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Dia da Consciência Negra: a presença do negro em novelas na TV

Reprodução Estadão
Ruth de Souza e Zezé Motta em foto de 1984, ano em que interpretaram Jussara e Sônia, mãe e filha em 'Corpo a Corpo'.

Nesta quarta-feira, 20, Dia da Consciência Negra no Brasil, data associada à morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, o E+ relembra momentos marcantes ligados à presença de atores negros nas novelas da TV brasileira.

Ao longo dos anos, o mundo da televisão sofreu com questões ligadas ao preconceito racial. Na década de 1960, por exemplo, na 1ª novela que teria um personagem negro como protagonista, foi escolhido para viver o papel o ator Sérgio Cardoso, branco, fazendo uso da técnica hoje conhecida como blackface.

A Globo, principal produtora de novelas atualmente, por exemplo, só teve sua 1ª protagonista negra em uma novela com Taís Araújo, em Da Cor do Pecado, no ano de 2004. Anos depois, ela também seria pioneira em protagonizar uma novela em horário nobre, Amor à Vida. Taís será uma das protagonistas de Amor de Mãe, próxima novela das 9 da emissora.

Mais recentemente, a novela Segundo Sol, exibida em 2018, recebeu críticas e até uma notificação do Ministério Público do Trabalho por conta do baixo número de atores negros em seu elenco, fato que ocorria com frequência maior em décadas passadas.

O médico negro de Milton Gonçalves em Pecado Capital (1975)

A 1ª versão de Pecado Capital, que foi ao ar entre 24 de novembro de 1975 e 4 de junho de 1976, trouxe Milton Gonçalves interpretando o psiquiatra Dr. Percival em horário nobre.

Até então, era comum que artistas negros ficassem restritos a funções como empregados ou motoristas em novelas, ou como escravos. E mesmo assim, ainda haviam casos como o da novela Escrava Isaura, de 1976, em que apesar de a protagonista ser uma escrava, a personagem era interpretada pela atriz branca Lucélia Santos.

Percival já havia feito diversos cursos na Europa, onde participava de congressos anuais como representante brasileiro. Como médico, o personagem era respeitado pelos demais na trama. O personagem em boa condição social havia sido um pedido do próprio ator para Janete Clair, autora da novela.
"Houve um tempo em que eu dizia pra mim: 'tenho que fazer um personagem de gravata que seja bem-educado, fale bom português e seja bem relacionado. Fui a Janete Clair e pedi a ela", contou Milton Gonçalves em entrevista ao documentário A Negação do Brasil (2000). 

Posteriormente, a quantidade de personagens negros em posições profissionais de maior prestígio foi aumentando, principalmente nos anos 2000 e 2010.
É possível citar, por exemplo, a médica Luciana (Camila Pitanga) em Mulheres Apaixonadas (2003), o jornalista Bruno (Sérgio Menezes) em Celebridade (2003), o gerente Abílio (Ronnie Marruda) em Alma Gêmea (2005), o empresário Barão (Ailton Graça) em Sete Pecados (2007), a delegada Tita Bicalho (Cris Viana) em Tempos Modenos (2010) e o deputado Romildo Rosa, vivido pelo próprio Milton Gonçalves em A Favorita (2008).

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