dos hotéis localizados na entrada de Trindade, cidade da região metropolitana localizada a 27 quilômetros de Goiânia, comemorava os 80% de ocupação com reservas para as datas a partir do dia 24 de junho. O dia é o início da Festa do Divino Pai Eterno, o principal evento religioso de Goiás, que volta a ocorrer presencialmente depois de dois anos em razão da pandemia de Covid-19. A romaria segue até 4 de julho. No entanto, há pelo menos 15 dias o hotel em questão vem recebendo cancelamentos e agora inicia a semana com previsão de 60% de ocupação para as datas festivas.

Segundo funcionários do local, os possíveis hóspedes alegam que o aumento dos casos de Covid-19 em suas cidades e também em Trindade é a razão da desistência da viagem. A situação tem se repetido nas hospedarias mais distantes, mas os empreendimentos localizados nos arredores do Santuário Basílica ainda comemoram os resultados e mantêm em alta a expectativa pelos dias da festa. 

A maior parte dos quartos já está reservada para a segunda semana da festa, entre os dias 29 de junho e 4 de julho, e restam poucas vagas para as primeiras datas. Há uma diferença de tipo de hóspedes nos dois casos.

Os hotéis mais próximos da Basílica costumam receber caravanas de romeiros de outras cidades, que reservam muitos quartos com antecedência, ou seja, possuem clientes mais cativos. Já os locais com mais distância recebem o interesse dos hóspedes chamados de avulsos, que necessitam de poucos quartos e a desistência é mais fácil. Além disso, nas hospedarias centrais a procura é maior, de forma que uma desistência de uma caravana logo é divulgada em um grupo de mensagens de romeiros e a vaga é preenchida, o que é mais difícil de ocorrer no caso dos clientes avulsos.

Outro problema é que a vaga preenchida normalmente ocorre a partir de uma desistência em outro hotel mais distante. Ou seja, o grupo não tinha conseguido a vaga nos locais mais próximos da Basílica e reservou em outro mais distante, mas, quando a chance de hospedagem surge, há a troca entre os hotéis e aquele primeiro fica sem as reservas.

A diferença para este ano, segundo contam os comerciantes da cidade, é que isso não ocorria com a frequência com que se tem visto no retorno da festa presencial. Também não tem sido possível o aumento dos preços das diárias na mesma intensidade, que chegava a ser o triplo do valor.

O comerciante André Luiz Zacarias, um dos pioneiros entre os lojistas localizados em frente ao Santuário, conta que até 60 dias atrás tinha esperança de uma boa romaria. “Eu esperava muita gente, mas agora acho que não vai ser boa não, deu uma esfriada pela crise e pela pandemia”, diz ao se referir aos problemas econômicos e financeiros por quais passa o País e ainda o aumento de casos de Covid-19. Neste ano, por exemplo, ele não aumentou o estoque de produtos religiosos para a festa e vai tentar vender o que já está na loja. Zacarias possui ainda dois pontos de barracas que funcionam durante as datas da festa.

“O que tem aqui na loja mesmo eu vou dividir para lá, acho que não vai compensar comprar a mais”, relata o vendedor. Para ele, os comerciantes que possuem pontos fixos ainda devem manter a quantidade de vendas dos dias normais, mas sem a expectativa de aumento com a festa.

“Para os barraqueiros é que vai ser pior, porque os preços aumentaram muito para ter os pontos e ainda o investimento nos produtos. Acho que não vai fechar a conta”, acredita. A também comerciante Vanderly Xavier mantém a perspectiva baixa para os próximos dias com relação a vendas.

Ela considera que a quantidade de pessoas na cidade vai ser grande, mas que os turistas vão segurar nas compras. “É muita gente que vem na festa, mas as vendas aumentam pouco”, diz ela, que lembra ainda da presença de vendedores ambulantes informais, o que acaba aumentando a concorrência, além de ter preços mais baixos devido um menor custo. Os lojistas afirmam que a situação será semelhante ao que ocorreu neste final de semana, com o feriado de Corpus Christi e o aumento de turistas religiosos na cidade.

Um comerciante que preferiu não se identificar afirmou: “Está sendo assim, pessoal só olha, pergunta o preço e sai. Está cheio de gente, mas ninguém compra nada. Na festa vai ser assim também.” Os empresários do ramo de alimentação estão mais otimistas e acreditam em um aquecimento das vendas em restaurantes, padarias e lanchonetes.

A estimativa é que as vendas de refeições cheguem a dobrar durante as datas festivas e que possam ser ainda maiores nos últimos quatro dias, quando a programação é intensificada. Nesses dias ocorrem a chegada dos carreiros e cavaleiros, shows musicais e as missas campais.

O prefeito de Trindade, Marden Júnior (Patriota), acredita que é normal o posicionamento dos comerciantes devido a situação de crise. No entanto, ele afirma que o turista que vai participar da Festa do Divino Pai Eterno está preparado para a realização das compras e que há sim uma expectativa de crescimento na economia local. “Acredito sim que a festa vai ter essa movimentação no comércio da cidade”, afirma. 

Júnior reforça que a maior parte dos hotéis está com alta ocupação e que isso deve se intensificar nestes próximos dias. 

“Existe esse crescimento de casos de Covid e devemos nos preocupar, mas temos uma baixa taxa de complicações da doença. As pessoas devem ter mais cuidados, mas não acredito que vão deixar de participar da romaria. Nossa preparação vem se intensificando, a cidade está preparada”, reforça. Ele lembra que as pessoas devem fazer a higienização das mãos e utilizar máscaras em locais com aglomeração. 

Prefeitura mantém otimismo

A expectativa de público durante os dez dias da Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, se mantém em 5 milhões de pessoas, segundo o prefeito do município, Marden Júnior (Patriota). “Vai ser uma das maiores romarias de todos os tempos. Estamos nos preparando para o máximo, entre 4 milhões e 5 milhões de pessoas, para receber bem todo mundo”, diz ao reforçar que o aumento de casos de Covid-19 nas últimas semanas pode interferir na ida dos romeiros, mas que acredita que isso não irá acontecer.

Júnior foi pessoalmente visitar fazendas de carreiros que costumam fazer a romaria com carros de boi durante a Festa do Divino. “Antes da nossa emancipação política já havia a devoção e nós temos que respeitar as nossas origens. Os carreiros são muito importantes nisso. Visitei todos em respeito e agradecemos cada carreiro, escutamos as necessidades deles e fizemos um planejamento para eles. Temos uma expectativa imensa da chegada deles, alguns já estão a caminho de Trindade.”

A expectativa é que cerca de 400 carros de boi cheguem a Trindade no próximo dia 30, a mesma quantidade recebida na festa de 2019, a última realizada presencialmente antes da pandemia de Covid-19. A chegada, para o prefeito, também vai elevar a quantidade de pessoas hospedadas na cidade. Ele lembra ainda que muitos romeiros, assim como os carreiros, ficam em casas ou quintais alugados, mesmo de maneira informal, o que pode também redundar em uma diminuição da ocupação dos leitos em hotéis e pousadas da cidade.

Proprietário do Hotel Santuário, Waldir César de Carvalho, de 51 anos, vai ter sua primeira Festa do Divino como empresário do ramo hoteleiro. Ele comprou o empreendimento em maio do ano passado, em negócio fechado ainda sem a garantia das romarias presenciais. “Mas foi por isso também que consegui fechar o negócio no valor que paguei”, acredita. O seu hotel, localizado em frente ao Santuário Basílica, está com a ocupação lotada para a segunda semana de festa e os quartos estão quase todos cheios para os primeiros dias, que são os menos concorridos.

Carvalho acredita, ao contrário de outros comerciantes, que o retorno da romaria de modo presencial vai sim aquecer a economia local. “Para mim até agora está muito bom. As pessoas procuram bastante e quando uma caravana desistiu, em menos de 30 minutos nós já tínhamos conseguido uma nova”, relata. Outra mudança importante para este ano é a ausência do padre Robson de Oliveira, ex-reitor do Santuário, que fez a festa elevar em presença de pessoas sob sua administração.

O empresário conta que os romeiros perguntam sobre o padre, mas não a ponto de deixar de participar da festa. Outros comerciantes ouvidos pela reportagem afirmam que cada vez menos escutam questionamentos sobre ele e, quando ocorre, é mais por curiosidade de saber onde ele estaria no momento.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA ROMARIA:

Comentários
Os comentários publicados aqui não representam a opinião do jornal e são de total responsabilidade de seus autores.
ANUNCIE AQUI