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Família de Washington Novaes quer reverter alteração em nome de parque em Goiânia

Wildes Barbosa/O Popular
Parque Municipal está localizado no cruzamento das ruas Monsenhor Aldorando Mendes e Gercina Borges Teixeira, no Conjunto Vera Cruz II

A família de Washington Novaes busca reverter a decisão da Câmara de Goiânia que retira o nome do jornalista e ambientalista de um parque inaugurado no Conjunto Vera Cruz II no ano passado. O local foi nomeado sem a apreciação final dos vereadores. Após uma série de movimentações, a matéria apresentada pelo ex-prefeito Iris Rezende (MDB) acabou saindo de pauta e dando lugar a proposta de dar outro nome ao parque, o que foi aprovado na última semana.

O jornalista pioneiro no debate sobre o meio ambiente faleceu em 24 de agosto do ano passado. Após a morte, Iris apresentou, em 29 de agosto, a proposta de dar o nome do ambientalista ao parque que estava próximo de ser inaugurado. Quatro meses depois, próximo do fim da gestão do emedebista, a matéria havia sido aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR), mas faltava apreciação no plenário. Mesmo assim, no dia 29 de dezembro, o prefeito inaugurou a obra com placa dando nome de Washington ao local.

Um mês antes da inauguração, o vereador Clécio Alves (MDB) havia apresentado proposta de nomear o local como Parque Municipal Sargento David Luiz Rodrigues, um dos primeiros moradores do Vera Cruz II. No entanto, como já havia uma proposta em tramitação apresentada pelo Paço, os vereadores deveriam apreciar o texto de Iris. No início do ano, quando assumiu a Prefeitura de Goiânia, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) pediu para retirar as propostas de autoria do Executivo para análise.

Após a retirada da proposta, a matéria de Clécio seguiu em tramitação. No dia 3 de março, o Paço reapresentou a proposta originalmente de Íris, que acabou rejeitada pela Comissão de Habitação, Urbanismo e Ordenamento Urbano (CHUOU). Ocorre que para os trâmites legislativos, como já havia uma propositura em tramitação - a de Clécio - a apresentada pelo Paço perdeu a validade e por isso teve posicionamento pela rejeição da Comissão, ato referendado pelos vereadores, que aprovaram o nome sugerido por Clécio. Agora, o projeto aprovado deve ser apreciado e sancionado por Rogério para ser colocado em prática.

Para Pedro Novaes, filho de Washington, a situação está sendo interpretada como uma “coincidência infeliz”. Ele diz que a família acredita que não há má fé e que o segundo projeto teria sido apresentado sem ciência da proposta de Iris. Pedro conta que a homenagem serviu para a família lidar com a perda e agora o momento tem sido de tristeza diante da situação. “As homenagens nos ajudaram a entender e a dimensionar a importância do trabalho dele”, relata.

“Apesar de que eu entenda que o que está acontecendo não é um gesto deliberado de quem sabia que existia a homenagem e está tentando mudar, fica uma coisa desrespeitosa no final, faz-se uma homenagem e depois alguém vai lá e desfaz”, acrescenta Pedro, que diz que a família tenta dialogar para reverter a decisão.

De acordo com o vereador Clécio Alves, o parque do Vera Cruz teria pouca expressividade, havendo, por parte dele, compromisso de procurar uma nova homenagem ao jornalista. “Ele é um símbolo não de Goiânia, de Goiás, mas fora do Brasil. É uma pessoa que tem minha admiração e meu reconhecimento pelo que ele representou para o meio ambiente”, diz e complementa: “Nós estamos vendo qual seria obra ou monumento ligado ao meio ambiente que tenha a grandeza”.

Reconhecido, jornalista contribuiu com projeto em Goiás

Nascido em São Paulo, Washington Novaes foi um dos primeiros jornalistas brasileiros a se dedicar ao meio ambiente. Além de escrever sobre o tema para diversos jornais do País, ele foi consultor e documentarista. Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), Washington Novaes fez do jornalismo a sua opção de vida. Foi repórter, editor, diretor e colunista em grandes publicações do País. 

Washington foi consultor do Primeiro Relatório Brasileiro para a Convenção da Diversidade Biológica, dos Relatórios sobre Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas, de 1996 a 1998, e sistematizador da Agenda 21 Brasileira - Bases para a Discussão. Na contramão do eixo Rio-São Paulo escolheu Goiânia como cidade para morar, onde seguiu desenvolvendo seus trabalhos e constituiu família. Entre os projetos desenvolvidos em Goiás, esteve à frente do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) da cidade de Goiás.

Além da agenda ambiental, o jornalista se destacou pelos trabalhos de proteção aos povos indígenas. Um de seus trabalhos mais conhecidos é a série de documentários Xingu - A Terra Ameaçada.

Rito de matéria foi respeitado

Em nota, a Câmara Municipal diz que o projeto de Clécio “seguiu todos os trâmites legais de apreciação e votação, até ser aprovado pelo plenário”. Segundo a presidência da Casa, não teria havido “duplicidade de proposituras”, destacando que o prefeito retirou a pauta do Legislativo no início do ano. A devolutiva em 3 de março, no entanto, foi negada apontando o conflito entre as matérias. 

Também em nota, a Prefeitura de Goiânia destaca que a nomeação de locais públicos deve passar pela apreciação dos vereadores. Segundo a administração municipal, a matéria aprovada que deu outro nome ao parque agora tramita na Casa Civil e aguarda pareceres da Procuradoria Geral do Município e Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação para, então, ser enviado ao conhecimento do prefeito Rogério Cruz.

Para a arquiteta Adriana Mikulaschek, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), o nome do parque deveria ser mantido. “Há simbolismo da homenagem se dar em um parque. Se houver a mudança, pode ser mais uma ação da falta de respeito com a nossa memória. As gerações futuras perderiam a chance de ver materializado o nome de alguém com tanta importância”, diz. Sobre a possibilidade do jornalista ser homenageado em outro local, Adriana defende: “Já é a identidade do parque. De repente um parque muda de nome? Ele perdeu o valor? Deveria, se for o caso, ganhar uma segunda homenagem”.
 
Nas redes sociais, a repercussão sobre a possível mudança de nome foi questionada. “Conheci Washington Novaes mais pelo conjunto de suas atuações como ambientalista do que pessoalmente e fico pasma e sem entender o porquê da troca de nomes para o parque ambiental do Conjunto Vera Cruz ll. Insensatez”, escreveu pelo Twitter a ex-deputada federal e ex-primeira dama, Dona Iris, uma das que se posicionaram sobre o imbróglio. 

(Luiz Phillipe Araújo é estagiário do GJC em convênio com a UFG)

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