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Familiares contestam versão de confronto com PM na morte de 3 em Abadia

Wesley Costa
Aeronaves apreendidas em ação policial que resultou em 3 mortes

Familiares de dois dos três mortos em uma ação policial na tarde de sexta-feira (17) em uma chácara próxima à BR-060, em Goiânia, na saída para Abadia de Goiás, contestam a versão dada pela Polícia Militar de que teriam envolvimento com tráfico de drogas e que teriam reagido à abordagem. Na operação, foram apreendidos três helicópteros e, segundo a polícia, cerca de 5 quilos de pasta-base de cocaína, duas pistolas calibre 380 e uma 9 mm.

O terceiro morto na abordagem é Felipe Ramos Morais, de 35 anos, conhecido por ser um dos principais pilotos do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Brasil até 2018, quando levou dois líderes da facção para uma emboscada no Ceará. Em 2021, já era considerado o principal inimigo do PCC por ter delatado diversos esquemas do grupo para conseguir a liberdade. Por causa das delações dele, a polícia conseguiu bloquear R$ 1 bilhão em bens da facção e prender dezenas de pessoas.

Já os outros mortos são mecânicos de aeronaves, Paulo Ricardo Pereira Bueno, de 36 anos, e Nathan Moreira Cavalcante, de 22. Eles estavam no local, segundo seus parentes, para fazer reparos nos helicópteros. A família de Paulo Ricardo entrou na Justiça tentando, sem sucesso, que fosse feito exame para detectar pólvora nas mãos dele e, assim, constatar se ele atirou ou não contra os policiais.

Nem Paulo Ricardo nem Nathan possuem antecedentes criminais. Segundo o pedido feito pela família do primeiro à Justiça, ele não possui envolvimento com armas nem com “qualquer outra atividade ilícita”, nem tem qualquer processo criminal em andamento contra ele, e deixa dois filhos. Para eles, a forma como o mecânico de aeronaves foi morto é “absurda”.

Na versão apresentada pela Polícia Militar, duas equipes do Comando de Operações de Divisas (COD) foram até o local verificar uma denúncia anônima feita por vizinhos de que havia uma movimentação estranha de helicópteros. Ao chegarem na chácara, se depararam então com situação de tráfico de drogas e foram recebidos a tiros, provocando a reação que levou os três suspeitos à morte. Eles entraram pelos fundos, que era aberto. Na apresentação à imprensa, foram feitas imagens de marcas nas viaturas que seriam de tiros efetuados pelo trio.

A reportagem apurou que o local é usado por Felipe “há muito tempo” para manutenção das aeronaves. Alguns vizinhos ouvidos pela reportagem falam que há meses isso ocorria e até comentaram que o piloto demonstrava bastante perícia pela forma como aproximava os helicópteros da chácara. Testemunhas teriam visto na sexta, horas antes da abordagem, um outro helicóptero de cor clara sobrevoando baixo o local e fazendo imagens. “Não era a imprensa?”, perguntou um.

O delegado Alexandre Bruno Barros, responsável pela investigação, disse ao jornal que a partir de quarta-feira serão ouvidos todos os policiais envolvidos na ação e, confirmando o que informou à TV Anhanguera, ainda na sexta-feira, que “a ação em si, da forma como se deu, a quantidade de aeronaves, drogas e armas, até o presente momento aponta que a ação policial foi correta”. Mas ressaltou que o procedimento “está começando agora”.

O comandante do COD, tenente-coronel Edson Luís Souza Melo Rocha, não foi localizado nesta segunda pelo jornal.

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