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FGTS poderá ser usado para pagar creche

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou nesta quarta-feira (4) a flexibilização das regras do jovem aprendiz e a liberação de recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para mulheres custearem creches para os filhos ou cursos profissionalizantes, em uma tentativa de impulsionar a geração de empregos em ano eleitoral.

O público-alvo das medidas é justamente o ponto fraco de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República: mulheres e jovens.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada no final de março, 29% do eleitorado feminino afirma espontaneamente que votará no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, contra 18% em Bolsonaro. No levantamento anterior, a margem era de 30% a 14% para Lula.

Uma MP (medida provisória) assinada pelo presidente prevê a possibilidade de mães trabalhadoras com filhos de até cinco anos sacarem recursos do FGTS para bancar despesas com creche.

O dinheiro não estará disponível imediatamente: uma resolução do Conselho Curador do FGTS vai estabelecer o número de parcelas, o valor dos saques e as demais regras.

A matrícula de crianças de zero a três anos em creches não é obrigatória, mas a lei do PNE (Plano Nacional de Educação) estipula que, até 2024, metade das crianças da faixa etária esteja na escola.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo de outubro de 2021, com base em dados de 2020, mostra que nem um terço (31%) das crianças nesta faixa etária estava em creche no ano passado, o que distanciou o país do cumprimento da meta do PNE.

"Entendemos que, pelo volume de trabalhadores, a medida não vai dar conta de toda a demanda de creches federais", disse o secretário-executivo do Ministério do Trabalho e da Previdência, Bruno Dalcolmo.

Segundo ele, a liberação do FGTS será uma opção adicional à oferta de creches pelo poder público. "Mas obviamente o esforço é bastante grande para ampliar a empregabilidade da mulher, e para isso precisamos de alternativas", afirmou.

A medida do governo anunciada nesta quarta também permite às trabalhadoras resgatar recursos do fundo para investir em qualificação profissional, desde que dentro de uma lista de cursos a ser estipulada pelo governo.

Segundo a secretária-adjunta de Trabalho, Tatiana Severino de Vasconcelos, a intenção é incluir cursos relacionados a engenharias e inovação, áreas geralmente têm remunerações mais elevadas e que costumam ser dominadas por trabalhadores.

O governo também promete a abertura de 250 mil novas vagas de jovens com mudanças no programa de aprendizagem. O presidente também enfrenta dificuldades para alavancar sua pré-candidatura nesse público de eleitores.

O Datafolha divulgado no final de março que, na faixa etária de 15 a 24 anos, o ex-presidente Lula lidera nas intenções de voto, com 51%.

Hoje, as empresas podem contratar jovens de 14 a 24 anos, por um período máximo de dois anos. A MP flexibiliza essas regras para permitir que esses jovens permaneçam como aprendizes por até três anos.

O prazo será estendido para até quatro anos no caso de jovens contratados aos 14 anos ou no caso dos vulneráveis, o que inclui aqueles que integram famílias beneficiárias do Auxílio Brasil. A meta é que 100 mil das 250 mil novas vagas sejam geradas para esse público até o fim do ano.

"O jovem vulnerável tem um déficit grande de formação e precisa de tempo maior para poder disputar uma vaga efetiva [no mercado de trabalho]", disse o subsecretário de Capital Humano do Ministério da Economia, Rodrigo Zerbone.

Os jovens que estiverem frequentando cursos técnicos também poderão ter o contrato de aprendizagem estendido até o máximo de quatro anos.

Para as atividades que exigem idade mínima do aprendiz de 21 anos, como segurança e transporte profissional (como motorista de caminhão), o limite de idade será elevado para 29 anos.

No jovem aprendiz, o empregador precisa pagar o salário mínimo hora, mas tem menos encargos no recolhimento de FGTS, por exemplo. A alíquota é de 2%, menor que os 8% para trabalhadores com carteira assinada.

Zerbone afirma que não há risco de haver substituição de mão de obra, com busca de jovens aprendizes mais experientes para preencher postos que seriam ocupados por outros jovens menos qualificados. "O que a gente está mudando e para incluir jovens mais vulneráveis no programa", afirmou.

Diante da dificuldade de Bolsonaro com o eleitorado feminino, a campanha de reeleição do presidente tem investido em uma maior participação da primeira-dama Michelle Bolsonaro nas agendas do governo para tentar diminuir rejeição entre as eleitoras. Ela esteve ao lado do presidente na cerimônia no Palácio do Planalto nesta tarde.

Ao invés de discursar, Bolsonaro passou a palavra para a presidente da bancada feminina na Câmara, deputada Celina Leão (PP-DF).

"Quero cumprimentar primeiro as mulheres, em nome da nossa primeira-dama, porque ela representa quem a mulher brasileira realmente é: mulher, sensível, doce, para causas sociais", afirmou a deputada.

Em seguida, Celina disse que as "mulheres de bem" precisam saber que Bolsonaro sancionou 66 projetos da bancada feminina.

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