Quando a pedagoga Danielle Bueno Amaral, de 36 anos, postou no grupo da família no WhatsApp o primeiro vídeo do filho Bruno Bueno Araújo, na época com seis meses, comendo um gomo de mexerica sozinho causou um susto nos avós.Preocupados, eles achavam que o neto poderia se engasgar com aquele método de introdução alimentar. O bebê, que até então só mamava, se deliciou com a fruta. Depois, ele ganhou mais opções, como amora, mamão e banana, verduras e, aos poucos, outros alimentos. “Eles ficaram com medo”, recorda.Um dos maiores desafios dos pais de primeira viagem quando o bebê completa seis meses, idade recomendada pelos especialistas, é escolher a melhor forma de iniciar a introdução alimentar. O que não faltam são dúvidas nessa fase.“Devem ser oferecidos alimentos naturais, por exemplo, frutas de todos os tipos, legumes, verduras, carboidratos e proteínas. Evitar uso de sal na preparação. Os sucos devem ser ofertados apenas após um ano de idade e o açúcar apenas com 2”, aconselha a pediatra Isis Cristiane Fonseca Oliveira.A especialista explica que a restrição do açúcar é indicada por causa dos riscos do desenvolvimento de obesidade e doenças correlacionadas, e também porque a criança pode acabar dando preferência a alimentos doces e deixar de lado os salgados, que fazem parte das principais refeições.Já o mel é contraindicado pelo risco de conter esporos de Clostridium botulinum – bactéria cuja toxina desencadeia a chamada doença do botulismo infantil. A microbiota intestinal dos bebês, em formação, não é capaz de impedir a germinação dos esporos desse agente.No entanto, antes mesmo de iniciar o processo de alimentação, é preciso ficar atento aos primeiros sinais de que os bebês já estão prontos para receber alimentos sólidos, lembrando que até o sexto mês de idade o leite materno é suficiente.Sentar sem apoio ou com o mínimo possível, mostrar disposição para mastigar e ter interesse pela refeição são indícios importantes. “Isso tudo, além de diminuição do reflexo de protrusão da língua, pegar objetos e colocar na boca e ter completa sustentação cervical”, acrescenta Isis Cristiane Fonseca.MétodosO próximo passo é a escolha do método alimentar para os pequenos, talvez a escola mais difícil para os pais nesse processo de introdução dos alimentos porque existem diversas técnicas disponíveis com estudos e pesquisas confirmadas.Danielle Bueno Amaral optou pelo BLW (baby-led weaning, ou desmame guiado pelo bebê), processo criado pela agente de saúde britânica e doutora em alimentação Gill Rapley. A ideia é que a criança se alimente sozinha com a ajuda dos dedos. “Eu escolhi para desenvolver a autonomia do Bruno”, conta.Assim como Danielle, quem escolhe alimentar seu bebê por meio dessa técnica precisa pensar os alimentos de forma diferente, já que eles devem ser cortados em pedaços para que o bebê consiga pegar sem nenhuma dificuldade.Legumes, carnes cozidas e frutas maduras são os itens mais recomendados durante a primeira etapa. “Eu tenho mais sucesso com as frutas. O Bruno morde a maçã, ele coloca o gominho de mexerica na boca, a amora, o mamão e a banana. No início, os meus pais tomaram um susto com ele comendo assim.”Apesar de desenvolver a autonomia e a independência que a técnica proporciona aos bebês, afinal, são eles que escolhem o que comer e o quanto, muitos pais ainda ficam inseguros. “O medo é pelo engasgo. O BLW é um método seguro, mas precisa ser feito com orientação por conta dos cortes corretos, da textura ideal e da consistência do alimento que deve ser apresentado para a criança. Outro receio é quando a mãe por conta do trabalho fica insegura em delegar essa introdução para outra pessoa”, conta a pediatra Loretta Campos.A especialista lembra que o melhor método é aquele que se adapta melhor à estrutura de cada família. Para as mães que têm uma rotina de trabalho intenso e não podem acompanhar a introdução com o BLW sem o acompanhamento dela, pode ser melhor oferecer verduras e frutas amassadas e servidas com a colher, o método tradicional e participativo. “O mais importante é que os alimentos sejam ofertados de uma forma separada e não misturados para que a criança conheça o sabor de cada alimento”, complementa Loretta. AlergiasUma alimentação variada, preferencialmente in natura, tem uma influência importante na formação de uma microbiota intestinal equilibrada do bebê. Especialistas afirmam que os pais precisam ficar atentos a qualquer reação alérgica durante a introdução de alimentos novos. Nesse momento, por exemplo, Danielle Bueno descobriu que o filho é alérgico a ovo e abacaxi. “Ele adora os dois e por enquanto não pode comer até criar uma imunidade. Estamos acompanhando o quadro com uma alergista para depois fazer novos exames”, conta a mãe.Especialistas afirmam que os sintomas de uma reação alérgica nos bebês podem ser locais, como coceira, vômito, dor abdominal e náusea, ou sistêmicos, como urticária, queda da pressão arterial, edema de glote e anafilaxia. Os sinais de alergia podem acontecer independentemente da quantidade ingerida. Segundo alguns estudos, os alimentos que mais causam o problema na população são leite, ovos, trigo, soja, peixe, crustáceos, amendoim, castanhas e gergelim. Além disso, há cada vez mais casos de crianças alérgicas a frutas. Tradicional e BLWHoje, os métodos mais praticados na introdução alimentar são o tradicional, com a oferta de papinhas, e o BLW, em que são oferecidos pedaços de alimentos para que os bebês possam comer sozinhos. A pedagoga Aymê Cristina Nascimento, de 30 anos, optou pelos dois com o filho Alexandre, de 1 ano.“Eu me senti mais segura assim porque no início tinha medo que ele engasgasse. Depois aprendi os cortes das verduras e frutas e ele foi ganhando autonomia. Auxiliava apenas com arroz e feijão, dando para ele com a colher”, lembra.A recomendação oficial da Organização Mundial de Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria é que os pais comecem a oferecer alimentos para complementar a nutrição com leite materno ou fórmula assim que os filhos completarem seis meses – a amamentação é orientada até os 2 anos de idade.Os pediatras orientam que essa introdução seja feita com as tradicionais papinhas (papas ou purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação de autonomia, onde a criança consiga fazer a autoalimentação.“Eu tinha essa vontade de vê-lo participando do processo de alimentação, sabendo o gosto de cada coisa. Fui privilegiada com o Alexandre. Ele não deu trabalho, gosta de tudo. Os desafios no início foram com os cortes dos alimentos, que aprendi a fazer pesquisando na internet para evitar o engasgo. Quando vi os pequenos comendo sozinhos os pedaços de comida, achei a coisa mais fofa do mundo”, lembra Aymê.O BLW faz bastante sucesso nas redes sociais com diversos perfis no Instagram e o tema já ganhou livros publicados em mais de 15 idiomas.Já a administradora Ana Paula da Silva e Sousa Rocha, de 37 anos, não teve dúvidas na introdução alimentar do filho Pedro Silva Rocha, de 1 ano. Ela escolheu o processo tradicional com papinha amassada, frutas e verduras. “O BLW não é da minha geração e tenho a impressão que a criança mais brinca e suja do que se alimenta. O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento. Ele adorou tudo, cada sabor e consistência. Apesar de amassar com garfo, cada alimento é de um jeito, no sentido de textura, fina, grossa e arenosa”, comenta. Rotina alimentarA introdução alimentar deve começar com a oferta de duas papas de fruta e uma de legumes diariamente durante o primeiro mês. O interessante é oferecer diferentes opções a cada dia. Se um dia a hortaliça foi representada pela cenoura, tente outra no dia seguinte. O mesmo vale para as frutas: se pela manhã foi mamão, opte por outra à tarde ou à noite.“É importante estimular a criança desde cedo a ter uma alimentação variada. Quanto mais colorida for a oferta no prato, melhor e maior vai ser o consumo de vitaminas e minerais”, ressalta a nutricionista Mayara Hamú Nascimento.Também não é recomendado peneirar ou liquidificar a comida, basta amassar com um garfo. “Não devemos fazer isso com os alimentos, pois assim estaremos processando os mesmos e eles perdem nutrientes, além do que diminui os movimentos mastigatórios e o desenvolvimento da face e da fala da criança”, recomenda a pediatra Simone Silva Ramos. Além disso, a especialista aconselha não misturar os ingredientes numa sopa homogênea.“Apesar de diminuir os engasgos, o bebê não vai ter o desenvolvimento do paladar adequadamente e também não aprende a mastigar”, completa.O momento de introdução alimentar é uma fase de recusa dos bebês, o que é normal, pois trata-se de uma experiência totalmente nova para elas. Muitas mães se desesperam quando o filho não quer o prato. A dica da nutricionista é não desistir.“Tem de ofertar pelo menos 15 vezes cada alimento, sendo que é importante apresentar de diferentes formas de preparo, sozinho, misturado com outro que o pequeno já tenha aprovado, em alguma receita, até que o sabor se torne habitual para o paladar”, completa Mayara Hamú.Por ser um período de adaptação para o bebê, não é recomendado oferecer alimentos industrializados que ao longo da vida podem oferecer riscos, como obesidade, diabetes, hipertensão e até mesmo aumentar o risco de cárie. O alerta é da nutricionista Izabela Dias.“A oferta desses produtos podem provocar desconforto gástrico e por isso devem ser evitados açúcar, gordura, embutidos ou enlatados”, diz. A especialista afirma que a janela imunológica nessa fase ocorre entre o sexto e o oitavo mês e por isso é melhor optar por frutas, frango, carne, peixe, feijão, batata-doce, mandioca, abóbora e berinjela. Não confundaO engasgo é muitas vezes confundido com o Reflexo de Gag, movimento fisiológico normal em que o bebê cospe a comida para expulsar elementos identificados como perigosos. A criança não tem controle sobre essa reação, pois, após meses só mamando, ainda está ganhando familiaridade com o alimento. Na introdução alimentar, a criança pode expulsar pedaços maiores e até mesmo a comida pastosa. Já o engasgo é a obstrução parcial ou total das vias aéreas e pode acontecer com as papinhas e com os pedaços de alimentos. Processo alimentar Crianças amamentadas ao completar 6 mesesLeite materno sob livre demandaPapa de frutaPapa salgadaPapa de frutaLeite materno Aos 7 mesesLeite materno sob livre demandaPapa de frutaPapa salgadaPapa de frutaPapa salgada Aos 12 mesesLeite materno e fruta ou cereal ou tubérculoFrutaRefeição básica da famíliaFruta ou pão simples ou tubérculo ou cerealRefeição básica da família Crianças não amamentadasMenor de 4 meses Alimentação láctea De 4 a 8 mesesLeitePapa de frutaPapa salgadaPapa de frutaPapa salgadaLeite Após 8 mesesLeiteFrutaPapa salgada ou refeição da famíliaFrutaPapa salgadaLeite Após 12 mesesLeite e fruta ou cereal ou tubérculoFrutaRefeição básica da famíliaFruta ou pão simplesRefeição básica da famíliaLeiteFonte: Ministério da Saúde-Imagem (Image_1.2260530)-Imagem (Image_1.2260531)