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Diarista busca respostas de acidente que matou o marido e a filha em Goiás

Wildes Barbosa/O Popular
Maria Rosângela enfrenta dificuldades financeiras desde que perdeu o marido e a filha

A diarista Maria Rosângela Castro de Macedo Felizardo viveu 13 dos seus 41 anos ao lado do pedreiro José Felizardo da Silva, de 58. No início da noite de 31 de outubro deste ano, um domingo que compunha o feriado prolongado de Finados, ele não resistiu a um acidente na GO-469, entre Abadia de Goiás e Trindade.

Na colisão, morreu também a filha do meio da diarista, Daniela Castro Macedo, de 17. Desde então, Rosângela mergulhou num abismo emocional e financeiro que foi acrescido de indagações que permeiam as circunstâncias do acidente.

Naquele fim de domingo, Felizardo saiu de casa no Setor Santa Fé, em Trindade, para levar os dois genros no Residencial Buena Vista, em Goiânia. Ao voltar para casa, enfrentou a rodovia lotada e a pista molhada porque havia chovido muito. Na altura do quilômetro 24, dentro do município de Abadia de Goiás, num trecho de sinalização que proíbe ultrapassagem, o Ford Ecosport 2005 que conduzia colidiu de frente com uma Fiat Toro 2017.

No carro de Felizardo estava a enteada Daniela e o sobrinho Henrique Gabriel Cardoso Silva, de 4 anos. No outro veículo, de uma empresa de insumos agrícolas e originação de grãos, havia o motorista e um passageiro. Felizardo e Daniela morreram no local. O motorista da Toro não precisou de atendimento médico, mas o passageiro e o garoto Henrique foram levados para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol).

Rosângela está inconformada. No Registro de Atendimento Integrado (RAI) conferido quatro dias depois pelo Comando de Policiamento Rodoviário (CPR), da Polícia Militar, consta que Felizardo teria invadido a pista contrária, provocando a colisão. A informação foi repassada aos policiais pelo condutor do outro veículo.

“Ele era um motorista exemplar, mas, como está morto não pode se defender. Vou lutar até o último segundo da minha vida para provar que meu esposo não teve culpa. Ele conhecia aquela rota, não tinha multas como motorista”, afirma a diarista.

O advogado Ruzell Nogueira soube da história por uma aluna, sobrinha de Rosângela, e decidiu assumir a causa de forma voluntária. “Parece algo planejado para fazer do morto o culpado. Por que não fizeram o teste do bafômetro num acidente com duas vítimas mortas?”, pergunta o advogado.

Em meio a tantas dúvidas, há três personagens: a comunicante do acidente à PM, que não viu as circunstâncias; uma enfermeira do Hugol, amiga da família da vítima; e uma mulher que chegou logo após a colisão e prestou socorro.

A primeira disse que a pista estava muito molhada e ainda chuviscava. “Eu não vi o acidente porque já tinha acontecido (quando cheguei). Tinha muito carro na rodovia e havia um rapaz de pé. Perguntei se precisava de algo e ele me pediu para chamar a polícia. Foi o que eu fiz e depois segui viagem.”

Quando as duas vítimas chegaram ao Hugol, uma delas o passageiro da Toro, a enfermeira ligou para um parente e mencionou embriaguez, mas na RAI não consta que foi realizado o teste do bafômetro no condutor que sobreviveu. Finalmente, a mulher que passou com uma parente logo após o acidente e levou o pequeno Henrique para atendimento médico em Abadia de Goiás, antes que ele fosse transferido para o Hugol, contou uma versão que confundiu a família.

“Não sei se ele (Felizardo) estava correndo. O carro estava atravessado na pista e o outro meio atravessado”, contou em áudio a mulher que se identificou como Bárbara. Ela foi a primeira a chegar e constatou a morte de Felizardo e de Daniela. “Procurei o celular para avisar a família, mas só achei a carteira de habilitação”, afirma.

Bárbara inseriu o nome de Felizardo numa rede social e pediu ajuda. Foi assim que Maria Rosângela soube que o marido e a filha tinham perdido a vida. A testemunha disse a uma familiar de Rosângela que Felizardo invadiu a pista contrária. “Como ela sabe disso, se não viu o acidente?”, pergunta a viúva.

 

Advogado fala em indenização

O advogado Ruzell Nogueira pretende pleitear uma ação de reparação de danos porque, com a morte do marido, Maria Rosângela enfrenta necessidades financeiras. O casal construía a residência da família e um espaço comercial no mesmo lote para abrir uma pizzaria. “Ficou tudo pelo meio do caminho. Tenho mensalidades do lote para pagar”, detalha a diarista, que chegou a perder a voz e não conseguiu mais trabalhar. Vizinhos e pessoas ligadas à igreja que frequenta têm ajudado com a alimentação. 

Para o advogado, “a verdade precisa ser esclarecida”, por isso vai pedir abertura de inquérito policial na delegacia da Polícia Civil de Abadia de Goiás. Ruzell aguarda o resultado da perícia para saber quem provocou o acidente e não tem dúvidas de que as informações da RAI beneficiam a empresa proprietária do Fiat Toro. “Minha cliente perdeu o marido e a filha de 17 anos, que tinha uma vida pela frente. Ainda tem a criança, seu sobrinho, que recebeu alta do Hugol, mas pode ficar com sequelas.” O garoto sofreu traumatismo craniano, passou por cirurgia, vai precisar de cirurgia plástica, ainda sente muita dor e, segundo os médicos, poderá ter problemas neurológicos. 

A reportagem entrou em contato com a PM 5, setor da Polícia Militar que responde às demandas da imprensa, para saber quais são os procedimentos padrão nesse tipo de ocorrência e, por qual razão não foi realizado o teste para medir o teor alcoólico no sangue do condutor do veículo utilitário, mas não obteve retorno. A Superintendência da Polícia Técnico-Científica informou que foi realizado teste de alcoolemia no corpo de Felizardo, mas o resultado do laudo só pode ser repassado ao delegado responsável pelas investigações. Ainda é aguardado o laudo pericial, procedimento imprescindível para esclarecer as circunstâncias do acidente. 

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