A dentista Hellen Kacia Matias da Silva foi indiciada por lesões corporais gravíssimas contra pacientes, de acordo com divulgação feita nesta quinta-feira (8), pela Polícia Civil (PC). Ela é investigada por deformar parte do rosto de pacientes, após realizar procedimento estéticos que só podem ser feitos por cirurgiões. O inquérito também concluiu que a profissional cometeu infrações contra a saúde pública e contra as relações de consumo. A dentista usava as redes sociais para divulgar os serviços, e, em apenas em um dos perfis contava com mais de 600 mil seguidores. A PC foi informada de 21 pessoas sofreram deformações, após serem atendidas pela dentista. Hellen Matias está presa preventivamente desde o dia 30 de janeiro e já teve um pedido de revogação da prisão negado pela Justiça.Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ela em Goiânia e Santa Bárbara de Goiás. Medicamentos vencidos há quase dez anos foram encontrados na clínica da dentista, localizada na capital. Outros três dentistas também foram indiciados pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon), por exercício ilegal da profissão, mas não tiveram os nomes divulgados. A defesa da dentosta informou que o caso de apenas 2 das 21 vítimas resultou em laudos de corpo delito, que é a prova para as acusações. A equipe de advogados declarou ainda que um dos laudos exclui o crime de lesão corporal e o segundo foi feito em caráter repador, pra melhorar supostos prejuízos que a paciente já tinha de outro procedimento (veja nota completa abaixo).A defesa nega também que o pedido de soltura de Hellen tenha sido negado pela Jusitça.Relembre o caso A investigação começou em setembro de 2023, após denúncias de que Hellen e outros três dentistas exerciam a profissão ilegalmente. Ela realizava procedimentos estéticos como alectomia (redução do nariz); retirada de pele excessiva dos olhos (blefaroplastia); lipo de papada (face lifting), proibidos de serem feitos por dentistas por normas do Conselho Federal de Odontologia. A delgada responsável pelo caso Débora Melo, encontrou em um celular da dentista mais de 30 reclamações de pacientes insatisfeitos com os resultados. Em resposta, funcionários da clínica acusavam as vítimas de não terem cumprido os cuidados pós-cirúrgicos. A investigação também apurou a responsabilidade da dentista por infrações administrativas, como a inadequação do alvará sanitário do estabelecimento, que não autorizava a realização de nenhum procedimento invasivo. A PC informa que a profissional realiza os procedimentos há pelo menos cinco anos. Durante esse período, ela viajava para outros estados a trabalho, por isso existem denúncias contra a investigada também no estado de São Paulo. Em abril de 2023, Hellen e uma clínica estética foram condenadas a pagar R$ 10 mil em uma indenização por danos morais a uma paciente que teve o nariz deformado, durante uma rinomodelação. CursosA investigada também ministrava cursos para profissionais da saúde e supervisionava cirurgias. Um dos cursos, de cirurgia estética, custava R$ 15 mil e tinha duração de apenas três dias. Além dos cursos, ela também fazia procedimentos estéticos fora do ambiente hospitalar, conforme depoimento de testemunhas para os investigadores. Ex-funcionários e pacientes afirmam que ela não costumava aceitar críticas e tratava pacientes com descaso. O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (Crogo) havia se posicionado, anteriormente, informando que estava tomando medidas cabíveis que não poderiam ser divulgadas devido ao sigilo do caso. Nesta quinta-feira (8) o Crogo afirmou ainda não ter sido comunicado sobre o indiciamento e que vai ser manifestar assim que estiver ciente. O Daqui não conseguiu contato com o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (Cromg), onde a dentista também tem registro ativo.Nota da defesa de Hellen MatiasOs advogados da odontóloga Hellen Matias – Caroline Arantes, Thaís Canedo e Vinicius Xingo –explicam que dos 21 pacientes ouvidos no inquérito, só foram produzidos dois laudos de Auto de Corpo de Delito, que é a prova técnica para dar base às acusações impostas. O primeiro deles não concluiu pela existência de lesão e o segundo apontou que a blefaroplastia foi feita por outra profissional. “No primeiro laudo, já se exclui totalmente o crime de lesão corporal. Já o segundo laudo deixa claro que a paciente teve 4 intervenções de outra profissional. Ou seja, a paciente fez uma blefaroplastia realizada por outra profissional e a nossa cliente apenas fez a correção de um procedimento realizado anteriormente. Reiteramos que o atendimento feito pela nossa cliente foi em caráter reparador dentro das competências do cirurgião Buco Maxilo Facial, havendo melhora relatada pela suposta vítima no quadro tratado.”, reforça a defesa.A defesa também esclarece, que diferente do que foi publicado na imprensa, o pedido de soltura da odontóloga não foi negado, mas está sendo analisado dentro do prazo para decisão.