Na manhã desta segunda-feira (27), em uma esquina da Rua T-36, no setor Bueno, em Goiânia, a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM) teve de atender a ocorrência de um capotamento no local, em que o relatado pelas testemunhas como causa é a falta de visibilidade causada pelos carros estacionados nas esquinas.Segundo o diretor de Trânsito da SMM, Rodrigo Mota, o caso exemplifica o perigo de se estacionar nos locais e o motivo desta ação ser proibida e considerada uma infração pelo Código Brasileiro de Trânsito (CTB). Mesmo assim, motoristas insistem em praticá-la. Pelo menos 68 infrações foram flagradas pelas autoridades em Goiás por dia neste ano.Nestes casos, foram aplicadas multas de R$ 130,16 e quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), segundo o determinado no artigo 181, inciso I, do CTB. Ao todo, do dia 1º de janeiro e até às 7 horas da manhã desta segunda-feira (27), o site de transparência do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) registrava 10.054 multas aplicadas em todo o Estado.A capital Goiânia é responsável por 78% dessas infrações, tendo registrado 7.863 irregularidades deste tipo neste ano, uma média de 53 por dia. Apenas a SMM verificou 6.959 veículos estacionados nas esquinas das vias da cidade.Mota afirma que deixar o veículo nas esquinas é um problema grave por tirar o campo de visão dos motoristas. “O outro não vai enxergar o carro que está passando, ele vai acabar tendo que avançar mais sem ver o que está acontecendo”, diz.Engenheiro civil e especialista em trânsito, o professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen considera que, além de atrapalhar a visibilidade dos motoristas, o estacionamento irregular deste tipo “atrapalha também a segurança dos pedestres, pois também obstrui o local de travessia”.Ele considera ainda que no Brasil há um adicional de gravidade que é o uso do insulfilm que atrapalha a visibilidade e, por isso, é necessária a fiscalização. No entanto, como o CTB fala em irregularidade no caso de estacionar a menos de cinco metros das esquinas é mais difícil verificar o problema apenas a olho nu. Para Rothen, “nada impede que os agentes sejam munidos de trenas aferidas para realizarem a fiscalização”, o que seria até mesmo educativo para todos. O diretor da SMM, porém, conta que não é feita a medição, embora fosse o correto a se fazer.Mota explica que os agentes fazem as autuações nos casos em que não há como contestar, em que o espaço ocupado é claramente nas esquinas. “Isso não prejudica a fiscalização e quando a pessoa sabe que está errada não tem muito o que contestar.”O número de infrações deste tipo aumentou em quase três vezes entre os anos de 2021 e 2022, quando a SMM registrou 5.297 e 5.595 multas respectivamente, na comparação com 2023, com 16.487 ocorrências, o que é explicado pela maior circulação em decorrência do fim das restrições necessárias pela pandemia de Covid-19. Sobre os motoristas insistirem na prática, o diretor da secretaria lembra que há casos de estacionamentos até mesmo abaixo de placas de proibido estacionar. “Eles tentam contar com a sorte mesmo, mas depois que recebem o auto de infração nos acusam de indústria da multa”, reforça.Para Rothen, a insistência se dá pela falta de fiscalização, que criou o hábito dos motoristas goianos de estacionarem irregularmente, como nas esquinas. “É comum muitos motoristas goianos acharem que tem o direito de cometer irregularidades no trânsito. Para isso, usam duas desculpas básicas: a primeira de que é rapidinho e a segunda é que cidade não oferece opções, o que não é verdade.”Ele lembra ainda que a fiscalização desta infração pode ser feita, por exemplo, com o uso das câmeras. “Logicamente, aferidas para isso. A atuação do agente é mais efetiva, pois ele pode induzir os motoristas a não permanecerem no local, assim diminuindo os riscos. A multa eletrônica, quando chegar, algum acidente já pode ter ocorrido.”O engenheiro e professor do IFG conta ainda que esteve recentemente em outras capitais da Região Sul do País e o comportamento dos motoristas é totalmente diferente. “Claro que existem algumas irregularidades, mas nem se compara com alguns motoristas goianos. E é muito bom dirigir em cidades onde o respeito é maior. O trânsito flui mais e dá uma sensação de segurança maior. Nessa minha viagem comparei muito o comportamento dos motoristas e vi a diferença”, relata.-Imagem (1.2789352)