PORTO ALEGRE, RS E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A chuva que atinge o Rio Grande do Sul fez o lago Guaíba, em Porto Alegre, ter a maior cheia em 56 anos. Ao menos uma pessoa morreu na cidade, que registra alagamentos em diversos pontos nesta quarta (27).Outras partes do estado também sofrem com as consequências do ciclone extratropical que atinge a região.O nível de água do Guaíba subiu 13 centímetros na madrugada, causando alagamentos de ruas e residências na zona sul e se aproximando da cota de inundação no centro histórico. À tarde, chegou a 3,17 metros, o nível máximo em mais de cinco décadas. A cota de transbordamento é de 3 metros.A cidade enfrentou duas grandes enchentes, em 1941 e 1967, antes de implementar integralmente o atual sistema de contenção de cheias.A marca desta quarta bate os 2,93 metros alcançados pelo Guaíba em 2015. No início desta madrugada, o nível estava em 2,80 metros, subindo cerca de 40 centímetros em menos de 12 horas, considerando a marca das 11h30.Análise da Folha de S.Paulo com os dados de setembro indica que a água está acima da cota de transbordamento para as ilhas do Guaíba desde 6 de setembro.Às 8h20, a Defesa Civil do RS emitiu um alerta para inundação em todos os municípios banhados pelo lago válido pelas próximas 24 horas.Conforme o lago que banha a capital recebe as águas de quatro rios -Caí, Gravataí, Sinos e Jacuí- o Guaíba agora avança sobre a capital gaúcha. Especialmente porque o vento sul dificulta a saída da água para a lagoa dos Patos e, desta, para o oceano. Porém, o centro conta com estruturas contra inundações como o muro da avenida da Mauá e comportas de contenção, que já foram fechadas.Na manhã desta quarta, a água já havia avançado sobre os armazéns do antigo porto e inundado as estruturas de passeio e contemplação da Orla Moacyr Scliar. A cidade teve o setembro mais chuvoso desde que a medição começou a ser feita, em 1916.Por volta das 8h30, a Guarda Municipal localizou um corpo na orla próximo à Usina do Gasômetro, e ele foi resgatado pelos bombeiros. Trata-se de um homem jovem ainda não identificado que estava sem roupas.Se confirmada a morte por afogamento, será a segunda vítima das chuvas dos últimos dias. Na terça (26), uma mulher de 60 anos se afogou após ter o carro da família arrastado para um riacho em Barra do Ribeiro, município que fica ao sul do lago Guaíba, na região da Costa Doce.Na capital gaúcha, a principal preocupação do dia é com a população de baixa renda que reside na região das ilhas da Pintada, do Pavão e dos Marinheiros, que está sendo retirada do local pela prefeitura. O prefeito Sebastião Melo (MDB) anunciou que pedirá ajuda ao Exército para evacuar a região.As famílias estão sendo abrigadas no ginásio do Departamento Municipal de Habitação. O Gabinete da Causa Animal também atua resgatando animais de estimação. Segundo a prefeitura da capital gaúcha, 117 pessoas estão acolhidas em abrigos.Em Rio Grande, no sul do estado, região que também enfrenta a cheia da lagoa dos Patos, ocorreu uma cena curiosa na tarde de terça (26): dois leões-marinhos apareceram na calçada próxima ao Mercado Público da cidade, assustando cachorros.Com a movimentação do ciclone extratropical para o oceano, a chuva deve se encerrar nas próximas horas e o tempo fica aberto até sábado (30), quando pode retornar em pouca quantidade no norte do estado. A próxima semana deverá ser de tempo seco.Com a passagem sucessiva de ciclones, o RS enfrenta o mês de setembro mais chuvoso de sua história. Os dois eventos mais traumáticos ocorreram em junho, quando 16 pessoas morreram, a maior parte delas no litoral norte, e no começo deste mês, quando o Vale do Taquari contabilizou, até o momento, 50 mortes e oito desaparecidos em razão de enchentes e enxurradas. Um homem encontrado no domingo (24), em Roca Sales, é a 50ª vítima.Nesta quarta, o governador Eduardo Leite (PSDB) será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir medidas de auxílio ao estado. No dia seguinte, representantes do governo federal desembarcam no estado e visitarão o Vale do Taquari.