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Ex-diretora diz que "recordou-se" de perda de chave da sala 7 dias após sumiço de cartões

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Saída da diretora da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM), Regina Pereira Vargas Silva, foi anunciada depois que o jornal O Popular pediu informações sobre a investigação

A ex-diretora de Políticas Públicas da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres (SMPM), Regina Pereira Vargas Silva, exonerada na última segunda-feira (8) após o furto de cartões de programa social, afirmou, em declarações colhidas pela Prefeitura de Goiânia, que "recordou-se que deu falta da chave de sua sala" depois de saber do sumiço dos documentos, sete dias após o crime.

Os cartões ficavam na sala da Diretoria, na sede da SMPM, no Centro de Goiânia, e foram furtados em 12 de abril, mas o desaparecimento só foi identificado no dia 19. O jornal O Popular relevou o caso na última segunda-feira (8), depois que o ex-estagiário da SMPM Walisson Pinheiro Pereira foi detido pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), com apreensão dos 353 cartões em sua casa. Dezesseis deles foram utilizados, com retirada de R$ 28,8 mil.

A reportagem teve acesso ao termo de declaração, colhido pela Secretaria da Casa Civil, em sindicância para embasar abertura de processo administrativo sobre o caso. A Procuradoria Geral do Município (PGM) informou inicialmente que o "depoimento" havia sido dado no gabinete do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), mas depois recuou, afirmando que não foi no local. O termo foi encaminhado à Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), que apura o caso.

No relato, a ex-diretora diz que encontrou a chave "posteriormente", em outro chaveiro da sala da Gerência de Conselhos Locais, "não sabendo por qual motivo estavam misturadas àquelas, nem quem teria as juntado".

Regina conta que foi a primeira da secretaria a saber de "possível tentativa de arrombamento" do prédio da SMPM, porque havia sido encontrada uma corda pendurada na marquise do prédio e a janela do acesso à laje estava aberta, além de haver a presença de uma escada e uma almofada no local. Ela disse ter sido alertada por funcionários da Casa Popular no dia 13 de abril. Segundo as apurações, é por onde Walisson teria fugido depois do furto.

A ex-diretora diz que, "alarmada com a situação", entrou em contato com a Guarda para solicitar providências e comunicou à titular da pasta, Tatiana Lemos. Não houve identificação de invasão nem furto até o dia 19, quando uma servidora efetiva notou dados apagados em arquivos digitais do inventário dos cartões. Regina diz que "aparentemente o computador foi formatado".

A servidora então se lembrou que havia feito a impressão do inventário e o colocou junto dos cartões. Ao checar pessoalmente, ela então notou a ausência de parte deles, assim como dos dados cadastrais das beneficiárias. A servidora questionou Regina, que estava na Gerência de Apoio Administrativo (cargo que acumulava com a diretoria), se ela havia retirado os cartões. "O que foi negado, gerando apreensão em ambas", diz o termo.

Regina relata que houve contato com a Alelo, operadora dos cartões, para bloqueio e identificação de possível uso. Segundo ela, todos os cartões utilizados eram de beneficiárias da Região Noroeste.

A ex-diretora afirma que foi ela própria, junto com a chefe de Gabinete da pasta, que sugeriu à Tatiana informar pessoalmente ao prefeito sobre o ocorrido, o que foi feito em audiência no dia 20 de abril, com a presença das três.

O prefeito então determina uma série de providências, incluindo que Regina fosse ouvida formalmente.

"Ja bastante nervosa e abalada com o sumiço dos cartões, a declarante buscou em sua memória algum elemento que pudesse esclarecer a situação e fornecer indícios de autoria, recordando-se de que, no dia 12 de abril, dera falta da chave de sua sala, que ficava guardada dentro da gaveta de sua mesa na Gerência de Apoio Administrativo, a qual foi posteriomente encontrada no mesmo chaveiro da chave da sala da Gerência de Conselhos Locais, não se sabendo por qual motivo as chaves de Regina estavam misturadas àquela, nem quem as teria juntado, o que demonstra que terceiros se apoderaram dos chaveiros, sem a devida autorização", diz o termo.

Foi Regina também quem primeiro teve acesso às imagens da câmera da SMPM, antes da solicitação da secretária, e pediu para checar justamente o dia 12. "Inicialmente, não notou nada de suspeito no vídeo, porém algumas imagens chamaram a atenção da declarante." Segundo Regina, Walisson chegou às 13h51 e ficou conversando com três servidoras, incluindo a chefe da Advocacia Setorial da pasta.

"Após, o sr. Walisson sobe a rampa, dirigindo-se ao almoxarifado, onde se encontrou com a declarante (Regina), que ali estava supervisionando a organização e limpeza do local. Após o término do serviço, a declarante decidiu comprar um lanche para as servidoras da limpeza no supermercado próximo e convidou o sr. Walisson a acompanhá-la, saindo por volta de 15h40. Ao retornarem, lancharam com as servidoras na cozinha, após o que Regina saiu para atender telefone em sua sala e, ao retornar à cozinha, o sr. Walisson já teria ido embora, conforme dito por outra servidora ao ser indagada", conta a ex-diretora. As imagens da câmera mostram Walisson subindo a rampa ao lado de Regina.

"Nota-se que o ex-estagiário não é visto saindo do prédio nas filmagens, e também supostamente não estaria mais no prédio após seu fechamento", finaliza o depoimento, assinado por Regina. A data informada é dia 26 de abril e as declarações foram colhidas pelo subchefe da Casa Civil, Valter Ferraz Sanches.

Indicada para a SMPM pela primeira-dama Thelma Cruz, Regina é amiga da família do prefeito e frequenta a mesma igreja. Ela entrou na pasta como recepcionista em 2021, virou gerente, depois chegou a ser secretária-executiva e agora acumulava as duas funções.

A defesa da ex-diretora divulgou nota acusando "fatos inverídicos" na divulgação do caso.

O Renda Família Mais Mulher foi criado pela Prefeitura em 2021, para fornecer auxílio-financeiro a mulheres em situação de vulnerabilidade social. Cada cartão tinha crédito de R$ 1,8 mil, a serem utilizados em estabelecimentos comerciais. Quase 22 mil famílias foram beneficiadas.

Nesta quarta-feira (10), a Deic fez diligências na sede da SMPM, com registros fotográficos do local onde ficavam armazenados os cartões e checagem de informações. A Polícia Civil informou que o inquérito está em sigilo.

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