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Goiás fica abaixo da cobertura ideal em nove vacinas desde 2019

Wildes Barbosa
Paula e Thiago levam o filho Lucas, de 3 anos, para vacinar em Goiânia

Os municípios goianos não atingem, desde 2019, a cobertura recomendada de nenhuma das nove principais vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI). O alcance contra a poliomielite, que chegou a ser de 100% em 2013, agora está em 75%. No mesmo período, a imunização contra a febre amarela caiu de 100% para 62%. Diante de índices que reduziram quase metade entre os últimos 10 anos, especialistas chamam atenção para registros de doenças antes consideradas erradicadas e risco de reaparição de outras.

O PNI estabelece metas específicas para cada uma de suas 19 vacinas, indo de 90% a 95%. Pelos registros disponíveis dos últimos dez anos, o estado alcançou a meta de todas apenas em 2013. Os anos seguintes foram de quedas sucessivas, que aceleraram de forma abrupta a partir de 2019. A BCG, que protege contra a tuberculose, com recomendação de cobertura mínima de 90%, tinha 93% em 2018 e caiu para atuais 76%. A tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, alcançava 95% até 2015 e atualmente está em 81% (confira o quadro).

A médica imunologista Lorena Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), destaca que não há tratamento específico para a maioria das doenças controladas pelo PNI e por isso a vacinação é fundamental. A especialista cita como exemplo daquelas sem tratamento específico a paralisia infantil, o tétano, o sarampo, a rubéola e a febre amarela. “O tratamento destas doenças, que na grande maioria são graves, são somente de suporte e muitas delas têm um prognóstico ruim ou riscos de sequelas”, afirma.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) cita que em 2018 houve o retorno da circulação de sarampo, o que fez o Brasil perder o título de País livre dessa doença, que havia sido concedido em 2016. Em Goiás foram 15 casos em 2019 e cinco em 2020, sem outras confirmações nos anos seguintes. Em casos mais graves a doença é fatal. Entre os 40 mil casos registrados no País entre 2018 e 2021, 40 vieram a óbito.

Explicações

A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems), Verônica Savatin, avalia que o principal fator por trás da redução nas coberturas é o movimento antivacina. “Era algo que já vinha nos assombrando antes da pandemia. Com a chegada da Covid-19 isso ganhou muita força”, destaca sobre o movimento contra a vacinação que se abastece de notícias falsas e conspiração.

O impacto do movimento antivacina também é citado pela médica infectologista Marianna Tassara. No entanto, acrescenta a influência da redução das visitas aos postos de saúde durante o período da pandemia. “Foi um momento onde ficar em casa era mais seguro e quando começamos a sair, ainda ficou restrito. Por isso as vacinas foram deixadas de lado, com foco maior nas vacinas contra a Covid-19”, diz.

Outro ponto, este levantado pela médica Lorena Diniz, é a falta de percepção de risco por parte da população. “Quando alcançamos altas coberturas vacinais, atingimos o objetivo de diminuir a circulação do patógeno e então conseguimos controlar o número de casos e gravidade da doença. Isso traz uma baixa percepção de risco, porque simplesmente os casos deixaram de acontecer em maior gravidade ou mesmo de existir pela erradicação”, afirma.

A servidora pública Paula Garibaldi, de 34 anos, que levou o filho para ser vacinado nesta quarta-feira (8), em Goiânia, diz que a percepção principal é de influência das notícias falsas. “Muitos estão contaminados pelo que recebem em redes sociais e se esquecem dos benefícios que vivemos de verdade, com o desaparecimento de doenças após a chegada das vacinas”, diz. Com a notícia de redução na cobertura, a mãe diz ficar preocupada. “É algo que depende de todos, mesmo que meus filhos estejam vacinados”, afirma.

Ainda que haja elementos que ajudam a explicar o fenômeno, a infectologista Marianna diz que voltar para períodos com baixa cobertura vacinal é uma surpresa negativa. “Muito me assusta as pessoas colocarem em xeque estas substâncias, sejam gotas ou injeções, que salvam milhares de vidas há anos”, avalia.

O caminho para a retomada, conforme as especialistas consultadas, deve ser longo. Verônica Savatin, do Cosems, diz que a baixa nas coberturas é um desafio que será árduo para as gestões. “Temos que lembrar para as famílias quais os riscos envolvidos. Além da questão principal, que é a da saúde, uma doença muda todo o contexto familiar, com gastos e dificuldades”, considera. A saída, afirma, passa por campanhas conjuntas e ininterruptas.

Saúde descarta suspeita de casos de rubéola em Goiânia

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia descartou, nesta quarta-feira (8), a suspeita de rubéola em quatro estudantes de um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei), na região Sudoeste de Goiânia. Os exames realizados no Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO) deram negativo para a doença, além de sarampo e dengue.

No comunicado, a SMS destacou que não há registros da doença nos últimos dois anos. Apesar disso, em 2022, segundo dados parciais, a cobertura vacinal contra a doença na cidade foi 65,7%, considerada baixa. Mesmo sem casos confirmados, Goiás já registrou pelo menos outros três casos suspeitos desde o ano de 2020.

Com o resultado negativo dos exames, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que a unidade de ensino em que as crianças convivem receberá uma pulverização contra o mosquito Aedes aegypti na sexta-feira (10). “As crianças, segundo o atestado médico, já podem retornar à unidade de ensino”, explicou. 

O Lacen, responsável pelos exames, diz que as amostras seguem sendo analisadas para descartar a possibilidade de outras doenças infecciosas. “Os resultados estão sendo analisados pela equipe da vigilância”, acrescenta.

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