O empresário Pablo Russel Rocha foi condenado a 24 anos de prisão por ter arrastado por dois quilômetros e matado a garota de programa Selma Heloisa Artigas da Silva, a Nicole, em 1998, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).A sentença foi dada na noite desta quarta-feira (29) após julgamento que durou quase 12 horas e 18 anos depois do crime, que gerou comoção e é considerado um dos mais emblemáticos do interior de São Paulo.Pablo foi condenado pelos sete jurados por homicídio triplamente qualificado -motivo fútil, uso de recurso que impossibilitasse a defesa da vítima e meio cruel. Inicialmente, a pena será cumprida em regime fechado. A defesa vai recorrer da decisão.O empresário deixou o Fórum de Ribeirão preso, deve passar a noite numa delegacia e ser encaminhado à penitenciária nesta quinta-feira (30), de acordo com a assessoria do TJ (Tribunal de Justiça).O júri começou às 10h15 desta quarta e, logo nas primeiras horas, foram ouvidas cinco testemunhas, sendo três de acusação e duas de defesa.Um funcionário da boate em que Nicole trabalhava afirmou ter visto a garota de programa entrar na camionete Pajero de Pablo, enquanto um investigador confirmou o encontro de restos de roupas e calçados da vítima na avenida Maurilio Biagi.Ao ser ouvido, o agora condenado disse que Nicole desceu do carro após uma discussão entre ambos e que, em seguida, arrancou com o veículo e não percebeu que ela tinha ficado presa ao cinto de segurança porque o som da Pajero estava com volume alto.A briga, na versão de Pablo, ocorreu por ele não querer levar Nicole a um ponto de droga. Para o Ministério Público Estadual, a garota de programa foi amarrada ao cinto e arrastada propositalmente.Com a condenação, o empresário voltará à prisão, onde esteve até 2000, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) concedeu um habeas corpus que o deixou recorrer em liberdade até a noite desta quarta-feira.O CrimeNicole, grávida de três meses, morreu na madrugada de 11 de setembro de 1998. Após ter sido arrastado por dois quilômetros, o seu corpo, esfacelado, foi abandonado na avenida Caramuru e o empresário foi para casa. Seu carro foi lavado para tentar eliminar vestígios de sangue.O processo foi marcado por batalhas jurídicas. Pouco mais de um ano após a prisão, um parecer apresentado pelo legista George Sanguinetti, que atuou no caso PC Farias, contrariou a tese inicial de que Pablo amarrou Nicole e a arrastou até a morte.Um laudo do IC (Instituto de Criminalística) havia descartado que tenha ocorrido um acidente e informou que a garota tinha sido presa pelo braço esquerdo. Parecer do IML de São Paulo indicou que ela foi amarrada por um nó duplo.Esse não foi o único imbróglio judicial. Em 17 de maio de 2012, a falta do veículo como prova e críticas ao Judiciário feitas pela defesa de Pablo resultaram no adiamento do júri popular marcado para aquela data.O advogado Sergei Cobra Arbex, defensor do empresário, alegou que estava cerceado pela Justiça e o juiz José Roberto Bernardi Liberal decidiu dissolver o julgamento.Para o defensor, a presença da Pajero era importante para mostrar "como ocorreram os fatos". Ele ainda criticou Liberal e o juiz Luis Augusto Freire Teotônio, primeiro responsável pelo caso e que rejeitou o pedido da presença da Pajero no júri. Ele disse ainda que o juiz mandou queimar laudos técnicos e leiloar o veículo. Teotônio afirmou à época que não responderia as acusações por avaliar como "estratégia de defesa".Remarcado para agosto do mesmo ano, foi suspenso por uma liminar do STF. Na decisão, o ministro Celso de Mello diz que o juiz Teotônio "teria, aparentemente, antecipado um juízo desfavorável ao paciente, apto a influir, de maneira indevida, sobre o ânimo dos jurados". Os dois juízes deixaram o caso.Arbex sustenta que o que ocorreu foi um acidente : "Por mais trágico que tenha sido, foi um acidente", afirmou ele na última semana.