O fisiculturista e nutricionista Igor Porto Galvão, de 31 anos, mudou a versão sobre a morte da sua mulher, a dona de casa Marcela Luise de Souza Ferreira, também de 31, e admitiu que a empurrou durante uma discussão na residência do casal, na tarde de 10 de maio. Na ocasião da queda e depois, em depoimento à Polícia Civil, ele havia dito que ela escorregou limpando urina dos cachorros no chão da casa. Na nova narrativa, dada à Justiça em 14 de agosto, a dona de casa bateu a cabeça na parede e no chão após o empurrão.Igor está preso desde 18 de maio e responde por feminicídio, suspeito de ter espancado a mulher. Marcela Luise morreu no dia 21 do mesmo mês após passar 11 dias internada com fraturas e ferimentos que, segundo a Polícia Civil, foram decorrentes de agressões por parte do marido. As investigações mostraram que a dona de casa viveu uma relação de nove anos com o fisiculturista marcada por violência física, ofensas e ações intimidatórias e de isolamento familiar. O casal tinha uma filha de 5 anos de idade.A morte de Marcela Luise chamou a atenção da sociedade pela gravidade dos ferimentos encontrados no corpo da dona de casa, entre eles algumas lesões cerebrais. Perícia apontou que eram da mesma gravidade de como se ela tivesse sofrido um acidente de carro. Além das fraturas, os profissionais que a socorreram notaram tufos de cabelo arrancados pela raiz. Quando Igor contou aos pais da vítima que ela teria se machucado ao escorregar, eles desconfiaram da versão e foram procurar a polícia para registrar a ocorrência.Nova versãoA nova versão foi dada por Igor durante audiência de instrução e julgamento, fase do processo em que a Justiça decide se o réu irá ou não passar por um júri popular. Questionado sobre o motivo de não ter falado sobre o empurrão antes, o fisiculturista afirmou que não foi perguntado na época e que estava muito abalado. “Eles não perguntaram mais nada. Eu tava muito conturbado, tinha sido uma coisa muito estranha aquilo tudo, foi muito assustador e desesperador e eu nunca tinha visto a minha mulher daquele jeito”, comentou.Antes do interrogatório dele, entretanto, foram ouvidas testemunhas que corroboraram a versão do acidente doméstico. Um casal de amigos e clientes dele que esteve na residência horas antes do fato e voltaram à noite ao saberem da internação de Marcela Luisa comentaram à Justiça que Igor falou em acidente doméstico, com a dona de casa tendo escorregado no piso molhado enquanto limpava a urina deixada pelos cachorros da família.Igor narrou à Justiça que, após ele atender como nutricionista um casal de amigos na residência, a mulher dele foi limpar a urina no piso e se aproximou do computador dele, que estava ligado, percebendo que ele visualizou a rede social de uma ex-amante. Com isso, ainda segundo o réu, os dois teriam iniciado uma discussão e ele a empurrou. “Ela teve um ataque de histeria e do nada começou a me estapear. Nisso, eu peguei e dei um grito com ela: ‘sai daqui!’ e empurrei ela. Ela escorregou, bateu a cabeça na parede e depois no chão.”Em depoimento no dia 21 de maio, Igor se recusou a responder as perguntas da Polícia Civil. A defesa dele também não se manifestou sobre o dia do crime ao enviar as respostas à acusação, etapa que antecede a realização da audiência de instrução e julgamento. Entretanto, a versão sobre a queda da própria altura após escorregar passando pano no piso da residência foi relatada por amigos, parentes e pela equipe médica que atendeu a dona de casa no pronto-socorro para onde ela foi levada.No interrogatório, Igor também falou sobre como seria o relacionamento, afirmando que ambos se amavam muito e que apesar de a relação claramente não dar certo, eles não conseguiam se separar. “Toda vez que tentava sofria e voltava.” Ele reconheceu que chegou a levar uma amante para a casa na presença da dona de casa, mas diz que fez isso em um momento no qual o casal estava separado e morava junto para cuidar da filha. Ele negou qualquer violência física durante a relação, que durou nove anos.A versão sobre o empurrão já foi insinuada pela defesa de Igor em declarações à imprensa. Em entrevista ao site Metrópoles no dia 24 de maio, o advogado Thiago Marçal havia dito que a estratégia da defesa seria questionar a perícia, uma vez que ao mesmo tempo que apontava que as lesões não foram causadas por queda também não teriam apontado que foi por agressão. Neste momento, Thiago afirma que “ação contundente” poderia ser até um “empurrão”, de acordo com o site. “Não estou dizendo que foi um empurrão, mas prevalece uma incerteza.”Sobre os fatos após a queda, Igor contou que Marcela Luise começou a ter convulsões depois que caiu e foi colocada por ele no sofá “até voltar a si”. Em seguida, ele quis levá-la para o hospital, mas ela pediu um tempo “para respirar”, pediu para ir tomar banho e no chuveiro voltou a passar mal, caindo no chão. Foi então que ele a levou até um pronto-socorro. Para a polícia, Igor providenciou o banho para esconder parte dos ferimentos causados durante o espancamento.“Histórico” de fraturasO réu foi questionado sobre os ferimentos identificados pela perícia no corpo de Marcela Luise e afirmou que ela tinha um “histórico” de fraturas, que sofreu pelo menos três acidentes automobilísticos e que as fraturas identificadas nas costelas podem ter ocorrido nestes casos. A perícia encontrou oito costelas fraturadas, além da clavícula. O fisiculturista disse que demorou 25 minutos entre a queda e a chegada no pronto-socorro, porém para os profissionais de saúde, as convulsões que ela teve no hospital indicam que houve uma demora para o socorro.Em maio, o jornal mostrou que as investigações apontavam uma vida de medo e humilhações por parte da dona de casa, em que ela não conseguia se livrar da relação, principalmente após a gravidez. Com o tempo, ela foi se afastando da família e amigos, e foi vista com machucados no rosto pela vizinhança. Um dos fatos narrados por uma amiga foi quando a vítima ligou há alguns anos desesperada pedindo dinheiro emprestado para comprar uma televisão nova, pois a filha ainda bebê havia quebrado a da residência e ela não queria que o marido descobrisse.Após a audiência realizada no dia 14, a defesa e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) têm um prazo para apresentar as alegações finais para análise da Justiça. Então é decidido se o réu vai ou não para o júri popular. Igor segue detido no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.