Em 2022, 1.417.771 multas foram aplicadas pelos órgãos fiscalizadores de trânsito em Goiânia, um número que é 9,86% maior do que as 1.290.576 infrações verificadas em todo o ano de 2021. Os dados são contabilizados de acordo com a transparência do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) e incluem os autos de infração emitidos não só pelo órgão, mas também pela fiscalização municipal e federal.Para se ter uma ideia, em dezembro de 2022, haviam 1.291.865 veículos registrados na capital, ou seja, é como se cada um tivesse recebido 1,1 multa.Chama a atenção o fato da quantidade de infrações ter voltado a crescer. A última alta havia sido de 2019 para 2020, quando o total de multas saiu de 1.410.852 para 1.569.029.Segundo o coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-Se, o geógrafo Miguel Ângelo Pricinote, vários motivos podem explicar o aumento das irregularidades cometidas pelos motoristas em Goiânia. Entre eles está a retomada das atividades econômicas e da maior movimentação pela cidade em razão da redução das medidas de combate à pandemia da Covid-19. Outro motivo pode ser uma maior fiscalização eletrônica na cidade.Válido lembrar que os radares na capital, entre outubro e novembro de 2021, ficaram desligados por problemas contratuais e falta de pagamento para a empresa Klopp Tecnologia, conforme ela informou na ocasião. Isso voltou a ocorrer por cerca de uma semana entre março e abril de 2022.Também contribuiu com o aumento das multas em 2022 as autuações dos próprios órgãos fiscalizadores. Uma das infrações que mais foram efetuadas no período é com relação ao artigo 233 do Código Brasileiro de Trânsito (CTB), que se refere a deixar de efetuar o registro de veículo no prazo máximo de 30 dias.Falta de registro Entre 2021 e 2022, houve alta de 38.137 autos de infração pela falta do registro no período indicado. Segundo o Detran-GO, “com o efeito de não fiscalização devido à pandemia, que em 2021 se encontrava no auge, o número de autuações foi reduzido”.O órgão informa que houve um aumento no número de autuações com o retorno das fiscalizações. “Outra situação levantada pela equipe de Fiscalização são as dificuldades econômicas enfrentadas no período de crise pelos proprietários de veículos.”O Detran-GO diz que “foram, e ainda estão sendo realizadas, ações para a redução no número de autuações desse tipo; dentre elas, o parcelamento do pagamento disponibilizado por empresas credenciadas e disponibilizadas pelo Governo do Estado e produção de material informativo para regularização das mesmas”.Para Pricinote, de toda forma, os números confirmam o que se tem no dia a dia e na percepção de quem anda pela cidade: o goianiense continua desrespeitando as normas. “O trânsito é um tripé de engenharia, fiscalização e educação. Em Goiânia há falha em todos eles e não é só nessa gestão, já tem tempo.”Segundo o especialista, é importante que a cidade tenha uma secretaria de mobilidade, mas seria necessário um órgão a parte para o trânsito, com autonomia de uma empresa para poder fazer convênios, projetos e a fiscalização.“A minha sensação é que Goiânia abandonou mesmo uma melhoria no trânsito. Temos coisas pontuais, mas não se tem um projeto e sem isso é difícil explicar para a população a razão das mudanças. Nesse tripé, nenhum está caminhando bem.” Ele afirma que uma demonstração das falhas na educação é o alto número de infrações em que os motoristas têm conhecimento da irregularidade e sem necessidade de sinalização.Comportamento Em 2022, 36.238 infrações foram autuadas pela falta de uso do cinto de segurança e 31.244 em razão do uso ou manuseio do celular enquanto dirige. A Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), informa que ambas as multas demonstram “o quanto o fator comportamental está intimamente ligado a quantidade e severidade desses acidentes e lesões na capital”.A pasta informa que a Educação de Trânsito atua de “forma educativa em escolas, faculdades e empresas com objetivo de conscientizar e chamar atenção para a gravidade desses números e a responsabilidade ao conduzir um automóvel”.Entre as multas que mais foram recorrentes em 2022, estão as mesmas dos topos dos rankings desde 2019. São elas o excesso de velocidade em até 20% acima do limite permitido e o estacionamento irregular. O primeiro caso tem sua fiscalização a partir dos radares eletrônicos.Sobre os estacionamentos, a SMM considera que “trabalha de forma preventiva e corretiva com aproximadamente 20 equipes espalhadas pela cidade nos turnos manhã, tarde e noite com objetivo de orientar, coibir e autuar as diversas irregularidades encontradas no patrulhamento diário”.A secretaria informa que vias como a Rua 87, no Setor Sul, e Rua C-148, no Jardim América, e outras com estabelecimentos/polos geradores de maior fluxo no trânsito, demandam uma maior atenção da fiscalização.