Atualizada às 18h47minA delegacia da cidade de Goiás está investigando um suposto caso de apologia à escravidão envolvendo um rapaz negro e um médico do município. Em um vídeo que circula nas redes sociais, o jovem aparece com as mãos e pés acorrentados e uma argola no pescoço. As imagens foram publicadas em uma rede social do próprio médico, Márcio Antônio Souza Júnior, que enquanto mostra as amarras afirma que “o jovem não quis estudar e vai viver na senzala”.InvestigaçãoO delegado responsável pela investigação do caso, Gustavo Barreto, disse à CBN Goiânia que a possível vítima já prestou depoimento na delegacia e relatou que foi ele mesmo quem pediu para o médico filmá-lo e concordou com toda a situação que foi montada. O homem também contou à polícia que é funcionário do médico e não relatou nenhuma situação de trabalho escravo ou que desrespeitasse as leis trabalhistas.O delegado disse ainda que nos próximos dias deve ouvir o médico e mais testemunhas sobre o caso. A filmagem teria sido feita em um colégio na zona rural da cidade e apagada pouco tempo depois de ser publicada.Em outra postagem feita pelo dono do perfil, autor e vítima aparecem conversando em tom de brincadeira. Agora, a delegacia da cidade de Goiás irá apurar se o fato se trata apenas de uma “brincadeira de profundo mau gosto” ou de possível prática de constrangimento ilegal e injúria racial.Cidade de Goiás repudia açãoA Secretaria das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos da Cidade de Goiás divulgou uma nota repúdio sobre o que classificou como "lamentável episódio em que uma Pessoa Negra, um Ser Humano é exposto acorrentado pelas pernas e com grilhões nos braços e no pescoço". A nota cita o artigo 3º da Constituição Federal, que estabelece os direitos fundamentais do cidadão."Além das disposições constitucionais e legais, a prática de qualquer ato que atente contra a dignidade humana por conta da cor da pele deve ser amplamente combatida pela Sociedade e pelo Poder Público, sendo essencial para a construção de uma sociedade mais justa, sustentada na igualdade entre as Pessoas", diz a nota. Por fim, a pasta afirma que a Prefeitura "acompanhará atentamente os desdobramentos da investigação e tomará as medidas de sua competência.Após a repercussão das imagens, o médico publicou um novo vídeo em que questiona o homem negro sobre as acusações de apologia a escravidão. "Isso é uma brincadeira, só entrar na mídia, moçada. Nós tem é que trabalhar moçada, é tudo uma brincadeira", responde.Em outro vídeo, o médico novamente questiona. "E aí camarão, povo enchendo o saco, o que você fala disso?", pergunta. "Povo tem é que trabalhar rapaz, vida melhor que Deus deu pro homem é trabalhar", responde. O médico completa: "Aqui é tranquilidade, paz, tem nada de escravidão, não. Quem não queria uma vida dessa?".A reportagem não conseguiu localizar a defesa dos envolvidos. O DAQUI também entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina (Cremego), que disse que não vai se manifestar sobre o caso.